Skank apresenta sua turnê de despedida em Porto Alegre

O Skank, fazendo uma comparação com o futebol, ainda mais em época de Copa do Mundo, é mais ou menos como eram os jogos do Barcelona da era Guardiola ou seleção de 1970, certeza de show. Não tem como não respeitar o quarteto mineiro, com uma cancha de 30 anos de palcos, que sabem que seus shows serão um batalhão de hits, profissionalismo, animação e execuções impecáveis. Só que a banda está acabando. Esse fim já era para ter ocorrido, mas a pandemia deixou a banda no estaleiro, passadas as turbulências, eles tem até data marcada para o fim: um show no Mineirão, em março de 2023. Porto Alegre faz parte da história do Skank e esse show de despedida eterna já rolou pelo início do ano, mas não contente, a banda conseguiu mais três datas para (acho que definitiva, dessa vez) se despedir da nossa cidade. Um desses três show foi sexta passada no templo Araújo Vianna, e é claro, o NoSet estava lá para cobrir esse espetáculo.

Com casa cheia (esse show foi extra já que os outros dois tiveram ingressos esgotados), um público ávido pelos sucessos dos mineiros, teve que esperar um pouco para começar o show , já que esse teve uma meia hora de atraso, mas por volta das 21h30min, Samuel, Lelo, Haroldo e Henrique subiram ao palco e tocaram a lindíssima Dois Rios, sucesso do Cosmotron, de 2003, balada que levanta a plateia. Como nota, desde esse momento até o fim, ninguém mais se sentou, tamanha a energia do show dos caras. Mas como Skank é pra pular a se divertir, e em época  de Copa do Mundo e com referência ao Richarlison, Samuel já emenda É uma Partida de Futebol, levando ao delírio a plateia. Esmola e Pacato Cidadão, músicas do Calango, de 1994, que abriram os caminhos para o Skank para o sucesso nacional, seguem o set com aquela pegada regueira característica da primeira fase da banda. Aliás, fase que fazia o Skank facilmente passar de 1 milhão de cópias, como no caso do citado disco.

Como Samuel Rosa explicou, esse show era uma viagem musical sem ordem por mais de 30 anos de carreira, e sem muito tempo pra papo, começam Uma Canção é pra Isso, do disco Carrossel, de 2006, e depois fazem uma homenagem ao falecido Erasmo Carlos, nosso Gigante Gentil, que virou saudades há alguns dias, falando algumas palavras sobre a importância dele pro rock nacional e logo após tocando É Proibido Fumar, composição dele e do Rei Roberto, e um dos maiores sucessos da banda, levando a plateia ao delírio. Sem tempo para respirar, eles vêm com Saideira, ska delicioso com trabalho maravilhoso dos naipes da banda, Vinicius Augusto (sax), Paulo Marcio (trompete) e Pedro Aristides no trombone. Luxo puro! Canção Noturna, do Maquinarama, de 2000, segue o grande baile do Skank. Pulam 8 anos e a banda toca a composição de Samuel e Nando Reis, Ainda Gosto Dela, canção do disco Estandarte. Amores Imperfeitos vai na sequência.

A Balada do Amor Inabalável, sucesso que foi muito impulsionado pela novela Laços de Família, faz todo mundo cantar junto e Ela me Deixou, do último álbum da banda, de 2014, fecham a primeira parte do show. Não tem como não se empolgar com a química entre a banda e a plateia, é algo incrível. E a banda, com seus 30 anos de cancha, dá um show de profissionalismo, talento e energia,  a cozinha Lelo Zanetti (baixo) e Haroldo Ferreti (bateria) é uma das mais precisas do Brasil, pulsante, simples e direta, e com direito as dancinhas do Lelo, e seu jeito peculiar de tocar baixo. Henrique Portugal sempre competente com suas teclas, com vocais de apoio ótimos (Lelo também) e, é claro, Samuel Rosa, com um carisma e simpatia únicos, e como sempre falo, a simplicidade dos quatro chega até fazer nos duvidar como eles chegaram as serem tão gigantes, com tanto pé no chão, mas isso se chama talento e música boa. Voltando ao show, Samuel larga a guitarra e comanda a massa na ótima Jackie Tequila, numa viagem no tempo para 1995, em um dos momentos mais sublimes que o Araújo presenciou esse ano, com todo mundo cantando junto numa vibração sem descrição. Te Ver, do mesmo e histórico Calango, segue a festa em uma viagem sonora para o melhor dos anos 1990.

Acima do Sol serve para dar aquela acalmada, mas com Três Lados, o êxtase toma conta de novo, numa breve introdução à execução de Vou Deixar, de 2004, um hino moderno e uma ode à alegria, e um dos últimos super sucessos  da banda, cantada em uníssono por um Araújo em ritmo de festa. Garota Nacional mantém o nível, com mais uma aula de carisma de Samuel, dando uma de maestro pra massa, em uma das canções mais famosas do pop brasileiro. Uma metade de show matadora e inesquecível.

Depois vem uma parte mais light do show, digamos assim, onde o Skank emenda Esquecimento, Sutilmente e Algo Parecido, aquele momento de sentar-se um pouco e baixar o frenetismo que foi o show até o momento, mas com Vamos Fugir, clássico do reggae nacional, de Gilberto Gil, com uma releitura ótima da banda, faz mais uma vez a plateia sorrir, dançar e cantar, encerrando o derradeiro show da banda na capital do Rio Grande. Mas claro que não encerou assim, né? Tinha ainda o bis. Resposta abre a parte final, música que marcou a mudança da banda daquele estilo meio reggae, ska dub para um som mais para os caminhos folk, a la Beatles e Clube da Esquina, enfim um sucesso cantado a plenos pulmões pelo Araújo inteiro. Segue com a improvável Ali, meio peixe fora  d’agua pra um bis, e ainda arriscam um Don’t Let me Down, dos Beatles, mostrando o talento de Doca Rolim, guitarrista de apoio  da banda, que segura as bases enquanto Samuel comanda a massa. Um baita golaço e linda homenagem, pois como é bom ouvir um Beatles! Enfim, com Tanto (versão de Bob Dylan de I Want You), todos os álbuns da banda são lembrados e a música, com seus 30 anos de vida, dá uma nostalgia e tanto para os  fãs da banda desde 1992. Para encerrar a mágica noite, tocam  Tão Seu, transformando mais uma vez o auditório num salão de festas animado, iluminado e principalmente, feliz com o que viu, um show de despedida digno, com mais de 30 músicas, em duas horas e meia de espetáculo, provando que se a banda acabar, vai deixar muitas saudades.

Como falei no início do texto: show do Skank é certeza de goleada, é experiência sempre válida, uma banda com 30 anos de carreira, músicos competentes, com a mesma formação, uma vivência de palco como poucos grupos tem, que se reinventou na carreira, sempre primando por competentes álbuns e canções de qualidade, enfim, uma super banda. Talvez esteja acabando porque não vê mais espaço no mercado atual para conceitos como discos, canções, composições de qualidade e esteja cansada demais para entrar na nova ordem da música mundial e quer sair por cima e não virar um pastiche de si mesmo. Porque deve ser confortável seguir lotando ginásios, estádios, e casas como o Araújo Vianna, mas talvez devido à dificuldade de renovação, o excesso de saudosismo dos fãs antigos em tentar admirar novos trabalhos da banda, o Skank tenha decidido sair dos palcos para a história (que já parte faz tempo) e ficar na lembrança de nossas mentes e alma, de que como era bom um show deles, e termos o privilégio de vivermos sua vitoriosa carreira.

 

 

Crédito das fotos: Vívian Carravetta

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