Crítica: Abigail

Se existe uma temática que dificilmente sai de moda no gênero de horror são obras ligadas ao vampirismo. Desde os primeiros filmes de terror da história, seres com caninos pontudos e com sede sangue já estrelaram diversas películas de tudo que é jeito. Mas como sempre tem espaço para mais seres mortos vivos do além, com direção da dupla Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, somos apresentados a um vampiro na “inocente” face de uma bailarina. Filme que estreia essa semana, chamado Abigail (idem, 2024).

Um grupo de foras da lei é contratado por um chefão do crime para sequestrar a filha de um milionário local. Mais fácil do que imaginavam, eles invadem a mansão e sequestram a pequena Abigail. O grupo leva a vítima para uma casa um tanto quanto abandonada, que servirá de cativeiro para a criança, já que em 24 horas acreditam receber o resgate de 50 milhões de dólares. Só que mal eles sabem que a menina é filha de um temido mafioso e que de angelical bailarina, ela se transforma numa sanguinária vampira que quer caçar um a um seus sequestradores.

Abigail é aquele típico tipo de filme que lotavam as prateleiras das antigas locadoras. Filmes de terror, com boas histórias, mas apenas meros passatempos, que eram retirados numa sexta-feira e apreciados sem moderação por uma turma de amigos e caíam no esquecimento na segunda-feira. No caso, não sou tão maldoso, o filme tem alguns méritos, apesar de ser aquele típico filme que já vimos milhares de vezes, mas que mesmo assim temos prazer de assistir. A dupla de diretores, que também ressuscitou a franquia Pânico recentemente, presta uma homenagem ao clássico de 1936, A Filha de Drácula, fazendo  uma miscelânea do que o gênero melhor (ou pior, dependendo do ponto de vista) produziu. Entram nessa mistura filmes de terror dos anos 1980, uma casa abandonada com cara de assombrada, filmes de invasão e que culminam com vingança brutal, pitadas de Pânico, logicamente, slasher movie, tiradas de filmes como A Hora do Espanto, clássicos da  Hammer e até sugando referências mais modernas, como do recente filme M3gan. E com uma trilha sonora mais chavão impossível.

Uma mistura bem batida que por quase horas nos premia com muito sangue, mortes, mudanças do rumo da trama e tem como cenário apenas a tal mansão fora da cidade. Em um tempo onde os vampiros tiveram licença poética, abominando convenções clássicas do estilo, ao menos Abigail se mantém fiel às referências de filmes de herdeiros de Drácula. Crucifixo, alho, espelho sem reflexo, estacas e a temível luz do dia, que o transformam em pó. Mas o diferencial mesmo do filme é a menina Alisha Weir, que dá vida à carinha de anjo tão cruel de nome Abigail. Foi-se o tempo que se evitavam que crianças atuassem nesse tipo de filme, citando o exemplo de O Exorcista, que na época, o diretor William Friedkin sofreu inúmeras críticas por expor a menina Linda Blair àquele ambiente soturno. Aqui a menina faz gato e sapato de seus algozes, é sarcástica, pinta, borda e dança muito. Abigail é uma bailarina que seguido treina seus passos de balés, às vezes com o corpo de suas vitimas e faz de algumas vítimas suas marionetes, até para dançar, como o que acontece com a personagem Sammy, que certamente pode viralizar em tempos de coreografias de Tik Tok. Em suma, Alisha deve ter se divertido muito.

Do elenco podemos citar, fora a menina já citada Alisha Weir, como a bailarina vampiresca, Melissa Barrera, como a ex-médica que sente remorso por ter abandonado o filho e sente certa compaixão na também abandonada Abigail. Dan Stevens, como Frank, ganancioso e meticuloso ex-policial, sempre querendo liderar as situações do acidental grupo, e a citada Kathryn Newton, como uma hacker filhinha de papai que literalmente cai na dança com a vampira. Angus Cloud, o ator que fez o sequelado Dean, faleceu em meados de 2023 e o filme foi dedicado a ele.

Abigail é aquele filme propício para assistir no cinema acompanhado de mais gente para curtir a experiência coletivamente como nos velhos tempos de video locadora. Não inventa nada de novo, mas consegue prender a atenção em uma história bem amarrada que respeita as tradições básicas dos filmes de vampirismo, tem um bocado de vítima que não vale nada, que só serve para ser devorada pela garotinha sanguessuga, em um cenário clichê que, porém, nos remete aos grandes filmes do gênero. Se gosta de terror, não titubeie e vá assistir a diversão misturada com um generoso banho de sangue,  vale o ingresso! 

 

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