Crítica: Halloween Ends

No ano de 1976, Donald “Buck” Dharma, guitarrista do Blue Oyster Cult, escreveu uma canção que é um dos hinos do hard rock, digamos até soft rock, dos anos 1970. (Don’t Fear) The Reaper, presente no álbum Agents of Fortune, fez um grande sucesso, figurando em listas das melhores canções de sempre. Com uma letra enigmática, cheia de metáforas, como não temer o ceifador, ou seria o assassino, ou a simplesmente a morte, a canção até hoje funciona e muito, e não ter medo do assassino é o que a Laurie Strode, ou leia-se, a atriz Jamie Lee Curtis faz desde 1978, que é fugir, lutar e não ter medo do Michael Myers, que apronta sempre nas noites de Halloween. Com a premissa de ser o último mesmo (ao menos dessa nova trilogia), estreia nos cinemas a Halloween Ends (idem, 2022), a terceira parte da série de filmes de David Gordon Green, onde mais uma vez Haddofield vive uma época de matança.

O filme se passa quatro anos após os episódios do Halloween Kills, e Lauren Strode parece estar de paz com sua vida e sossegada com o momento de calmaria na pacata cidade. Só que um acidente envolvendo um rapaz chamado Corey, que trabalhando de baby sitter, foi acusado de matar uma criança, acaba provocando uma nova onda de violência na cidade. Allyson, neta de Laurie se apaixona por Corey, que de um rapaz bondoso e longe de qualquer suspeita, começa a ter comportamentos estranhos que podem ter ligação com Michael Myers, que supostamente está de volta.

David Gordon Green teve um mérito de ressuscitar não só Michael Myers, mas trazer de volta a saga do psicopata mascarado em uma roupagem mais moderna, e com uma ligação direta aos acontecimentos do filme de 1978. Se com o primeiro filme acertou em cheio, no segundo exagerou na dose na violência, mas deu um toque de nostalgia aos fãs da série, infelizmente no terceiro filme, fecha com pouco brilhantismo a sua série de filmes. Talvez como ponto positivo devolveu o protagonismo a Laurie Strode e deixou Myers mais escanteado, mas infelizmente seu roteiro, junto a David McBride, Paul Brad Logan e Chris Bernier, nos apresenta um filme cansativo, preguiçoso e que demora para engrenar. Na tentativa de criar um novo psicopata que tem sim alguns impulsos violentos, mas é possuído pela maldade do matador, ele desperdiça o papel de Rohan Campbell, como Corey Cunnigham, que até tenta se esforçar, sofre por um crime que não cometeu, é vítima de bullying e execrado pela cidade, porém em pouco momentos nos passa o tal ódio e ânsia de matar, característico da série, ou do matador dela. Andi Matichak, como Allyson , neta de Laurie, ganha certo protagonismo se apaixonando pelo anti-herói Corey, mas também não passa de uma atuação burocrática, picotada por um roteiro confuso. Jamie Lee Curtis sim está bem, mais uma vez tomando as rédeas do papel, dessa vez disposta a qualquer coisa por paz e livrar sua vida e sua cidade do sanguinário psicopata.

Nessa tal enrolação de transferência da maldade, possessão de ódio, impulsos violentos, e um Michael Myers mais escondido, o filme ainda sim tem algumas belas cenas de suspense, com destaque para o tal acidente de Corey e o menino que ele cuidava. Sim, o filme começa muito bem, mas depois temos um certo hiato e a violência acaba descambando mais pro final mesmo, tendo algumas boas mortes como a do radialista, que literalmente perde a língua, a da enfermeira pendurada na parede, as cenas de vingança de Corey contra os garotos malvados e o clímax final, um pouco chavão, com muita violência explicita, como os fãs da série gostam mesmo.

Halloween Ends (se é que é o fim mesmo) infelizmente é o mais fraco dos filmes de David Gordon, e não consegue ter um desfecho, ao menos ao meu ver esperado, perde muito tempo (tem quase duas horas) com um drama pessoal mal definido, passa uma sensação que a fuga dos problemas é uma solução, ou seja, fugir de Haddonfield. E só quando Jamie Lee Curtis toma a frente da trama ele realmente empolga, mas com isso já perdemos mais de 90 minutos bem cansativos e chatos. Enfim, em Halloween Ends ao menos parece que a eterna luta de gato e rato, de Laurie e Myers chega ao fim (se não resolverem levantar a franquia em breve) e como diria o sucesso do Blue Oyster Cult, quem sabe Laurie pode segurar a mão da vida e deixar de temer de vez o ceifador, ou o incansável Michael Myers. Ah, e falando em (Don´t Fear) The Reaper, ela está na trilha do filme, mais uma vez muito boa.

 

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