Crítica: Five Nights at Freddy – Pesadelo Sem Fim

Uma constatação recente, mais que deferida, é a falta total de criatividade do cinema dos nossos dias de terem um pingo de criatividade. Digo isso, é claro, do cinema de mainstream, do blockbuster… se compararmos a qualidade e inventividade do cinema de 20 anos atrás, é nítida a preguiça e fórmula de bolo com que hoje o cinema se conforma. E isso que sou generoso, se tentasse comparar com 30, 40… 50 anos… seria quase uma covardia. E nessa onda de apenas replicar histórias conhecidas, adaptar o mais do mesmo ou games, entra nesse panteão o filme Five Night at Freddy – Pesadelo Sem Fim (Five Night at Freddy, 2023), adaptação de um “clássico” jogo eletrônico para as telonas, com direção de Emma Tammi.

Mike é um cara perturbado. Com a morte da mãe e abandono do pai, tem que se virar nos trinta e criar Abby, sua irmãzinha de 10 anos, que é considerada por muitos problemática. A história da família tem o trágico desaparecimento do irmão deles, que nunca foi solucionado. Então de biscate em biscate, fazendo bicos por aí, com a grana esvaindo, Mike, para manter o que restou de sua família unida, no caso sua irmã, que passa a vida a desenhar, resolve pegar um trabalho em uma pizzaria abandonada há décadas, a outrora famosa Freddy Fazbear, onde sua maior atração, mais que as saborosas pizzas, eram bonecos conhecidos como animatronics, que faziam a alegria da molecada. Só que o que parecia ser apenas um simples emprego noturno para Mike se torna um pesadelo, porque à noite coisas muito sinistras acontecem por lá e acabam despertando traumas e pesadelos internos do segurança, além de colocar em risco sua vida e a de sua irmã.

O tal do jogo, onde animatronics, ou seja bonecos gigantes emulando ursinhos e outros animais, foi um sucesso entre a molecada. Um game que realmente assustava e provocava pesadelos em incautas crianças de menos de 10 anos. O mesmo não posso dizer do filme de Emma Tammi. Com um roteiro arrastado, feito a seis mãos, incluindo as duas da diretora, o filme é de um marasmo incrível. Explora a premissa do trauma de Mike que viu seu irmão menor ser sequestrado em um piquenique familiar, mas peca em bater demais nessa tecla. Os pesadelos do protagonista, a culpa, a procura das saídas, está tudo muito bem filmado nos oníricos momentos de tensão de Mike, mas a velha pizzaria e seus bizarros bonecos animados, em nenhum momento causam os sustos que imaginamos levar.

Mesmo com toda a premissa de um local abandonado em que estranhas engenhocas montadas com fofas imagens de ursos e outros tipos de animais, inutilizados pelo tempo, mas que ganham uma inexplicável vida, nas cinco noites de terror do segurança Mike e sua irmã Abby, são raríssimos os momentos em que  o filme dá medo. Talvez a explicação pode estar na busca de plateia mais jovem para o cinema, maneirando no sangue e no terror, mas a verdade é que o filme se perde por completo, é tedioso  e perde uma boa chance de criar um clássico moderno. Os animatronics sinistros poderiam entrar no rol de Chucky, Mestre dos Brinquedos, ou até o genial Palhaços Assassinos (ah, que saudades de um roteiro original que chocava o público), mas acaba sendo uma pasmaceira que mistura um que de engenhocas de Jogos Mortais, bonecos sem graça e um suposto componente sobrenatural que invoca os outrora consagrados e festejados bonecos.

Mike é interpretado preguiçosamente por Josh Hutcherson, numa atuação beirando o patético, tentando levar como mote o drama da perda do personagem, mas em nenhum momento conseguimos levar a sério. Piper Rubio, como Abby, a mala irmã do personagem, também cumpre satisfatoriamente o papel, mas em alguns momentos do filme, de tão sem sal de sua atuação, eu cheguei a torcer contra ela… Elizabeth Lail completa a trinca que importa na trama, como a enxerida policial Vanessa, a única na cidade parecendo se importar com a roubada que Mike se meteu ao vigiar  a pizzaria. Mas claro que não posso esquecer de Mary Stuart Masterson, como a chatonilda tia Jane. Como é bom ver uma, digamos, quase ícone juvenil dos anos 1980 e 1990 ainda tendo oportunidades nas telonas na maturidade.

Five Nights at Freddy – Pesadelo Sem Fim é uma decepção sem fim (trocadilho idiota com o titulo), tinha tudo para ser um filme amedrontador, quase uma revolta das máquinas, ao estilo Exterminador do Futuro, mas com bichinhos eletrônicos invocados, não passa de uma historia insonsa, com desfecho ao melhor estilo Scooby Doo, violência contida e efeitos visuais decepcionantes. Um filme que tinha todo o estilo para ser aquelas trasheiras admiráveis dos anos 1980 e 1990, acaba se perdendo feio em uma história arrastada, envolvendo problemas pessoais, um lado sobrenatural confuso e atuações medonhas… enfim vai levar fãs do jogo ao cinema, mas com certeza vai ser uma gigante decepção e dará uma saudade da época em que a criatividade rolava solta e o cinema era muito mais que tacanhas adaptações de produtos que já existem…

 

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