Crítica: Doutor Estranho (2016)

Mais uma produção da Marvel Comics, Dr. Stephen Strange (Cumberbatch) é um neurocirugião que inúmeras vezes insiste em se autoafirmar como o melhor médico já existente. Produto de uma mistura de Dr. House e 007, ele é um personagem arrogante, egoísta e ambicioso, sempre aceitando novos desafios para se superar na medicina.

Acreditando também ser invencível, tudo muda quando ele sofre um acidente, enquanto analisava documentos médicos, apenas para perder os movimentos do único instrumento que o identificava na vida: suas mãos. Assim, busca incessantemente por alternativas para achar uma cura. Mesmo teimoso e cético, Stephen Strange encontra-se compelido a ir a Katmandu, para um tratamento espiritual, como sua última esperança.

Esse filme é um belo exemplo de como a tecnologia CGI e 3D funcionam perfeitamente bem na profundidade de campo.  Lá, a Anciã (Swinton) o apresenta a um mundo completamente diverso da sua realidade, o Multiverso, um conjunto de mundos alternativos em uma viagem psicodélica de sua aura espiritual, composto por um ambiente de cores vivas. Neste sentido, já denotamos uma grande eficiência do design de produção, com efeitos visuais que impressionam. As realidades e, principalmente a Dimensão Espelhada, atribuem outro nível ao filme A Origem e demonstram grande habilidade.

No geral, a narrativa flui de maneira natural e as cenas de ação são bem coreografadas, no entanto, os planos tremidos excessivos não permitiram que as técnicas mencionadas pudessem ser apreciadas.

Em relação aos atores, Benedict Cumberbatch já provou seu talento em grandes filmes e séries de televisão, como Sherlock, O Jogo da Imitação, entre outros, e, neste, ele consegue manter a empatia do espectador de forma carismática, tendo em vista que é um pouco fácil odiá-lo no início devido à sua difícil personalidade. Tilda Swinton tem uma atuação perfeita como a Anciã, uma pessoa com imensa sabedoria, paciência e força. Ainda, Mordo, interpretado por Chiwetel Ejiofor também consegue se sair muito bem, apesar de possuir um arco dramático um pouco superficial. Infelizmente, os demais personagens restaram prejudicados na trama.

A personagem de Rachel McAdams (Tudo Vai Ficar Bem, Diário de Uma Paixão e Spotlight), Christine Palmer, por exemplo, é um grande desperdício de talento. A sua presença é limitada, apenas quando conveniente e, ainda, o relacionamento entre ela e Strange é nada aprofundado. Há um lindo símbolo do relógio quebrado, cujo foco em plano detalhe sempre nos remete a um amor representado por algo que funciona, mas está quebrado na superfície. Contudo, a falta de desenvolvimento apropriado faz com que em algumas vezes até esqueçamos que um dia eles foram um casal e que, portanto, que persiste um interesse amoroso.

doutor-estranho5

Kaecilius (Mads Mikkelsen de 007 – Cassino Royale) carrega uma maquiagem maravilhosa, mas ele é um vilão que não ficou à altura do herói protagonista. O que mais incomoda, na realidade, é que toda a sua história, todas as suas motivações são resumidas em diálogos expositivos – incluindo um que ele tenta unir Strange para a Dimensão Negra – e o filme gasta um tempo relativamente longo nisso. Dormammu, em contrapartida, se torna um personagem muito mais intimidador e mais interessante.

Outro grave defeito são as constantes piadas. Elas começam bem no primeiro ato, cujo tom cômico vem principalmente do protagonista. Porém, na medida em que a história avança, elas perdem cada vez mais o ritmo da narrativa, prejudicando, assim, o impacto dramático que algumas cenas deveriam ter. Uma delas, por exemplo, serviria para engrandecer um momento heróico que é cortado na sequencia pela risada de outro personagem.

Mesmo assim, Doutor Estranho tem uma grande mensagem – ainda que um pouco clichê – acerca da sensibilização de um homem calculista e rigoroso, um homem que pensa dentro do quadrado das ciências e, assim, supera o seu ego, para abrir sua mente a outras possibilidades, para um complexo de universos que transcendem a racionalidade.

Dessa forma, o filme é exitoso em traçar uma linha de comparação muito interessante entre salvar vidas através da medicina, das leis da natureza, e também das forças místicas.

Observação: Não saiam do cinema! Há cenas adicionais durante o crédito que anunciam a sequencia de Thor, e ao final dos créditos, cenas que anunciam a continuação de Doutor Estranho.

Direção: Scott Derrickson.

Roteiro: C. Robert Cargill e Scott Derrickson.

Baseado em Doutor Estranho de Stan Lee e Steve Ditko.

Elenco: Benedict Cumberbatch, Chiwetel Ejiofor, Rachel McAdams, Benedict Wong, Michael Stuhlbarg, Benjamin Bratt, Mads Mikkelsen, Tilda Swinton.

Avaliação: 3,0/5,0

Texto originalmente publicado em 09 de novembro de 2016.

Mais do NoSet

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *