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FILMES CRÍTICAS

“Tempestade – Planeta em Fúria”. Por que brincar de Deus se a índole ainda é humana?

“Tempestade – Planeta em Fúria”. Por que brincar de Deus se a índole ainda é humana?
  • Publicado em: novembro 3, 2017

Filmes-catástrofe tendem a ser exagerados, algo provocado pela preocupação de produtores, diretores e roteiristas em impressionar. Tempestade: planeta em fúria (Geostorm) é uma produção cujo visual impressiona em algumas partes, mas não há grandes novidades quando comparado aos recentes filmes do tema.

A trama se baseia em um questionamento que é proveniente dos tempos do projeto Guerra nas Estrelas ou  Iniciativa de Defesa Estratégica (SDI em inglês). Até que ponto algo benéfico para a humanidade (mas com poder destrutivo) pode ser gerenciado por um pequeno grupo? No caso do citado, teríamos uma barreira física feita por armamentos capazes de desintegrar mísseis enviados contra o território estadunidense, mas isso não impediria o acionamento como arma pela simples vontade de um grupo ou o próprio presidente dos Estados Unidos (Ronald Reagan na época). Em Tempestade há uma estação espacial que controla – literalmente – o clima no planeta, após várias tragédias geradas pelas mudanças climáticas (algo até condizente, se levarmos em conta a realidade atual). A Estação Espacial Internacional no filme é gerenciada por seu criador, o engenheiro Jake Lawson (Gerard Butler) e tudo corre bem até que ele é sumariamente afastado do cargo.

Desconfiança.

Jake é afastado e substituído por seu próprio irmão, Max Lawson (Jim Sturgess). Isso é visto como alta traição por Jake e dois anos se passam até que um problema com a Estação Espacial alerte para um problema tão sério que só o próprio criador do projeto possa resolvê-lo.

A direção de Dean Devlin se encaixa bem para um filme desse gênero. Ele consegue, através do roteiro, dar credibilidade ao Projeto e integrantes deste com certa facilidade. Durante grande parte do longa o espectador irá acreditar que certos personagens são bons e que outros são maus. Há boas reviravoltas e cenas de impacto feitas com muita qualidade com base nas crenças estabelecidas. Ponto para a direção e roteiro.

Interpretações.

Apesar de ser um filme que não exige tanto por parte dos atores, é possível ver interpretações convincentes na maioria dos atores. Apenas Max, irmão de Jake, não ganha a força necessária nas cenas de drama. O ator Jim Sturgess não é ruim, porém não se inseriu na personagem a ponto de acreditarmos em seu sofrimento ou angústias. E é bom frisar que diante da possibilidade de uma tragédia global e com o irmão correndo risco de morte, sofrimento e angústia são sensações inevitáveis.


A boa atriz Abbie Cornish (Robocop) ganha vulto conforme a trama evolui. Sua personagem, a agente Sarah Wilson, tem momentos bons, ainda que muito aquém do que vimos com Charlize Theron em Atômica, apenas para comparar.

O maior destaque fica com a jovem atriz Talitha Bateman (Hannah) que faz a filha de Jake. Ela atuou bem no recente Annabelle 2 e repetiu uma boa atuação nesse blockbuster.

Gerard Butler dá vida ao Jake Lawson, mas alguns exageros do enredo acabaram por minimizar a credibilidade do papel. A escolha dos atores de alguns personagens foi incrível, principalmente do ator egípcio Amr Waked (O Beijo do Dragão). Seu aspecto mais bruto leva o público a associá-lo logo a algo ruim. Amr interpreta o francês Ray Dussette.

Ute Fassbinder (Alexandra Maria Lara) é a comandante da Estação Espacial. A comandante se mostra desconfiada do jeito irreverente e prepotente de Jake, porém se mostra uma mulher de fibra e digna de confiança. Novamente a personagem perde pertinência com o final da trama que lhe atribui características incompatíveis com a situação e o ambiente em que estão. Ponto negativo para o roteiro e direção.

Ambientações.

Além da vila no Afeganistão, várias outras localidades são mostradas ao redor do mundo. O longa nos conduz por meio de subtramas onde personagens secundários vão tendo suas vidas alteradas por causa do “descontrole” da Estação Espacial que, inclusive, é uma das mais presentes ambientações em Tempestade.

Caso vocês tenham visto Interestelar e Gravidade, certamente não ficarão tão impressionados com a Estação Espacial, o que não diminui sua pertinência na trama e também a boa representação dela. As partes internas são bem construídas e as locações externas no espaço ficaram muito boas. O que enfraquece um pouco são as cenas de ação/desastre no espaço. Só para ilustrar, um contratempo arremessa um dos tripulantes que se choca várias vezes na fuselagem da Estação. Pedaços da fuselagem se desprendem e é possível ver o corpo se chocar contra o metal sem quaisquer complicações maiores. Faltou coerência em algumas cenas, algo motivado, talvez, pela importância da personagem ou dos atores envolvidos.

As cidades atingidas pela Estação Espacial estão bem caracterizadas, principalmente a China. Já na etapa do Rio de Janeiro (algo parecido com Copacabana), as cenas ficaram estranhas, talvez por não ter identificado o lugar. Na hora em que as ruas são mostradas, nada de Rio foi visto. Isso poderia ter sido evitado com um simples Street View para dar um pouco mais de fidelidade. Já que investiram pesado em CGI para criar os efeitos do maremoto e outras catástrofes, o que faltou para fazer um Rio de Janeiro mais realista?

O desenrolar da história.

Ao analisar friamente o longa, é inegável que a história tem um potencial incrível. A hipótese de controlarmos definitivamente o clima através satélites é muito boa e algumas das cenas têm grande apelo visual. Entretanto há pontos que destabilizam a produção: excesso de patriotismo (o Presidente dos EUA tem uma frase onde ele mesmo se exalta) que ficaria muito melhor em doses mais moderadas; o final feliz e incompatível com a catástrofe espacial; efeitos perceptíveis em algumas cenas; a já citada falta de pesquisa pelas localidades atingidas pelos satélites. Tudo isso comprometeu uma obra que poderia ter sido muito melhor e mais impressionante. Economizaram em alguns elementos e isso, literalmente, custou caro.

As cenas de fuga e perseguição estão em sua maioria boas. A reviravolta foi bem aplicada e o final estava condizente até o ponto em que optaram por criar um herói nacional. Assim como em Independence Day e outras obras sobre catástrofes, a inclusão do nacionalismo exagerado e de uma “redenção’ do protagonista enfraqueceram o enredo que seria bem mais surpreendente caso os produtores optassem por fazer um blockbuster puro e simples, ao invés de uma jornada do herói pouco crível.

A mistura de filme-catástrofe com espionagem e alta tecnologia até que se encaixou bem. Há, contudo, pontas a aparar que deixariam o filme menos parecido com seus antecessores.

Seja como for, a diversão está garantida… desde que você não se aborreça com os detalhes que citei.

 

Written By
Franz Lima

Escritor de contos de terror e thrillers psicológicos, desenhista e leitor ávido por livros e quadrinhos. Escrever é um constante ato de aprendizado. Escrevo também no www.apogeudoabismo.blogspot.com

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