Bonnie Tyler apresenta show da sua turnê em Porto Alegre

Quando, em 1977, uma jovem cantora do País de Gales com um vozeirão rouco e marcante apareceu para o mundo do pop cantando a contagiante It´s a Heartache, subindo nas paradas de sucesso, um apelido curioso surgiu para a novata cantora: “Rod Stewart de saias”. Realmente sua voz era similar ao cantor escocês, mas Bonnie tinha estrela própria na música pop. Hoje, completando 50 anos de carreira e 45 anos do seu primeiro sucesso, Bonnie faz uma mega tour pelo Brasil e Porto Alegre foi mais um palco para apresentar sua turnê (adiada pela pandemia) Between the Earth and the Stars. E claro, o palco para esse show foi o Araújo Vianna e o NoSet, logicamente,  conferiu a passagem da galesa pela capital dos gaúchos.

Em um Auditório Araújo Vianna abarrotado, com muita gente em pé nas laterais, em uma noite agradável, pontualmente às 21 horas, Bonnie Tyler e seus quatro músicos pisaram no palco. Com um figurino todo de couro, mostrando sua verve roqueira, Bonnie abriu o show com Flat on the Floor, do álbum de 2013, Rocks and Honey, levantando a plateia e esbanjando sua marcante voz. Segue o show com a mais nova e baita canção Hold On, do disco que dá nome a tour, mas é com a terceira canção que realmente faz o povo cantar e ligar os celulares pra gravar. Ela faz uma breve introdução sobre a música, numa simpatia única e emenda o clássico Its a Heartache, canção que a fez ser conhecida no mundo todo, e principalmente no Brasil, já que essa foi trilha da novela Te Contei, da Rede Globo, em 1978. Esbanjando voz e fôlego, faz a plateia cantar junto entre Porto Aleeegres e muitos obrigadas.

Emenda um cover, mas não um simples cover, e sim o clássico do Creedence Clearwater Revival (onde ela explica que a banda é uma das suas referências musicais) Have You Ever Seen the Rain, que fica perfeita na sua potente e belíssima releitura. The Best is Yet to Come, do álbum mais recente, de 2021, mostra que Bonnie e sua excepcional banda queriam apresentar músicas do novo trabalho. Too Love Somebody, do Bee Gees, mais uma das suas influências, dos anos 1960, segue o show, em mais uma interpretação visceral da cantora e When the Lights Go Down, também do seu último disco, encerra a primeira metade do show. Aliás, diga-se de passagem, mérito também para o som da casa que estava na medida, uma excelente equalização, além é claro, palmas para os quatro integrantes da banda da galesa, exímios e experientes músicos.

Em sequência Bonnie Tyler explica a importância de Jim Steinman, falecido ano passado, um dos maiores compositores pop dos anos 1970 e 1980, com canções antológicas em interpretações do Air Suplly e Meat Loaf, mas em especial compôs para ela uma, para o álbum de 1983, o Faster than the Speed of Night, claro que falo de uma das power balad mais famosas do mundo, Total Eclipse of the Heart, que transformou a cantora em número um das paradas. Em uma apresentação magnética, o Araújo Vianna viaja para 1983, canta em uníssono a imortal canção e entra em catarse com a voz da cantora. Um momento único e vibrante do show, daqueles de se guardar pra sempre na memória, e hoje, nas gravações dos celulares. Nesse momento até uma bandeira do Rio Grande do Sul foi jogada ao palco e Bonnie a mostrou pra uma ensandecida galera que cantava: “ela é gaúcha, ela é gaúcha”, naqueles bairrismos típicos de quem nasceu na Província de São Pedro, Bonnie deve ter sido informado na hora e entrou na brincadeira.

Between the Earth and the Stars, outra canção do disco homônimo, dá uma acalmada no êxtase da plateia, que logo se anima de novo com Faster than the Speed of Night, outro petardo oitentista do mago Jim Steinman, que deu nome ao disco que vendeu milhares de cópias e catapultou Bonnie Tyler como uma das figuras pop mais icônicas e queridas dos anos 1980.

The Best, sim aquele megassucesso na voz da Tina Turner, fecha o show. Como Bonnie mesmo explica, ela gravou a canção quase dois anos antes de Tina Turner, no álbum de 1988, Hide Your Heart, fazendo relativo sucesso, mas estourando mesmo na voz de Tina, em 1990. A versão de Bonnie é tão boa quanto a de Turner, com arranjos semelhantes, em um pulsante pop rock com a cara dos anos 1980 e na boca do povo.

Após dar uma saída, a banda volta e Bonnie faz questão de agradecer e apresentar a sua exímia banda, agradeceu desde os roadies aos técnicos de som, chamou o marido dela, dando um beijo para delírio da plateia, mandou o produtor dos shows do Brasil dar um salve no palco, enfim, dá um show de agradecimentos a todos que fazem essa turnê acontecer. E segue com música, emendando Turtle Blues, de Janis Joplin, da época em que ela era a vocalista do Big Brother and the Holding Company, e Bonnie emulando mais uma das suas referências sonoras, com sua voz rouca e cortante faz uma gigantesca interpretação.

Fecha o show Holding Out for a Hero, clássico absoluto dos anos 1980, trilha sonora do filme Footloose, de 1984 (mais uma de Steinman), transformando o Araújo numa festa típica dos anos 1980, em mais uma vibrante canção selando um curto, mas excelente show.

Bonnie Tyler, lotando a casa, mostra o quanto marcou uma geração inteira, com sua musica pop de qualidade com a cara da década de 1980, mas nessa tour dos seus 50 anos de carreira, não se limita a apenas mexer com a nostalgia dos fãs, arrisca com composições mais novas, homenageia suas referências musicais  e consegue, com seu talento e vitalidade, mesmo com seus 71 anos, encantar a plateia com sua hipnotizante e doce voz rouca, que continua impecável, para a alegria dos nossos ouvidos e de quem curte boa música.

Crédito das fotos: Vívian Carravetta

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