Crítica: A Luz do Demônio

A máxima “Nada se cria, tudo se copia” claramente é uma característica do cinema quanto de diversas artes. No caso do cinema de horror, especificamente, até hoje velhas fórmulas são copiadas, a maioria com resultados fracos. Também não podemos afirmar que ao usar velhas ideias, colocar num liquidificador e dar um novo ar às que deram certo, sempre teremos filmes ruins. Pelo contrário, alguns diretores e roteiristas da atualidade conseguem fazer obras-primas com velhas ideias e transformar em grandes filmes. Pena que A Luz do Demônio (Prey for the Devil), de Daniel Stamm, não entre nesse rol, e o filme que estreia essa semana nos cinemas, tem tudo para ser exorcizado das mentes dos fãs do gênero.

O filme conta a história da irmã Ann, uma freira que teve uma infância e adolescência traumática, mas que no convento resolve mudar de vida. Ela é transferida para uma congregação católica em Boston, onde existe uma escola de exorcismo. Ali vários padres jovens resolvem estudar diversos casos de possessão, e para as freiras, já que é proibido mulheres praticarem exorcismo, resta serem enfermeiras das coitadas vítimas possuídas pelo capeta ou doentes mentais para a ciência. Lá ela entra em embate com a Doutora Peters, que é uma quase cética e cuida da parte científica da coisa, toma sermões do Padre Quinn, que a acha muito abelhuda, e fica amiga do jovem Padre Dante. Ann tem quase certeza de que sua mãe, diagnosticada com esquizofrenia no passado, tinha um encosto no lombo e por isso conhece bem o assunto, mas o que mexe com a escola de exorcistas é um caso de uma menina chamada Natalie, que tem toda a pinta de estar possuída, e que pode ter uma ligação muito forte com a irmã Ann.

 

Daniel Stamm, até tenta, mas infelizmente, mesmo com um roteiro de 6 mãos, não consegue aproveitar uma história já meio batida e transformar A Luz do Demônio em um bom filme. Mesmo abusando de tentativas de sustos que não provocam arrepios, um clima gótico religioso, uma fotografia escura e a premissa de uma escola de exorcismos no sótão de uma congregação, o filme é um mais do mesmo sem graça. Aliás, a menina possuída, lembra totalmente a Linda Blair, do clássico Exorcista. Mas se em 1973, caras feias, línguas estranhas, andar como aranha e viradas de pescoço provocavam medo (como ainda provocam, tentem ver Exorcista sem ficar com um pouco de calafrios), no caso desse filme, a falta de novidade apenas aborrece. Sorte que o filme é curto e o festival de clichês passa rapidinho e a espera pelo medo e sustos não chega nunca.

E pra piorar, além do total falta de criatividade do roteiro, efeitos batidos, baratos e ruins para o gênero, com sustos previsíveis, temos um punhado de atores totalmente sem carisma no filme. A começar pela protagonista Jacqueline Byers, como a sofrida enfermeira Ann, que em nenhum momento consegue fazer com que torçamos por ela, um papel insosso. O mesmo vale pra Colin Salmon, como o Padre Quinn, chefão da escola, usando todos os clichês básicos dos padres mandões e sabichões. Christian Navarro, como Padre Dante, o pupilo exorcista, também não passa nenhuma segurança e carisma ao papel. Até Virginia Madsen, como a Doutora Petters, está à beira da caricatura de personagem.

Sempre me faço aquela pergunta, por que ainda se perde tempo fazendo filmes de terror iguais a todos os outros? Seria preguiça, falta de roteiristas bons, a esperança que todo o fã do gênero, por pior que seja o filme, vai por curiosidade conferir, provocando essa zona de conforto? Enfim, A Luz do Demônio, mesmo tentando dar uma roupagem mais inclusiva à questão do exorcismo, utilizando uma mulher para isso, acaba sendo um emaranhado de cenas apressadas, um falso tom de horror, mistérios banais, possessões que não assustam mais ninguém, e ainda tem tempo de usar um segredo do passado como elo, mais dramalhão mexicano em filme de exorcista impossível. Mas é aquilo que falo sempre, é cinema né, e por pior que seja, se você está disposto a perder 90 minutos assistindo A Luz do Demônio, vá por sua conta e risco em mais um filme que tende a ficar pro limbo do esquecimento muito em breve…

 

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