Crítica: Loucas em Apuros

E a tradução brasileira de títulos de filmes mais uma vez apronta das suas. Loucas em Apuros parece mais um filme light de sessão da tarde atual, mas foi o nome escolhido pelos tradutores para o nome em português da comédia alucinantemente divertida, com zero teor de sessão tarde, chamada Joy Ride (estreia na direção de Adele Lim), filme que estreia nos cinemas brasileiros.

O filme conta a amizade de duas meninas de descendência asiática, as únicas de uma pequena cidade perto de Seattle. Audrey Sullivan é uma chinesa adotada por pais estadunidenses e Lolo é uma chinesa imigrante. As duas desde pequenas são as melhores amigas e enquanto Audrey se torna uma grande advogada, Lolo é sua amiga com um espírito livre e artista de obras um tanto quanto chocantes. Um dia Audrey é convidada para fechar um negócio do seu escritório de advocacia em Pequim, tendo a chance de conhecer seu país Natal, mas para isso convida Lolo para acompanhá-la. O intuito da viagem é também de procurar a mãe biológica de Audrey. Então as duas amigas se juntam a Olho de Peixe Morto, prima viciada em K-Pop de Lolo, e partem para a China, onde encontram Kat, hoje atriz na China, mas ex-colega de faculdade de Audrey. Juntas, como diz o título original, viveram uma viagem de alegria, com muito sexo, festas, curtição e perrengues nas terras orientais.

É uma pena que essa divertida e ousada comédia tenha, começando pelo título, um futuro incerto nos cinemas. Não pela qualidade da trama e roteiro, e sim por que deve ficar esquecida nas salas de exibição e parece ter pouca vida nelas. Talvez um lançamento em streaming seria o local justo para essa pérola de 2023. Com boa direção de Adele Lim, Loucas em Apuros, apesar das inúmeras situações cômicas nonsense, picantes e ritmos de piadas alucinantes, é um filme sobre amizade e como com amigos a vida, por mais difícil que possa parecer, se torna mais leve. O laço de união que as duas meninas levam desde a infância, laços tanto de traços e origens em comum, como  importância que uma tem para outra, é o outro lado da balança do filme. Mas o filme logicamente é uma comédia. E totalmente despudorada. Não somos poupados de piadas pesadas, cenas de sexo, escatologia, muito consumo de álcool, drogas, tatuagens em partes íntimas e nada que grande parte de filmes de homens nunca tenha feito antes. Alguns podem dizer que lembra uma versão feminina com mulheres asiáticas de Se Beber Não Case, mas em alguns momentos do filme, Loucas por Acaso, faz Se Beber Não Case parecer uma comédia juvenil. O politicamente incorreto impera no filme, quase uma metralhadora de piadas e situações imparáveis, com muito humor autodepreciativo e usando os próprios asiáticos como alvo, uma sátira à xenofobia, regado a muito besteirol.

Muito do filme funciona pela escalação das quatro protagonistas. Ashley Park é a “vencedora” Audrey, advogada poderosa que quer ter controle da vida, mas segue perseguida pelo seu misterioso passado e suas raízes. Sherry Cola é a divertida, desbocada e insaciável Lolo, responsável pelas melhores piadas sujas do filme e tiradas espertas. Stephanie Hsu é Kat, a aparente menina apaixonada que voltou à terra natal, quer casar virgem, ser atriz famosa na China, mas não esconde sua sede por liberdade e passado animado. E Sabrina Wu é a divertida Olho de Peixe Morto, fanática por K-Pop, solitária ao extremo e que é responsável por ser a escada cômica das três meninas. Um time que funciona brilhantemente, tanto no ritmo da trama, quanto no timing de humor coletivo. Química perfeita!

Talvez a única pisada de bola do filme seja na parte final, quando descamba um pouco mais para um melodrama banal, utiliza saídas fáceis para situações complexas e tem uma ruptura de trama um pouco sem sentido, além de um desfecho extremamente clichê, mas que é salvo pelo carisma das personagens.

Tirando essa derrapagem final com requintes de sessão da tarde para menores de idade, Loucas em Apuros (que nome imbecil), já pode ser considerada uma das melhores comédias do ano, um filme que com sacadas inteligentes, mexe com os estereótipos e preconceitos, faz piada com tudo e todos, passa a sincera mensagem que a amizade ultrapassa, literalmente fronteiras, e é um libelo feminino que chega chutando a porta e se permite dizer: se os homens podem fazer qualquer coisa nos filmes, por que as mulheres não? Gargalhadas garantidas, mas tirem as crianças da sala, porque as meninas não estão pra brincadeira e suas piadas e situações não poupam absolutamente ninguém!

 

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