Crítica: Jogos Vorazes – A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes

Certa feita li uma afirmação de que o lado bom da série de filmes dos Jogos Vorazes só é legal para ver aquele monte de ator ruim e jovem se matando nas telas. Concordo e assino embaixo. Umas das franquias mais chatas da história do cinema, com quatro filmes que mais aborrecem que empolgam (va lá , o primeiro ainda tem alguns méritos, umas cenas de ação decentes) e uma tal crítica social, num mundo distópico, mais rasa que a beirada de uma piscina infantil e conflitos existenciais que provocam mais sono que indagações. Enfim, teve público né? Uma horda de fãs dos best sellers de Suzanne Collins deram origem a tantos abacaxis cinematográficos. Mas como anos depois, os atores jovens envelheceram, outros mais idosos morreram, a história não tinha como continuar, a solução é o que? Fazer um prequel e explicar a origem do mal ou de onde Coriolanus Snow criou tanto rancor e maldade. Falo de Jogos Vorazes – A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes (The Hunger Games – The Ballad of Songbirds and Snakes, 2023), com direção de Francis Lawrence, quinta adaptação dos badalados livros para as telonas.

O filme começa contando que Snow, pequeno, mesmo sendo nobre, sofreu um bocado, perdendo a família e comendo o pão que o diabo amassou com a irmã e avó, depois das revoltas dos distritos contra a capital Panem. Passada a tormenta, o jovem Coriolanus Snow adentra a universidade e vê uma oportunidade de ganhar status, sendo mentor de tributos nos incipientes Jogos Vorazes. Ele acaba protegendo Lucy Gray Baird, cantora do Distrito 12. Snow faz de tudo para defender Lucy, chegando a trapacear e acaba salvando a vida da menina. Mas graças a esse fato, é condenado a ser um simples protetor, justamente no Distrito 12, onde começa a trair seus princípios, se torna cascudo e tenta de todas maneiras conquistar Lucy, que acaba virando sua amada.

Milagrosamente, Jogos Vorazes Cinco consegue ser uma boa diversão. Mesmo com mais de duas horas e meia (uns 40 minutos de pura encheção de lingüiça), conseguimos elucidar alguns pontos que fecham arestas na vida do temível Snow. Mas não deixa de ser, digamos, forçado, fazer um filme de origem sobre um personagem tão abominado. Talvez a megalomania do direotor de querer mostrar a origem do seu “Darth Vadder” (mas sem nenhuma chance de comparar a grandioside do líder do lado negro da força com o reles ditador de Panem), seja a única explicação plausível para essa pelicula. Mas Lawrence não deixa a peteca cair. O filme tem violência, bons personagens, cenas de ação vibrantes e o que mais caracteriza bem o que é a sociedade distópica de Panem, as desigualdades sociais, a comparação com alguns regimes comunistas de culto à personalidade, em edifícios funcionais e estátuas magníficas, o lado proletário dos distritos também é bem representado. Mas é claro que é filme de Jogos e a tensão das disputa ainda na décima edição e um estado ainda vingativo e ameaçado por revoltas, uma arena em ruínas, tributos realmente faca na bota na disputa e ataque de serpentes alucinadas, ditam o ritmo da segunda parte do filme. Sim, o filme é dividido em partes, sendo que a última é realmente a que mais toca fundo em Snow e mostra os seus rancores, sofrimento e até de onde surgiu tanta raiva do Distrito 12. 

Tudo isso muito bem ilustrado por uma fotografia eficaz, um punhado de músicas cativantes, sim, o filme é quase um musical, ainda mais na figura de Lucy, efeitos especiais corretos e uma direção mais ágil do diretor. Se nos outros filmes se perdia muito tempo em conflitos pessoais, quase juvenis, nesse existe realmente uma casca se formando, em uma sociedade ainda em impacto, vivendo sob a sombra do medo e extremamente dividida.

Tom Blyth dá a vida a Snow, o ator tem um bom papel, desde o menino de bom coração que vê nos Jogos uma oportunidade, mesmo naquela violência sem sentido, até a sua punição como um reles guarda, que muda radicalmente devido a enigmática e forte Lucy Gray Bard, interpretada por Rachel Zegler, que com uma ótima atuação, encanta como a cantora, guerreira e manipuladora moça do Distrito 12. Ainda temos Viola Davis, em uma atuação segura como sempre, mas um tanto caricata como a cientista Volumnia Gaal, responsável pelos Jogos de números 10 e Peter Dinklage, como o reitor e coidealizador dos Jogos, que em certo momento confessa que criara aquela insanidade depois de uma noite de bebedeiras.

Mas se Jogos Vorazes – A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes não é nenhuma obra, ao menos conta uma história mais madura e realista. Tem em seu terço final um ritmo mais lento, mas necessário, para desenvolver bem o angustiado Snow, e tirando o primeiro filme, é o melhor da franquia. Impecável na grandiosidade das suas imagens, fotografia deslumbrante, agradáveis cantigas e consegue pela primeira vez nos demonstrar em imagens uma plausividade ideológica (extremamente vaga nos filmes anteriores), a verdadeira cara que é Panem e como a eterna luta do poder contras os despossuídos e a sede de ter o poder, na imagem de Snow, ainda é a força motriz de qualquer parte do mundo, tanto na distopia quanto na esquina de nossas casas. Ah, e os jovens atores que se matam não são tão chatos como os dos primeiros filmes e realmente tem o ódio do proletariado explorado como motivação…

 

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