Sidney Magal apresenta seu baile em Porto Alegre

Se existe um artista brasileiro que conseguiu preencher os quesitos de cantor, dançarino, ator (tanto dramático, quanto cômico) e sim, sex symbol de uma época, esse cara tem nome: Sidney Magalhães, conhecido popularmente como a lenda Sidney Magal. Magal é um cara que se orgulha de ter décadas de carreira, teve seu apogeu no fim dos anos 1970 até o incio dos anos 1990 e vive no imaginário popular do brasileiro. Com sua aura cigana, vozeirão e rebolado único, mantém seu carisma intocável, mesmo com o passar dos tempos e sabe se reinventar como poucos. E esse Magal 2023 fez o Auditório Araújo Vianna dançar e cantar no último domingo, com seu maravilhoso Baile do Magal. E o NoSet incorporou a Sandra Rosa Madalena para acompanhar essa noite histórica.

Em noite de Grenal, que geralmente para e dispersa a cidade, um ótimo público se fez presente para acompanhar o grandalhão e eterno amante latino. Com produção de primeira, com direito a telão no fundo, uma banda com seis exímios integrantes e dois casais de dançarinos, por volta das 20h30min adentra ao palco Sidney Magal, começando o tão esperado Baile. Ele abre os trabalhos com Palco, de Gilberto Gil, com um arranjo mais moderno e com o cantor visivelmente emocionado cantando a ode ao templo sagrado dos artistas que é palco e sua união perfeita que é o publico. Magal com vozeirão marcante já faz a plateia delirar desde cedo. Com uma simpatia e comunicação com a plateia afiada, conversa com a galera, sempre mantendo o bom humor a alto astral. Depois de se apresentar pra massa, ataca com seu sucesso Amante Latino, com o telão mostrando imagens do passado do artista, tudo isso num arranjo vibrante com ares latinos. Faz mais um discurso, dessa vez sobre ciúmes e interpreta uma versão puxada pro reggae de Ciúme, do Ultraje a Rigor. Mas é com Tenho, seu contagiante sucesso dos anos 1970, que coloca o povo pra levantar. Costumo dizer que essa canção é uma das mais empolgantes da música brasileira, o que não é pouca coisa. Magal fala sobre seu sucesso passado, hoje cancelado e com razão, Se te Agarro com Outro te Mato, que obviamente não toca mais, ainda tem tempo de provocar a plateia e canta Entre Tapas e Beijos, que fez sucesso na voz de Leandro e Leonardo e fala sobre agressividade nas relações.

Mantendo o clima de festa homenageia a Jovem Guarda com a competente banda fazendo um medley com os clássicos Vem Quente que eu Estou Fervendo, Minha Fama de Mau, O Bom e Eu Sou Terrível, enquanto o telão colocava mensagens com os nomes das músicas. Digno de nota a ótima banda, de músicos excepcionais, com arranjos com toques pessoais para as canções. O que vem depois é a homenagem do Magal ao Tim Maia, com aquele pot-pourri começando romântico com Primavera e Você e partindo pro “Magal Disco Club” com Acende o Farol, Você e Eu e Descobridor dos Sete Mares, transformando o Araújo num grande salão de festas, com o mestre Magal comandando a massa.

Sossego, do velho síndico Tim, é a deixa para a pausa para troca de casaco (troca um espalhafatoso em tons vermelhos pra outro mais ainda com tons dourados) e quando volta, chama aquele que pode ser considerado seu último sucesso do ano 1990, mas que ainda está na boca e nas pernas do brasileiro, a lambada Me Chama que Eu Vou, onde o cantor, se não tem mais o molejo do passado, mantém o requebrado e dança com os bailarinos com direito a trenzinho e um auditório em êxtase. Depois brinca com a galera, conta histórias, diz que se recuperou de uma gripe recentemente, faz piadas e emenda Mal Acostumado, sucesso do Ara Ketu. Nesse momento sente alguns problemas no seu retorno de palco, tendo seu microfone sumindo, às vezes, e com a equipe técnica tentando consertar, mas tendo dificuldades. Fato que Magal tirou de letra, porém se sentiu triste por prejudicar sua performance. Em Noite do Prazer, de Claudio Zoli, sente novamente os problemas na voz, com o cantor nitidamente desconfortável, mas sempre tentando buscar animação. Magal, depois de aparentemente voltar a ouvir a voz, brinca com Ricky Martin e acaba cantando Pégate, famosa na voz do porto-riquenho, mostrando todo seu ecletismo, cantando em um furioso e belíssimo espanhol.

Mas a apoteose chega quando ele canta a música que o transformou no homem mais bonito do Brasil, no gigante latino, o Magal fenomenal. De 1977, levanta o público com Meu Sangue Ferve por Você, com a plateia toda cantando junto o inesquecível refrão: “Ai, eu te amo meu amor”. História viva da música verdadeiramente popular brasileira. Mas é claro que não poderia faltar aquela que fez o Sidney Magal ser o rei dos ciganos. Com seu jeito caliente e voz potente canta outra das músicas mais famosas do Brasil (se você tem mais de 40 anos ao menos), Sandra Rosa Madalena. Inclusive na plateia tinha muitas fãs vestidas de ciganas e homens vestindo lenços característicos. Outro momento incrível, quando distribui rosas com suas ciganas no palco. Quase no final, com um artista audivelmente com a voz cansada, temos aquele momento kitsch do show, leia-se, meio forçado, com a canção Festa, versão de um sucesso latino, que por mais brega que fosse, era altamente dançante. E no fim, toda a sua banda larga os instrumentos e dançam e cantam uma versão de Meu Sangue Ferve por Você, chegando a ser cômico, mas para quem estava lá, pouco importava, a festa não podia parar. Mas infelizmente parou, e cedo.

Com um show curto, talvez motivado pela voz do cantor prejudicada pela gripe ou pelos problemas técnicos, ficamos com aquela sensação de quero mais. Mas enfim, foi muito bom ver Magal, no alto dos seus 73 anos e alguns quilos a mais, esbanjando carisma, simpatia e um amor ao público e ao palco, nos apresentando um super baile de tirar o pé do chão o tempo todo, enlouquecendo seus fãs que ainda suspiram com aquela voz de trovão em Sandra Rosa Madalena, ordenando a sorrirmos, cantarmos e dançarmos sem parar. E com seu show, essa ordem é cumprida com muito prazer.

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