Crítica: Transformers – Despertar das Bestas

Mais uma vez, antes de escrever essa crítica, me pergunto: será que ainda precisamos de filmes dos Transformers? Obviamente que, para mim, sete longas já seriam o suficiente para engavetar projetos com carros que se transformam em  robôs, mas é claro que a indústria de cinema, sempre ávida por grana, não pensa assim e, na semana, temos mais um filme dos robozões com rodas estreando no pedaço, Transformers – Despertar das Bestas (Transformers – Rise of the Beasts, 2023), com direção de Steven Caple Jr.

O filme começa com uma batalha de tirar o fôlego, há séculos atrás, entre os Maximalls, um bando de seres de lata e ferro com aparência de animais, contra os temíveis Terrorcorns, liderados por um malévolo Unicron. Os dois grupos lutam entre si para buscar a chave Trasnwarp, artefato que tem poder de atravessar dimensões, mas que usado de maneira nociva pode destruir planetas. Aí, depois dessa guerra dos robôs, vamos para Brooklyn de 1994, onde Noah Diaz, um ex-militar, especialista em eletrônica, hoje um desempregado, tenta arranjar trabalho para ajudar seu irmão menor, que possui uma doença séria, mas não tem plano de saúde para pagar o tratamento. Depois de inúmeras negativas, Noah acaba caindo em tentação, se junta a um amigo ladrão de carros e pretendem roubar um automóvel. Ao mesmo tempo, Elena Wallace, uma pesquisadora de relíquias do museu arqueológico de Nova York, acaba mexendo numa estranha peça (a chave Transwarp) que libera das dimensões os terríveis Terrorcorns, que querem a qualquer custo a chave, mas também desperta os Autobots. Liderados por Optimus Prime e com seus parceiros icônicos como Bumblebee, Mirage e cia, eles se juntam a Noah e Elena para uma ida ao Peru, onde a segunda parte da chave está escondida, pelos Maximalls, aqueles de aparência de animais. Então, os humanos e as máquinas têm que lutar contra o tempo para chegar até a chave antes de Unicron e sua trupe para salvar a Terra da destruição.

Confesso que o filme anterior da série, Bumblebee, deu uma oxigenada na franquia contando com o carismático Camaro, trama que se passava alguns anos antes da história  do Despertar das Bestas. Esse novo filme consegue apagar um pouco da megalomaníaca série dos filmes de Michael Bay, contando uma nova história e repaginando os Transformers. Com direção competente de Steven Caple Jr., um dos méritos do roteiro, escrito a dez mãos, é dar a chance a quem não é habituado à franquia, começar por aqui mesmo, evitando a perda de tempo de lembrar ou reassistir os abacaxis do passado da série. Com a chegada dos Maximalls temos um novo universo dos robôs a ser explorado e certeza de novidades em próximos filmes. O roteiro tem grandes acertos, como usar artefatos do passado, transpor parte da trama para florestas do Peru, usando Machu Picchu como cenário, tem umas pitadas de Indiana Jones e dois atores razoáveis na pele dos humanos da série. Mas escorrega na pieguice como a doença do irmão de Noah, tratada com tintas sentimentalóides demais, utiliza de muito pouco humor e as escassas piadas tem praticamente zero de graça. Ao menos tem uma trama coesa que prima pela ação, batalhas ferozes e sequências visuais muito bem executadas.

Outro ponto positivo é o visual mais retrô dos Autobots, como Optimus Prime, Bumblebee , Arcee e Mirage, com aquela cara noventista e semelhante aos desenhos clássicos dos Transformers dos anos 1980 e 1990. Quem acrescenta muito na série é a chegada dos Maximall, desde Optimus Prime, o líder em forma de gorila, até outros robôs em forma de Chita, Falcão e Rinoceronte, dão o tom perfeito nas cenas gravadas no Peru. Os efeitos caprichados nos dão épicas batalhas, muitas à luz do dia, com cenas claras e empolgantes, em suma, entendemos o que está acontecendo, ao contrário de alguns live actions ou antigos filmes da franquia que eram uma confusão geral com aquela mistura de explosão, socos e fogo pra tudo que é lado com péssima definição.

A reconstituição do Brooklyn dos anos 1990 é muito boa, com figurinos da década, carros que realmente rodavam na época em Nova York e outro belo golaço da trama é dar um pouco mais de humanidade às criaturas metálicas, provando que são mais que apenas latas velhas que se transformam em guerreiros robôs falantes. A dupla de atores Anthony Ramos, como Noah, e Dominique Fishback, como Elena, cumpre bem o papel de escada para os personagens Transformers, não chegando a impressionar, mas mantendo a discrição, porque o público quer ver é Transformers se pegando em brigas robóticas.

Respondendo àquela pergunta que já me fiz milhões de vezes: talvez ainda possamos dar chance aos Transformers. Essa nova fagulha da franquia nos apresenta um filme divertido, com efeitos especiais incríveis, uma fotografia bem explorada, um tom saudosista, adição de personagens novos que irão acrescentar muito para as sequências e, é claro, muita batalha, lutas, destruição, efeitos visuais marcantes, tudo que o fã da série gosta demais. Simplificando, mesmo com um roteiro recheado de chavões clássicos, com pegada de autoajuda e superação, e tom sério demais, temos uma aventura de primeira que merece ser vista no cinema com muita pipoca e cérebro no modo stand by.

 

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