A metáfora da vida é de uma eterna batalha de sobrevivência e também de vivência. Quando os humanos se organizaram em sociedades, eles têm se baseado em regras e leis para garantir a paz entre si. Porém quando o caos surge, os humanos mostram sua verdadeira face. Essa é a mensagem implícita no filme japonês de fantasia e horror dirigido por Shinji Higuchi e roteiro escrito por Yūsuke Watanabe e Tomohiro Machiyama baseado no mangá de mesmo nome escrito e ilustrado por Hajime Isayama.
Acompanhamos Eren Yeager (Haruma Miura) junto com seus amigos Mikasa Ackerman (Kiko Mizuhara) e Armin Arlert (Kanata Hongō) e o sonho de deixar os altos muros da cidade onde vivem. A cidade murada existe há um século devido aos titãs, gigantes irracionais, horrendos de se ver e devoradores de humanos. A paz é abalada com o surgimento do Titã Colossal e a abertura da muralha. Após uma carnificina que dizimou o restante da humanidade, dominou os campos agrícolas provocando racionamento dos alimentos e tornando a cidade ainda menor. Eren jurou vingar e matar todos os Titãs e entrou para Divisão de Exploração, onde atua como membro da missão de resgate do território. Junto dos seus amigos, irá salvar a humanidade.
Sensei Isayama
O recluso mangaká se aproveitou do subgênero de terror dos filmes de zumbi. Começando pelas características dos antagonistas. Desprovidos de inteligência, aspecto desfigurado e têm como o único objetivo de vida devorar humanos; andam em hordas e sua chegada é motivo de caos. Gerando nos humanos sobreviventes, dilemas morais, busca por sobrevivência e ações dúbias. Fazendo de sua criação uma releitura do gênero zumbi em formato de série de desenho japonês. Apesar de afirmar que suas inspirações foram o livro O Nevoeiro, de Stephen King, os jogos eletrônicos como Mega Man Legends e Monster Hunter e filmes estrelados por monstros como Godzilla, Mothra e Gamera.
Para a concepção dos Titãs, Isayama utiliza lutadores de artes marciais para que os Titãs tivessem uma aura imponente. Também desenhava deliberadamente os Titãs deformados igual ao afresco do pintor espanhol Francesco de Goya (Saturno devorando um filho), para criar uma sensação de desconforto e medo para os leitores.
Para a ideia das muralhas, a cidade da Alemanha chamada Nördlingen, que tem uma aparência medieval e é rodeada por muros foi ideal. A muralha da série também permite referências à cultura japonesa pela sua natureza isolada e fechada. Já o personagem principal, foi inspirado no autor enquanto criança, que vivia numa vila cercada por montanhas e ele queria saber o que havia além delas
Live Action.
O live action foi dividido em duas partes com uma hora e meia cada, representando o anime em cada metade. Para dar o tom de abandono e zona de perigo, as filmagens aconteceram numa ilha abandonada de mineração embora contasse com Chroma Key e cenas internas para o realismo de uma cidade murada. Isso está perceptível pelas cenas pouco dinâmicas e resumidas.
A computação gráfica e a captura de movimentos foram importantes para o núcleo de atores responsáveis pelos gigantes devoradores de seres humanos sem dispensar a maquiagem tradicional.
A trilha sonora se concentrou em ser fiel ao anime de origem com música instrumental clássica com um coral nos momentos de tensão; inclui faixas de músicos como Sketter Davis na sequência de piano tocando The End of the World. Do Japão, temos “Anti-Hero” e “SOS” de Sekai no Owari.
Quanto ao roteiro, por ser uma copilação de três horas da primeira temporada do anime, a prioridade foi se concentrar na ação dos personagens ao invés de detalhes pessoais. Logo, Eren passou a ser um covarde em desenvolvimento, Mikasa desaparece durante o ataque gerando surpresa nos fãs e muitos personagens do anime foram cortados. Apesar das atuações limitadas do protagonista em relação à computação gráfica e reações exigidas em um filme de tensão a todo momento sem pausa para alívios, a salvação pertence ao empoderamento feminino da atriz Kiko por equilibrar delicadeza e força sem deixar de lado o legado da personagem.
Se você é fã da série, sentirá a inferioridade dos atores em relação à obra original, mas acredite sempre existe o remake norte-americano para provar o contrário. Por isso, aproveite essa jornada em busca da sobrevivência antes que os gigantes de Hollywood devorem o espirito do mangá.