Crítica: Hypnotic – Ameaça Invisível

Dentre as diversas peculiaridades da televisão brasileira dos anos 1990, quando a programação não tinha freio em busca do Ibope, um dos personagens mais presentes, principalmente em programas do saudoso Gugu Liberato, era o hipnotizador Fabio Puentes. Com seu sotaque castelhano e se autointitulando um dos maiores hipnotizadores do mundo, ao vivo, fazia as pessoas (com sua força da mente) comerem cebola e dizerem que era maçã, dormirem no palco ou acharem que estavam peladas. Tudo isso com seus incríveis poderes. Nessa semana, estreia nos cinemas um novo longa, com Ben Affleck e direção de Robert Rodriguez, que usa como mote a hipnose, falo de Hypnotic – Ameaça Invisível (Hypnotic, 2023), trama que devido ao poder dos hipnóticos, deixaria Fabio Puentes literalmente no chinelo.

O policial Danny O’Rourke tem um trauma pesado. Sua filha Minnie, de sete anos, simplesmente sumiu em um dia numa praça, provocando uma culpa que fez Danny se afastar do trabalho. Quando volta à labuta, recebe uma pista sobre a filha e uma ligação anônima de que um banco será assaltado. Ele e seu parceiro Nicks cercam o banco, mas acontecimentos estranhos, como pessoas acima de qualquer suspeita serem coniventes com o assalto, como se estivessem em transe, fazem o assalto dar certo e um homem chamado Dellrayne é o principal suspeito. Danny então, pra tentar entender o que está rolando, consulta Diana, uma cartomante que explica que Dellrayne é um hipnótico, seres humanos com poder especial que podem controlar a mente de outras pessoas. Diana é uma delas e Danny, cético ao extremo, além de não acreditar, não consegue ter a mente controlada por eles. Só que nesse ínterim, é suspeito de ter matado seu colega de profissão e desconfia que o paradeiro de sua filha está envolvido com os hipnóticos, o que  faz com que ele e Diana cruzem a fronteira até o México e descubram que existe uma organização poderosa por trás disso tudo e o que  eles vivem pode ser apenas uma mera ilusão.

 

Não diria que Hypnotic é ruim. Ele tem 90 minutos com boas cenas de ação, uma história que prende até certo ponto, com diversos plot twist, atuações interessantes, enfim… é um passatempo razoável. Mas o grande problema do filme é que ele é extremamente confuso e não se decide se é uma ficção científica, um filme de terror com vilões com super poderes ou um veículo de ação pro Ben Affleck aparecer. Diversos filmes como Scanners – Sua Mente Pode Destruir, Chamas da Vingança ou até Minority Report formam a salada mista da trama. Mas tudo de uma maneira tão embaralhada, que devido à complexidade que tentam dar a uma obra rasa, acaba dando um bug mental no espectador. Se tivesse talvez focado apenas na hipnose, poderia ter sido um filme mais de embate entre o bem e o mau, mas a necessidade de juntar tanta coisa na trama como dramas pessoais, segredos do governo dos Estados Unidos e grupos secretos, tudo muito mal costurado acaba fazendo o filme ser uma roubada daquelas. Com certeza será um fracasso na carreira de Affleck e acaba num Domingo Maior, ou Tela Quente, picotado, numa sessão de verão da Globo… e isso que estou sendo generoso.

A parte técnica também pouco funciona, trilha sonora monótona que para a tal alardeada magnitude do filme pouco empolga, fotografia escurecida demais ou opaca nas cenas ao ar livre, isso que a trama se passa no calor do Texas. Efeitos especiais canhestros também pouco contribuem no pobre trato visual da película.

Ben Affleck até que tenta dar seu ar da graça como o perturbado e cada vez mais confuso Danny, mas sua atuação serve mais para reforçar seu estereótipo de galã e é recheado de frases mais vazias que um prato de comida pós rodízio de pizza. Alice Braga, hoje afirmação total no mainstream de Hollywood, também está à vontade no filme, mas seu papel é tão confuso e a insistência de conectá-la à eterna figura da latina mais atrapalham que ajudam a atriz, mas mesmo com tudo isso, se mantém com salva-vidas boiando no naufrágio que é o filme. William Fichtner começou bem como o vilão hipnotizador e tinha tudo para ser uma temível ameaça, mas acaba, com as constantes reviravoltas do filme, perdendo o fôlego de sua ameaçadora persona.

Hypnotic, com suas reviravoltas, que às vezes soam absurdas, suas saídas conspiratórias e a tentativa de mostrar que tudo aquilo pode ser ou não ser realidade, acaba dando um bug mental no espectador que em uma hora e meia termina não entendo mais bem quem é quem na trama, mesmo com uma tentativa de explicar tudo, mas que pouco explica no fim. É um filme pra se ver no cinema se não tivermos mais opção alguma, e como sempre falo, desligar o cérebro, porque mesmo com ele ligado não sabemos se tudo aquilo que estamos vendo é um filme, ou custamos a acreditar como tiveram coragem de fazer um filme desastroso desses… Às vezes é melhor comer uma cebola pura pensando ser maçã, sendo hipnotizado por nosso ídolo Fabio Puentes, que engolir o excesso de pretensão do filme, que por incrível que pareça, pode ter continuação… haja hipnose pra aguentar isso…

 

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