Crítica: Contra o Mundo

Às vezes o cinema nos surpreende. Tem filmes que são tão ruins, mas tão ruins, que acabam virando um grande barato e por tamanha ruindade acabam divertindo o espectador. Mas quando (na maioria das vezes) o filme é ruim, só piora no desenvolver na trama e a experiência cinematográfica vira um martírio. E um dos casos que falo é Contra o Mundo (Boy Kills World, 2024), com direção de Moritz Mohr, candidato forte a um dos piores filmes do ano (e isso que nem chegou em maio ainda). O filme (ou a tortura) estreia quinta-feira nos cinemas brazucas.

Em uma sociedade do futuro, a Terra é governada por uma tirana família, os Van der Koy. Existe uma sádica caçada, onde anualmente a cruel Hilda Van der Koy, captura 12 cidadãos, ditos subversivos, e acaba em um show, com público e tudo, matando a todos, causando cada vez mais medo na população. Em dos massacres, um garoto assiste a mãe e a irmã serem mortas e acaba sendo salvo por um misterioso xamã, que cria o garoto como uma arma de ódio. O garoto, surdo e mudo, vai crescendo, treinando forte nas selvas suas aptidões de lutas marciais e manejo de armas e só tem como desejo matar a família Van der Koy, principalmente a sádica Hilda.

Com Sam Raimi como um dos produtores, roteiro (se pode chamar aquilo de um) de Tyler Burton Smith e Arend Remmers, baseado numa história de Remmers com o diretor Moritz Mohr, Contra o Mundo fracassa em quase todos os sentidos. Se quer ser engraçado, passa longe, com piadas patéticas que no máximo causam risinhos constrangedores. Se pretende ser um filme distópico e apocalíptico, a total falta de enredo e plausividade da trama já descarta isso. Ação… enfim, o filme é ação pura, mas nada mais que uma matança desenfreada, com direito a sangue pra tudo que é lado, membros partidos, cabeças esmagadas e tiros dilacerantes. Mas tudo numa proposital descartabilidade que não sabemos se o diretor quer levar a sério aquele circo dos horrores sem sentido de matança e frenetismo de lutas.

Pode-se alegar que o filme é uma bela homenagem aos inúmeros games de ação, desde o figurino do garoto, o nosso herói, ou a voz interior que ouve, inspirada na voz de seu jogo preferido, e que a cada etapa do filme parece que se passa uma fase que se chega até o boss que irá libertar, no caso o garoto, ou acabar com o jogo. Mas tudo isso é feito de uma forma, por mais agitada que seja a trama, de uma maneira aborrecedora, já que o filme não tem um roteiro em si. Personagens tiranos mais caricatos impossível, um xamã das florestas misterioso, uma segurança pessoal dos guardas que é praticamente o garoto, mas do sexo feinino, tamanha destreza e letalidade nas lutas. Até os caras que ajudam o garoto a se infiltrar na fortaleza dos Van der Koy, que supostamente seriam os escapes humorísticos, são muito ruins para fazer rir e péssimos como ajudantes do garoto.

E para piorar, as cenas de lutas, combates e enroscos no filme são deveras longas. Bem coreografadas, na maioria das vezes, mas nada que já não tenhamos visto em produtos muito melhores como John Wick, Old Boy e filmes asiáticos de artes marciais. Em suma, de tanto excesso visual sanguinolento, tudo se torna cansativo e enche mais o saco que empolga.

Bill Skarsgard não faz feio como o garoto, sendo que a sua função no filme é lutar, já que nem fala e sua voz interior é realizada por H. Jon Benjamin. Não compromete, mas não apresenta absolutamente nada. Jessica Rothe também é mal aproveitada, aparecendo, na maioria das vezes de capacete, e a única que tenta dar um ar mais robusto à personagem, a terrível Hilda, é Famke Janssen, mas mesmo assim, nos escassos momentos que o filme tenta dar um sentido à história. Yayan Ruhian, como o xamã, tem bons momentos de luta, mas não foge do estereótipo de sempre.

Até quando o filme tenta carregar no drama, explorando a tragédia familiar, e uma certa mudança no roteiro, o plot twist é previsível e em nenhum momento conseguimos levar aquilo tudo a sério.

Contra o Mundo é também contra a inteligência e paciência do espectador. Um filme sem pé nem cabeça, não acrescentando em nada para o cinema de ação, com sequências óbvias seguidamente repetidas por diversos filmes com muito mais impacto. Claro, se você deixar o cérebro em casa e quiser ver sangue, vísceras, tiros e lutas que não acabam nunca, num videogame de quinta categoria filmado, perca seu tempo e dinheiro nesse esquecível abacaxi, que tem tudo para ser jogado no limbo da história, ao lado de tantos filmes pavorosos. Assista por sua conta e risco.

 

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