Crítica: Oferenda ao Demônio

Sabe aquele filme que a gente acha que já viu mil vezes, só mudam os atores, os diretores e o cenário da trama? Algo muito comum em dezenas de produções de terror atual, mas mesmo usando e abusando do mais do mesmo, o filme consegue prender o espectador, e vá lá, provocar alguns sustos. Estou falando de Oferenda ao Demônio (The Offering, 2023), produção dirigida por Oliver Park e estreia dessa semana nos cinemas brasileiros.

O filme já começa explicando que no leste europeu existem demônios que só sobrevivem com oferendas, que incluem sacrifícios de crianças ou bebês, logo depois dessa apresentação, um judeu ortodoxo tem uma morte bizarra e seu corpo é levado a funerária de Saul. Coincide que o filho de Saul, Arthur, depois de anos, quer se reconciliar com o pai e apresentar a esposa que está gravida ao velho judeu. Mas é lógico que Arthur não veio em bom momento, e além de ter segundas intenções sobre o patrimônio do velho agente funerário, para piorar, coisas estranhas começam a acontecer na funerária, e aquele simples corpo pode guardar um desses demônios, sedentos por almas, fazendo correr riscos o casal e o filho que está pra chegar.

Como falei antes, Oliver Park não faz nada além do óbvio. Nos oferece um filme previsível e minado de clichês de tudo o que o horror tem de melhor e pior. Só que como ele não tenta inventar a roda, utilizando elementos como judaísmo chassídico, casas sinistras, câmaras mortuárias de funerárias, lendas hebraicas repletas de simbologias demoníacas, consegue costurar uma trama eficiente em noventa minutos (méritos pra ele, entretenimento sem enrolação) e com a coragem de mostrar a cara do mal! Sim, pela metade do filme já nos apresenta as feições do demônio Abyzou, que pela mitologia, era feminino e como não podia ter filhos, causava abortos e mortes a recém-nascidos. Confesso que a carinha dele não é nem um pouco amigável e como temos uma grávida na trama, podemos temer pelo que pode acontecer.

As atuações, como de praxe em produções dessas, são pífias. Tanto Emily Wisseman, como a esposa grávida Claire, Nick Blood como Arthur, o paspalho marido e até o pai dele, interpretado por Allan Corduner, não apresentam nada demais, apenas servindo de escada para a sinistra trama, os sustos e a vingança de Abyzou.

O filme usa e abusa sem moderação de um emaranhado de clichês, como portas se abrindo, círculos de sacrifício, lendas antigas contadas em voz alta para o espectador entender aquilo tudo, fitas VHS misteriosas, amuletos sagrados, crianças sinistras, velhas esquisitas, além de usar uma trilha sonora que quebra a maioria dos sustos porque aumenta em cada clima de tensão. Mas Oferenda ao Demônio agrada por não se levar a sério demais e entrega ao demônio, digo, ao espectador, com clareza, uma trama de terror consistente e digna, e mesmo com toda essa cartilha básica de filmes de terror, ainda consegue provocar alguns sustos dos bons. Apresenta de forma sinistra ao gênero esse terrível demônio, extremamente repugnante que caça crianças e fetos e tem um final bem inesperado, que foge do óbvio.

Quem é fã de terror e quer um passatempo dos bons em uma época de péssimas produções do estilo, Oferenda ao Demônio é uma excelente pedida, um filme que o diretor não foge ao que se propôs e com talento consegue nos apresentar uma história regada a religião, anjos, demônios, mortos e oferendas, em um clima de suspense constante e com um personagem que qualquer adorador do pé de bode, leia-se o capeta, vai adorar.

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