Crítica: Velozes e Furiosos 10

Quem diria que aquele quase despretensioso filme de ação sobre ladrões que usavam carros velozes para roubar cargas de caminhões em Los Angeles, em 2001, se tornaria uma das franquias mais longevas e rentáveis do século 21. Com direção de Rob Cohen, Velozes e Furiosos (The Fast and The Furious, 2001), transformou o grandalhão Vin Diesel e Paul Walker em estrelas, com seus turbinados carros e incríveis cenas de ação. Passados 22 anos, a série chega ao seu décimo filme, Velozes e Furiosos 10 (Fast X, 2023), com direção de Louis Leterrier.

Como fica cada vez mais difícil achar um argumento original, o filme desencava a era que Vin Diesel pavoava pelas terras brasileiras. O filme mostra quando eles enganaram um traficante, roubaram seu cofre e acabaram matando o pilantra numa ponte do Rio de Janeiro. Só que uns 10 anos depois, seu filho Dante, um português criado no Brasil, com inglês impecável e que não sabe falar português direito (??) resolve vingar-se da família Toretto, responsável pela morte do seu querido papai. Dante é um psicopata debochado, vingativo e cruel, que com seu poder e loucura, quer fazer de tudo para controlar o mundo (sim, ele é meio vilão de James Bond) e principalmente acabar com tudo que Dominic mais ama (não os carros, ok?): sua esposa, família e filho. Junta, a trupe mais veloz do universo, dá quase uma volta ao mundo em aventuras pra evitar que Dante cometa suas maldades desenfreadas.

Depois do constrangedor Velozes e Furiosos 9 (F9), onde até no espaço vimos as carangas dar o ar de sua graça, a sequência de número 10 tinha tudo para ser mais um grande desperdício. Mas não é que o diretor Louis Leterrier, com roteiro de Justin Liu e Dan Mazeau, consegue, em mais de duas horas, nos apresentar um filme de ação digno? Quase como uma franquia de James Bond, vemos um vilão maquiavélico, viagens por grandes cartões postais do mundo, alta tecnologia, armas e equipamentos, cenas de ação com inúmeros figurantes morrendo, cenas beirando o surreal e as velhas perseguições em bem dirigidas sequências com carros em alta velocidade. Claro que vemos absurdos incríveis como Vin Diesel derrubando helicópteros com os cabos que tentaram prender seu possante, descer de barragens sobre quatro rodas, saltar de transportes aéreos e cair direitinho em estradas, em suma, as incríveis situações de sempre cada vez mais surreais, mas que nesse filme ao menos traz um grande diferencial: um vilão realmente amedrontador. Jason Momoa está leve e solto no papel do psicopata Dante, quase um Coringa do Batman, zombando do perigo, desprezando das vidas, brincando com o destino das pessoas e um desejo incrível de vingança. Com certeza é a melhor coisa do filme. Tanto que o filme vai ter uma continuação, ou um desfecho, já que esse segue aberto e certamente teremos o temível vilão de volta. Com outro personagem a décima sequência seria apenas mais um dos pavorosos filmes que compõem a série.

O filme resgata todo o enorme elenco, Vin Diesel como Dom Toretto, com sua profundidade de atuação do tamanho de uma piscina infantil, mas fazendo o que sabe de melhor em grandes cenas de ação, pilotando os seus carros envenenados; Michelle Rodriguez, a esposa dele; Chris Bridges, Nathalie Emmanuel, Sung Kang, da gangue de Dom; John Cena de volta, como seu irmão, fazendo um papel divertido, Jason Statham de volta ao cast; Charlize Theron, como a ciberterrorista Cipher; Rita Moreno, Helen Mirren e as adições de Daniela Melchior e Brie Larson na fama. Parece até um filme do Robert Altman, com tantos personagens, pena que a maioria é só pra encher linguiça, ao contrário dos filmes do gênio Altman.

Mas voltando à trama, como falei antes, as cenas de ação são bem executadas, temos grandes perseguições de carro, a volta de rachas com destaque para o realizado no Brasil (mais estereotipado impossível), com direito a nossa pop star Ludmilla dando a largada. Inclusive, o Brasil tem uma importância fundamental na trama já que o argumento foi tirado do filme de número cinco, que se passou por aqui. Viajamos também para Londres, Portugal, temos uma bomba desgovernada e em chamas passeando por Roma (mas calma, a explosão não teve vítimas, nesses filmes só morrem os pobres dos capangas dos vilões, agentes armados de organizações e descuidados policiais), um pouco de Los Angeles e até a Antártida. Quando o filme nos apresenta suas cenas explosivas, velozes e de extrema destruição realistas e em ritmo alucinante, prendendo a atenção mesmo em mais de duas horas de projeção, funciona bem, mas quando descamba para cenas meio sentimentalóides, sem sentimento, como o relacionamento de Dom com seu filho, que não passa um grau de veracidade e aquela baboseira de sempre do filme que insiste em família o tempo todo, se perde geral. Se tirássemos esses momentos dispensáveis, teríamos em uma hora e meia um filme muito mais intenso, coeso e alucinante, ou como diria a América Vídeo: dinamite pura. Mas é aquilo, estou falando do décimo filme de Velozes e Furiosos, e lógico, roteiro e compactação da trama não agradaria a galera que apenas quer ver mais tempo seus heróis na telona.

Se eu pudesse resumir o décimo capítulo da badalada série em algumas palavras diria assim: um empolgante filme de ação, com os absurdos característicos, mas necessários de sempre, um vilão que salva a trama e deixa sua marca, pancadaria, tiros, carros velozes, explosões, uma história piegas de família, união e etc., que não cola e enche o saco. Um monte de artistas bons reunidos, mas desperdiçados em personagens ruins. Em suma, menos exagerado que o nono, mais roda no chão como eram os primeiros filmes, que desligando cérebro e colocando no modo diversão e descontração funciona que é uma beleza. E o mais importante: sendo honesto, minha opinião não mudará em nada para quem realmente é fã da longeva franquia e espera sentado essa tão aguardada estreia.

 

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