Maria Rita apresenta Samba da Maria em Porto Alegre

A chuvosa última sexta-feira do mês de setembro foi de samba em Porto Alegre. Maria Rita, que desde 2007 explora como poucas o ritmo, com sua poderosa e aguda voz, literalmente desembarcou na nave sonora do Araújo Vianna para apresentar seu show Samba da Maria, onde interpreta clássicos do gênero e composições próprias, com destaque para seu novo EP, que contém duas músicas de sua coautoria, o disco Desse Jeito, de 2022.

Não sei se foi a chuva, o fim de mês, a cabeça do brasileiro nas eleições ou o fato que Maria em março tinha se apresentado no Parque da Redenção no baile da cidade de Porto Alegre comemorando os 250 anos da capital, mas o Araújo estava longe de estar lotado. Às vezes lotação não é sinônimo de animação e seu fiel púbico estava ávido por um samba de qualidade e Maria com mais de meia hora de atraso abre o show com o clássico Sorriso Aberto, imortalizado na voz de Jovelina Pérola Negra, fazendo o povo dançar. Já sentada, emenda seu clássico Bola Pra Frente, de 2014, e segue com Num Corpo Só, de 2007, onde começou a desenvolver sua alma sambista. Maria fez um discurso emocionado, falou da emoção que tem com Porto Alegre, o título de cidadã da cidade que ganhou recentemente e seu show no Rock In Rio, falou bastante, se emocionou e cantou. Maltratar Não é Direito, do ótimo Samba Meu, faz a galera levantar e faz Maria Rita também cair no samba, agora já sem salto alto e descalça sambando e comandando o palco do auditório que se rende de vez ao cantar O Que é o Amor. Apresenta em seguida a nova E Eu? de seu novo disco e depois rende uma homenagem a São Paulo e Geraldo Filme, cantando Tradição, um dos hinos do samba paulista do compositor genial, e emenda trechos do samba enredo da Vai Vai de 2015, em um tocante momento.

O show segue com Papo Final, música lindíssima de Toquinho que antecede outro sucesso dela, Ladeira da Preguiça, do disco Redescobrir, de 2012. Mestre Sala dos Mares, clássico de João Bosco e Aldir Blanc, em uma interpretação maravilhosa fazem o Araújo sambar e cantar junto à história de João Cândido, herói da revolta da chibata, e para completar o clímax ela segue com O Bêbado e o Equilibrista, da mesma dupla de compositores, um hino da Anistia de 1979, em mais um show de voz de Maria Rita. Que emendando o Show Tem Que Continuar fecha uma trinca emocionante e levanta de vez o auditório, ninguém mais queria sentar. Incrível o alcance vocal da Maria, mas nunca perdendo o lirismo de sua voz doce e se, às vezes, pode parecer meio blasé ou pouco distante, compensa com sua entrega, onde dança, canta, gesticula e faz o povo sambar.

Na sequência vem com Saco Cheio, seu sucesso de 2014 e emenda com Cara Valente, seu primeiro sucesso, que em época de eleições gerou grandes trocadilhos. Reza, do disco Amor e Música, mostra Rita dando mais um show de interpretação, tanto vocal quanto em sua performance e Desse Jeito, do novo disco, bela música, mas que deu aquela esfriada na plateia. Com Canto das Três Raças presta uma homenagem de responsabilidade à divina Clara Nunes, fazendo todo mundo cantar junto e lembrar a inesquecível guerreira. Por Vezes, do seu álbum novo, e Amor Até o Fim, de Gilberto Gil, dão uma acalmada na plateia, que levanta de vez com o sucesso de Arlindo Cruz, Saudade Louca, esse na boca do povo.

O que vem depois é um dos momentos mais lindos do show, sua homenagem a Jorge Aragão, emendando as lindíssimas Tendência e Lucidez, numa interpretação de aplaudir de pé e fechando com Eu e Você Sempre, com certeza a melhor versão que já ouvi dessa música, com Maria dando seu toque pessoal, sua voz única a essa linda e singela canção com o Araújo de pé. Sublime momento.

Segue Coração em Desalinho, do imortal Monarco e sucesso na voz do Zeca Pagodinho, e Alto Lá outro sucesso do Zeca, composição do Arlindo. Tá Perdoado, seu sucesso de 2007, antecede o Samba de Arerê, clássico do samba, que o fecha o show, mas isso sem antes ela apresentar os incríveis músicos que a acompanham. Com dois violões sete cordas, o Leandro Pereira e Hudson 7 Cordas, Fred Camacho no banjo e cavaquinho, o novato João Moreira, seu afilhado, no pandeiro, e a dupla de ouro Adilson Didão e  Jorge Quininho, juntos com Fred, parceiros de tempos dela. Um time e tanto dando essa aula de samba.

No bis ela manda sua homenagem a Gonzaguinha com a antológica É, aquela que mostra que não temos cara de babaca e O Homem Falou, um dos maiores sucessos de sua carreira. Um dos clássicos supremos do samba do Brasil, Vou Festejar, encerra o show, com a certeza que quem assistiu saiu feliz, porque mesmo quem não samba tem que aplaudir.

Maria Rita cada vez mais se consolida como uma das melhores intérpretes e agora compositora de samba do Brasil, mostra conhecimento de causa, surfa por diversos compositores e sabe usar sua voz lindíssima em prol do samba, prestando homenagens e cada vez mais aperfeiçoando o repertório do seu espetáculo, dividindo momentos, emoções e belas canções, fazendo o auditório literalmente cair no samba, no Samba da Maria, da sambista Maria Rita.

Crédito das fotos: Vívian Carravetta

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