Crítica: Casamento em Família

Existem filmes que com um elenco errado, passariam completamente despercebidos e entrariam para o limbo do fundo do poço de qualquer sessão da tarde ou seriam esquecidos em catálogos de streamings. Casamento em Família (Maybe I Do, 2022), do diretor Michael Jacobs, teria tudo para ser um desses casos, mas o filme que estreia nos cinemas nacionais nessa semana, devido ao seu elenco de talentosos e já veteranos atores, consegue ser uma agradável comédia romântica.

No filme somos apresentados a Grace, uma dedicada dona de casa, mãe de família um pouco abandonada no casamento, que resolve em uma noite ir ao cinema, e lá conhece Sam, um homem casado, extremamente sentimental e carente. Os dois se aproximam, acabam se conhecendo, a fidelidade bateu mais forte, mas acabam se gostando. Nessa mesma noite Howard está com sua amante Monica em um hotel de Nova York e dando mostras que seu caso extraconjugal está em crise. Por último, conhecemos o jovem casal Allen e Michelle, que numa festa de casamento acabam brigando por Allen se achar imaturo por assumir um caso mais sério com Michelle. Dias depois os dois acabam vendo que tem que ficar juntos e resolvem unir os pais pra anunciar que irão se casar, marcam uma janta, só que o problema é que Allen é filho de Sam e Monica, e Michelle é filha de Howard e Grace, e o que seria um simples jantar acaba escancarando a infidelidade dos casais, pais dos noivos.

Com roteiro do próprio Michael Jacobs, Casamento em Família é uma agradável diversão. Com pitadas de Woody Allen, Neil Simon, muita Nova York, tiradas inteligentes e um time de atores de primeira, temos quase uma peça filmada com uma curta duração, uma comédia de erros com boas situações, todas puxadas pelo veterano elenco. Mas o filme, infelizmente, parece ser só isso. Jacobs tem uma direção preguiçosa, às vezes datada e com um roteiro fraquinho, onde tenta dar um ar de filosofia barata à questão do casamento. O filme começa com divertido ritmo, mas o ultimo terço realmente deixa a peteca cair e chega a ficar sem graça e enfadonho. Talvez se não tivesse o casal jovem como protagonistas e deixasse a história só para os atores rodados, teríamos uma deliciosa comédia de costumes, mais adulta e mais marcante, mas enfim, mesmo com todos esses problemas, ainda funciona.

90 por cento do ingresso de cinema, ou os 90 minutos que dedicamos ao filme, são graças ao quarteto de atores. Diane Keaton, sempre graciosa, elegantemente atrapalhada e engraçada como Grace, William H. Macy, e seu coitadismo natural na interpretação do inseguro Sam, Susan Sarandon, ácida e onipresente como Monica e Richard Gere, como o quase blasé, mas irresistível Howard, formam um quarteto incrível, fazendo uma divertida troca de casais, piadas sutis e atuações de primeira. Emma Roberts e Luke Bracey, os filhos, pouco acrescentam a trama, que é totalmente dominada pelos quatro atores. Um filme, como já falei antes, que em uma seleção de elenco errado, seria completamente esquecível, mas com a força do elenco, merece uma chance de ser conferido.

Casamento em Família tenta mostrar como as relações tendem a se enfraquecer com o tempo e muitos casais perdem aquele brilho no olho e procuram novas aventuras, tudo isso em contraponto aos jovens casais, que esperam que o casamento será sempre um mar de rosas com pétalas que jamais irão perder a cor e a força. Uma história divertida, mas que acaba perdendo muito com a direção mediana de Jacobs, que aposta demais no humor nas duas primeiras partes do filme e acaba desandando pra um final um pouco insosso, desperdiçando o material humano que tem nas suas mãos. Mesmo com esses deslizes, as grandes atuações, momentos cômicos e inteligentes, ainda fazem valer a pena assistir o filme no cinema, e só por ter o prazer de ver Keaton, Sarandon, Macy e Gere brilhando na tela, com uma Nova York ao fundo, já vale o passatempo e fazem o filme ser mais que uma produção condenada ao total esquecimento.

 

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