Dean Z apresenta seu tributo a Elvis em Porto Alegre, no Auditório Araújo Vianna

Confesso que às vezes tenho certa desconfiança de shows tributos que são grandes produções e vendem marcas de bandas ou artistas que já viraram saudades. O que é diferente de assistir uma banda cover em algum buteco da vida, homenageando seus artistas. Mas logicamente o fator nostalgia é algo inerente ao ser humano, e por isso, cada vez mais artistas icônicos, através de sósias talentosos, aquecem nossas memórias em shows de altas performances e esmerada produção. Um deles é Dean Z. O artista norte-americano tem a proposta de, em quase duas horas, fazermos uma viagem sonora e visual por três fases daquele que é considerado o rei do rock, Elvis Aaron Presley. Esse show, chamado Elvis Experience, aterrissou no Araújo Vianna domingo passado e o NoSet teve a chance de conferir.

Com um Araújo tomado por um público dos 8 aos 80, famílias, fãs saudosos, alguns curiosos, mas todos querendo reviver os momentos em que o jovem de Tupelo, Mississippi, revolucionou a juventude e chacoalhou o mundo. E Dean Z não estava pra brincadeira. Com uma banda com sopros, um trio sensacional de backing vocals, guitarra, bateria, baixo e teclados, sobe ao palco (dessa vez sem gradil de proteção, pois a ideia era que os fãs pudessem chegar perto dele) com aquele visual cinquentista, violão em punho e manda Blue Suede Shoes, para delírio da galera. Aí o que se viu em diante foi um festival de sucessos como Don’t Be Cruel, Love me Tender (essa com direito às Elvis maníacas abraçarem e beijarem o cantor), Bossa Nova Baby, You’re the Devil in Disguise, It’s Now or Never, entre outros, tocados com uma perfeição pela impecável banda e com uma emoção e precisão incrível de Dean Z. O cara simplesmente encarna o Elvis (com alguns centímetros a menos), tem uma semelhança incrível, faz os trejeitos, usa figurinos iguais, dança muito, e é claro, canta com um timbre de arrepiar. E o principal, tem uma simpatia contagiante. Brinca com a plateia, cita Porto Alegre várias vezes, faz juras de amor ao Brasil, diz amar guaraná (de preferência a Fruki, em um dos momentos mais engraçados dos show), em suma, mais que um show de cover e música, é quase um stand up cômico de um artista comunicativo, como todos deveriam ser. Termina a primeira parte fazendo todo mundo dançar com o hino Jailhouse Rock.

Na troca de fase, para dar tempo a troca de figurino, as backing vocals cantam sucessos e mostram o absurdo talento vocal do trio, em um show à parte. Dean Z então nos levaria ao ano de 1968, quando Elvis ressurgiu, depois de uma década estrelando filmes de gosto duvidoso. Nesse ano, Elvis fez um icônico programa de TV pela NBC, 68 Elvis Comeback Special, onde deu uma guinada na sua carreira. E com um figurino de couro preto, Dean Z empilha sucessos dessa fase mais madura, como a excepcional Heartbreak Hotel, Hound Dog, All, Shook Up, A Little Less Conversation. E mais uma vez Dean Z dá um show com sua voz, mostrando uma faceta mais madura do rei do rock, mas também não perdendo o bom humor, inclusive brincando com o sucesso do carnaval brasileiro de 2024, Macetando, chegando a ser surreal aquela imagem de Elvis cantando algo do tipo. Curioso também é a idolatria de certos fãs, que mesmo tendo na frente um cover, corriam sentimentos de emoção misturados à fantasia de que estávamos vendo o artista que virou saudades em 1977. Mas é muito da culpa do Dean, sensacional em todos os sentidos. Com a canção Memories, ele homenageia tanto o Elvis, quanto a recém falecida Lisa Marie, num momento de emoção do show, mas é com a fantástica If I Can Dream, em que faz um dueto com o Elvis no telão que o Auditório Araújo Vianna se rende e se comove com o fantástico duo que só a tecnologia pode nos proporcionar.

Elvis… digo Dean Z, usa o guitarrista brasileiro Heitor Crespo como seu intérprete em alguns momentos, apesar de usar e abusar de palavras de efeito em português. E é Crespo que termina esse segundo bloco, tocando solos que emulam os grandes guitarristas do Elvis, como Scott Moore e James Burton, seus ídolos. Ainda temos tempo de ouvir uma incrível versão de Bridge Over Troubled Water, cantada pelas duas backings, mãe e filha, em um momento arrepiante.

Na última fase somos transpostos para o Hilton, em Las Vegas, nos anos 1970, onde um Elvis de macacão branco fez história, e Dean Z aparece paramentado, como nas incontáveis turnês da cidade dos cassinos e ataca de petardos como See See Rider, Proud Mary, Never Been to Spain, todas com performances vocais intensas e com aqueles espalhafatosos movimentos, com influência de karatê, do Elvis setentista. Mas é com a, para mim a música pop mais linda do mundo, You’ve Lost That Loving Feeling, que o show entra em catarse. Dean entrega tudo, com um arranjo fidedigno e aquela emoção arrebatadora. Grandes momentos do Araújo, ter o prazer de ver essa versão no palco com tanta perfeição. E Dean continua chamando o povo, entrega toalhas com o seu suor, brinca com a plateia, beija os fãs e segue com Always On My Mind, que alega tocá-la apenas por aqui para não tirar o Brasil de sua mente, e segue com Suspicious Mind, onde mais vez dá um show de trejeitos, golpes no ar, frenetismo e tudo isso cantando absurdamente bem. Tem tempo ainda de dançar um ritmo gaúcho simulando gaita pelo tecladista e encerra o show com duas apoteóticas canções, American Trilogy e o sucesso Can’t Help Falling In Love, fechando com chave de ouro uma noite mágica.

Respondendo à minha indagação, do primeiro parágrafo, acho que dessa vez me rendi de vez aos tributos. O ser humano precisa de fantasia, nostalgia e viver o passado, e se é feito com esmero e talento como Dean Z e seu incrível show, é mais que válido. Vivemos uma noite apoteótica, uma homenagem real e sincera a um dos caras que mudou para sempre a música, e que talvez, sem ele, poderíamos ter atrasado a música pop e o rock por uns bons anos. Ter essa experiência de, nem que seja na imagem de Dean Z, termos esse gostinho de ver o que representou Elvis, é algo único e quem foi jamais irá esquecer daquele domingo onde vimos três décadas de música popular e o melhor que ela representou com nossos olhos, tímpanos e coração. 

 

Crédito das fotos: Vívian Carravetta

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