Crítica: Pânico 6

Quando, anos depois de Pânico 4, os produtores anunciaram uma quinta parte para a saga de Ghostface e suas matanças por Woodsboro, confesso que me perguntei, o que mais eles poderiam inventar? Então surgiu, em 2022, Pânico (popularmente conhecido como Pânico 5), e por íncrivel que pareça, a história, por mais dispensável que dá a impressão de ter, deu uma renovada na série e um belo sucesso de bilheteria. Com dólares a mais e empolgados com a ressureição do Ghostface, pouco mais de um ano depois, a série está de volta, só que desta vez, trocando a “pacata” cidade interiorana para a cidade que nunca dorme. Desta vez, Nova York é o cenário de Pânico 6 (Scream, 6), com direção de Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, em uma aguardada estreia nos cinemas nessa quinta.

As irmãs Carpenter, Samantha e Tara, resolvem mudar os ares de vez. Depois dos eventos do último filme, resolvem mudar para a Grande Maçã, onde Tara tenta levar uma vida o mais normal possivel, cursando faculdade e se divertindo, e Samantha ainda tenta exorcizar seus fantasmas com ajuda de um psiquiatra e bancando uma super protetora da irmã menor. Acontece que dois estudantes da faculdade de Tara, brincando de psicopatas, depois de assassinarem uma professora usando a máscara como acessório, são brutalmente mortos por outro Ghostface. Notícia essa que deixa em pânico as irmãs e os dois amigos sobreviventes, e um rastro de morte e perseguição. Mais uma vez usando as ideias de sobrevivência dos filmes anteriores, um assassino persegue as irmãs, que meio a contragosto tem Gale Weathers como aliada, que juntamente com uma sobrevivente de outro filme e um policial em busca de vinganca, já que sua filha foi assassinada pelo Ghostface, tem que enfrentar  a ameaça mascarada, tendo a cidade grande como cenário.

Nas franquias de slashers movies não é novidade que psicopatas muito utilizem a gigantesca e sombria Nova York, com seus becos, vielas, parques e metrôs, para sapecarem vítimas descuidadas. Inclusive Jason Voohres marcou presença por lá no oitavo filme da franqua de Sexta-Feira 13. E não deixa de ser essa a grande sacada e acerto da sexta parte da série de Pânico. Abandonar a cidade do interior, onde tudo aconteceu por cinco vezes e partir para um novo cenário na cosmopolita cidade, usando os mesmos personagens (leia-se sobreviventes) do último filme, conseguiu dar uma oxigenada e tanto à série. A dupla de diretores responsáveis pelo quinto episódio, com um roteiro de James Vanderbilt e Guy Busick, obviamente não fogem das convenções que fizeram sucesso na franquia; muitos telefonemas, reviravoltas, antigos personagens, referência a clássicos do cinema e o quanto o gênero de terror é importante para muita gente (alguns malucos). Só que um dos diferenciais do filme, dessa vez, é a dose mais pesada de violência explícita. Muito sangue, gore, corpos dilacerados, e tudo mostrado de uma maneira mais crua, diferenciando um pouco dos outros filmes da série, que tinham intensas facadas, mas menos profundas. Pânico 6 abusa da violência em cenas fortes, tanto que o filme ganhou censura de idade mais pesada nos cinemas. Outro ponto positivo do longa é que ele segue em ritmo de continuação, revitalizando a série com seus novos personagens, criados na última película, renovando a saga. E mesmo com facas mais afiadas e cortes mais profundos o filme também não foge do estilo terrir que marcou a série, com tiradas sarcásticas, bom humor e uma tiração de sarro dos filmes de horror e da própria série.

Um dos pontos negativos da quinta parte da série foi a protagonista Melissa Barrera como Samantha Carpenter. Realmente sua atuação deixou a desejar, engessada e sem emoção, mas como ela hoje é a equivalente à Sidney na série, nessa sexta parte tem uma atuação mais sólida e segura, ainda longe de uma protagonista do nível de Neve Campbell. Courteney Cox está de volta, agora no seu habitat, Nova York, como a incansável e imbatível Gale Weathers, dessa vez num papel na trama mais discreto, mas como sempre com o brilhantismo único da atriz. Jenna Ortega, hoje estrela mundial como Wandinha da série homônima, mais uma vez tem um grande papel e ótima atuação como Tara, a irmã mais nova das Carpenters. Jasmin Savoy Brown, como Mindy, e Mason Gooding, como seu irmão Chad, mais uma vez dão o tom de humor à trama, repetindo os divertidos papeis do quinto filme. Destaque para a cena inicial com a morte de Samara Weaving, professora de faculdade especialista em slashers movie, por um aluno viciado na série, interpretado por Tony Revolori, em um beco típico de filmes violentos novaiorquinos.

Devido ao seu poder na cultura pop a sexta parte da franquia Pânico apresenta exatamente aquilo que o público-alvo quer ver. Não existem grandes inovações no roteiro e mais uma vez passamos mais de uma hora e meia loucos para saber quem é o Ghostface da vez e somos premiados com sequências de facadas, sangue, muita ironia, jargões dos outros filmes, alguns sustos dos bons e com um diferencial: que cada vez mais o filme brinca com o poder do fã de terror e o quanto isso pode ser nocivo ou determinante para as novas histórias da série. Além de como a internet pode, através de fake news destruir reputações. Juntando a isso doses sem moderação de muita violência, o que faz, com certeza, ser o filme mais pesado da série nesse quesito. E o fato de ter trocado aquela ensolarada e colorida Woodsboro pelas escuras e misteriosas noites de Nova York deu um ar mais sombrio e angustiante, já que o que é um grito a mais na cidade grande? Considero o terceiro melhor filme dos seis, perdendo para o primeiro e empatando com o ótimo segundo, o que não é pouca coisa, mostrando que a força da franqua ainda está em alta e o público que é fã pouco se importa de rever a mesma coisa, apenas contada com novos elementos sempre de maneira muito eficiente e divertida.

 

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