Crítica: Ruby Marinho – Um Monstro Adolescente

Fica muito difícil não lembrar de um kraken, um gigantesco monstro marinho, possuidor de centenas de tentáculos, tamanho colossal e assustador, sem termos como referência o clássico Fúria de Titãs (Clash for Titans, 1981), onde Perseu, montado no seu cavalo alado Pegasus, salva sua amada de ser sacrificada pela criatura, mostrando a cabeça de Medusa para a temível fera. Mesmo misturando mitologia grega com nórdica, os krakens, ou lulas gigantes, que derrubavam embarcações nos mares do norte, ainda fazem parte do imaginário marítimo. E a Dreamworks resolveu homenagear essas criaturas, só que dando doçura aos personagens, na sua nova animação: Ruby Marinho – Um Monstro Adolescente (Ruby Gillman – Teenager Kraken, 2023), dirigida por Kirk DeMicco e com estreia mundial para essa semana.

Ruby Marinho é uma adolescente comum, vive numa cidade linda à beira mar, tem amigos de todos os tipos, mas sua família, mesmo morando ao lado do oceano, coloca medo na menina sobre entrar na água. Acontece que o baile da escola, a maior tradição escolar dos Estados Unidos, vai ser em alto mar, em um barco, e a família de Ruby a proíbe de ir. Além disso, ela tem como paixão um rapaz da escola. E devido a uma tentativa de resgatar o garoto de um acidente marítimo, ela descobre que é uma kraken e também acaba sabendo que a sua mãe, descendente de uma guerreira kraken, resolveu abdicar a vida de protetora dos mares para viver uma vida em terra firme. E quando Ruby está se acostumando com sua nova condição, surge uma popular sereia chamada Chelsea, logicamente em feições humanas, conquistando a todos no colégio e se tornando uma grande amiga da Ruby. Mas a história (ao menos no filme), conta que por trás da beleza e carisma das sereias, elas são grandes inimigas e os krakens por muitas vezes salvaram os mares desses terríveis seres, o que acaba causando mais conflitos na adolescente Ruby, encantada com sua condição de monstro marinho e adorando a companhia da duvidosa sereia.

Pode parecer uma incrível coincidência, mas a Dreamworks lançar sua bela animação sobre criaturas do fundo do mar logo após o lançamento da Pequena Sereia da Disney nos cinemas, e ainda por cima, transformar as doces e, aparentemente, inofensivas mulheres peixes em cruéis vilãs é uma tirada e tanto. E inclusive transformar os sempre temidos krakens em mocinhos é mais um belo exemplo de inclusão da Dreamworks de tornar o estranho aos olhos em protagonista. Voltando ao filme, temos uma belíssima animação, com todos aqueles ingredientes básicos de uma história: amizade, conflitos familiares, dificuldade de o adolescente ser aceito e se aceitar, traumas do passado, falsas amizades e sim muita aventura e tomadas gráficas marítimas muito bem elaboradas. Aliás, desde os amigos da Ruby, todos representando bem a nova safra de adolescentes e seus esteriótipos, dramas, visual e personalidade, a simpática cidade à beira mar e as três gerações de krakens representadas pela mãe e avó da menina “monstro”. Às vezes a animação lembra um pouco filmes com Trolls ou até os Croods (com direção de DeMicco) e realmente não traz muito de novo no quesito, mas o intenso colorido em terra firme e as cenas aquáticas tem uma beleza encantadora.

No original temos vozes como a de Jane Fonda e Toni Collette, mas a versão dublada que assisti não deixa a desejar e a química entre as duas personagens, Ruby e Chelsea, é bem convincente. O roteiro escrito a seis mãos também não inventa a roda, mas cria uma história curta e grossa, muito bem costuradinha e que nos seus 90 minutos de duração, não cansa e prende bem a atenção. O humor da trama fica por conta do tio Brill Marinho, seu pai Arthur e por Gordon Lighthouse, guia turístico da cidade e velho lobo do mar com pânico de krakens, mas a história gira em torno de aceitação, honestidade e mais uma vez a importância do núcleo familiar como força motriz da vida. Tanto que na batalha final (muito mais interessante que a da Pequena Sereia) a força familiar é a única saída para vencer o mal. Concluindo, Ruby Marinho, longe do melhor que a Dreamworks fez, é um filme simpático, com uma trama acertada, programa perfeito para um cinema em família e sutilmente é uma alfinetada na sereia Ariel, ou como estamos no fundo do mar, uma bela de uma tridentada. Assista e divirta-se!

 

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