Mark Wahlberg stars with a dog name Ukai who plays Arthur in the movie “Arthur the King.” The OSV News classification is A-III — adults. The Motion Picture Association of America rating is PG-13 — parents strongly cautioned. Some material may be inappropriate for children under 13. (OSV News photo/Lionsgate)

Crítica: Uma Prova de Coragem

Às vezes, quando vou conferir um novo filme, tenho de antemão a certeza que presenciei uma bomba capaz de deixar o Oppenheimer com inveja, ou como gosto mesmo de falar, aturar um abacaxi de uma hora e meia no cinema. Uma Prova de Coragem (Arthur The King, 2024), de Simon Cellan Jones, tinha tudo, no meu pré-julgamento, para ser mais um deles, mas felizmente dessa vez eu errei feio.

Michael Light é um atleta estadunidense de corridas de aventura. Aquelas competições em equipes que os participantes percorrem centenas de quilômetros em terrenos inóspitos, precisam pedalar e ainda remar, tudo isso em quase uma semana de prova. Ele tem um histórico de ser extremamente competitivo, mas anos atrás, por decisões erradas, literalmente atolou sua equipe e deixou escapar uma vitória. Motivo que virou até meme na internet. Anos depois, Michael, agora pai de família e casado com uma ex-atleta de sua equipe, anda mais perdido que minhoca em pedreira, sem rumo e procurando trabalho. Mas algo o diz que ainda precisa voltar às competições e decide juntar um time qualificado para uma prova que irá acontecer na República Dominicana. Desacreditado, sem verba e patrocínio, pede ajuda a um ex-companheiro de equipe para participar. Com o time montado chega como azarão, mas um encontro no meio da competição, com um cachorro que salva sua pele e se torna um membro da  equipe, vai mudar a vida de Light para sempre.

Como falei acima, Uma Prova de Coragem, desde o título em português, que foge completamente do original que é o nome do simpático cão, até a premissa da sinopse, há tudo para ser um daqueles filmes esquecíveis de sempre. Baseado numa história real, Simon Cellan Jones consegue fazer mais que um filme de amizade entre um ser humano e um cachorro. Ele nos apresenta um bem montado drama de superação, tanto no quesito pessoal, como lidar com suas frustrações e dar mais uma chance para si, quanto na importância do senso de equipe, tanto em competições de ultra resistência, quanto na vida. Arthur é apenas uma espécie de catalisador disso tudo. Podemos até questionar a ideia do diretor que resolveu usar apenas um terço do filme para mostrar a importância do vira-latas dominicano, já que ele só tem protagonismo mesmo no final da trama, mas eu já vejo como acerto pincelar o retrato dos personagens humanos antes, o que diferencia dos piegas filmes com mascotes.

E Simon também acerta nas cenas de ação. A competição é muito bem filmada, desde as subidas em morros hostis, escadarias íngremes, uma incrível cena onde a equipe de Light se atrapalha numa tirolesa, provocando frio na barriga e vertigem de altura a quem assiste, o momento quando Arthur nada do lado do time em caiaques, quase se afogando, é tambem de partir o coração. As cenas noturnas nítidas, fugindo do clichê que quanto mais escuridão provocaria mais suspense, ou seja, todas as etapas da longa maratona são de um esmero visual e capricho dignos de nota.

Mark Wahlberg, nosso Michael Light, está fazendo papel dele mesmo, mas não compromete, apesar de ficar meio forçado a ideia de que um cara tão egoísta, e como ele mesmo, diz pouco afeito a animais, possa ter tido tanta ligação com Arthur. Simon Liu, como o influencer e atleta da equipe Leo, é o único a ter mais destaque no time de Light, que é completado por Nathalie Emmanuel, como a especialista em escaladas Olivia, e Ali Suliman, como Chik. Mas é o cachorro Arthur, no caso de nome verdadeiro Ukai, que está muito bem na película. Mostrando força, coragem e mesmo nos momentos que sofre dá uma veracidade à trama que é encantadora, atuação digna de Oscar. Inclusive é de se espantar o que o verdadeiro Arthur passou na corrida, percorrendo centenas de quilômetros, doente e machucado, com a equipe de maratonistas.

Uma Prova de Coragem é aquele filme que ainda pode salvar muitas tardes solitárias na frente da TV aberta, com toda a estampa de futuro sucesso de Sessão da Tarde. Mesmo com pieguices óbvias, um  americanismo forçado demais, onde desde os atletas e até os veterinários dos Estados Unidos são os melhores, e mudanças consideráveis na história original, é um filme que consegue fugir do óbvio, dando lições, tanto de que senso de equipe e ajuda mútua é fundamental para superar obstáculos, quanto em ultra maratonas na vida. E que o companheirismo animal é de uma cumplicidade e apoio incondicional e só alguém com quatro patas e muita busca por carinho e acolhimento pode transmitir. Mais que lágrimas características que filmes dessa estirpe podem provocar, nos apresenta uma bela e emocionante aventura de superação e camaradagem e o mais importante: calando a minha boca e provando que quando se menos se espera podemos ter uma grata surpresa neste Saara de tantos filmes pavorosos…

 

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