A Lista de Schindler: o Holocausto retratado por Spielberg completa 30 anos.

Há algum tempo eu vi um curioso vídeo sobre a atuação de Denzel Washington em um filme sobre negros. A repórter questionou-o sobre o motivo da necessidade de um negro dirigir tal filme. Como resposta, Denzel citou filmes como A Lista de Schindler e Os Bons Companheiros, respectivamente dirigidos por Steven Spielberg e Martin Scorcese.

Mas o que isso tem a ver com a análise da obra-prima A Lista de Schindler? Simplesmente por que a resposta de Denzel dizia que os filmes seriam grandiosos com outros diretores de talento, porém nunca chegariam ao patamar dramática e à carga emocional presente sem que seus diretores estivessem ligados intrinsicamente às realidades ali apresentadas. Denzel Washington dirigiu com maestria o filme Um Limite Entre Nós, assim como foram impecáveis Spielberg e Scorcese. Os três diretores têm algo em comum: eles viveram as culturas retratadas nessas grandes obras da Sétima Arte, fato que trouxe para as telas a realidade de cenas e situações que diretores não conectados a elas dificilmente obteriam.

E, para ser honesto, Denzel estava 100% correto.

Oskar Schindler.

                                 Estátua de Oskar Schindler no museu Madame Tussaud de Viena

Um dos alemães mais conhecidos do mundo, principalmente após o lançamento do filme, Oskar Schindler (interpretado por Liam Neeson) foi um industrial que se valeu de sua influência, poder financeiro e uma boa dose de inteligência para salvar aproximadamente 1.200 judeus. Apesar do número aparentemente pequeno, esses homens, mulheres e crianças salvos pelo ímpeto do empresário e pelo destemor dos que a ele se aliaram, foram indivíduos que tiveram a oportunidade única de passar tão perto do inferno e sobreviver. Gerações foram garantidas pelas ações de Schindler.

Como citado no longa-metragem, “aquele que salva uma vida, salva o mundo inteiro”.

Um dos pontos mais interessantes dessa empreitada perigosa e incomum está no fato de que Oskar Schindler se valeu de um dos pontos fracos mais conhecidos dos que têm poder: o ego. Através de pequenos subornos, festas e muitas regalias, ele foi se infiltrando cada vez mais em círculos que seriam, em tese, exclusivo para militares e pessoas absurdamente influentes.

Resumindo, ele foi um ator e um gênio. Mas foi sua coragem que o destacou entre outros homens de seu tempo.

Destaca-se também a atuação importantíssima de seu contador, o judeu Itzhak Stern (Ben Kingsley), sem o qual muitos teriam perecido pelo simples fato de serem homens e mulheres intelectuais ou artistas, pois a prioridade era para operários e trabalhadores braçais.

A trama.

Passada ao longo de muitos meses, a história de A Lista de Schindler serve para destacar os horrores provocados pelo regime nazista. Também destaca os esforços de Schindler e sua rede de colaboradores que resultaram no salvamento de aproximadamente 1200 judeus.

Durante todo o filme o espectador terá uma experiência única, aterradora e marcante, fará uma verdadeira viagem para uma das fases mais sombrias e terríveis da humanidade, época onde o valor de uma vida era nulo, principalmente quando esta vida era judia.

Obviamente que antes e após a Segunda Guerra Mundial tivemos outros massacres, inclusive os motivados por etnia, porém é indiscutível que os métodos e a frieza dos militares alemães (e de uma grande parte da população) colaboraram para o extermínio de milhões de pessoas cujo único crime era ser judeu.

Ghetto

A paz em tempos sombrios pode prenunciar a chegada da tormenta. Judeus foram condicionados a acreditar que os guetos eram lugares seguros, locais onde poderiam manter sua fé… e esperança. Lembro que os assim chamados “guetos” eram bairros reservados a alocar (separar, na verdade) os judeus, mantendo-os em “seu lugar”. Esses guetos surgiram após judeus terem suas propriedades tomadas para uso exclusivo de militares nazistas.

Este filme serve de várias formas de narrativas para explicitar que a guerra serve para disfarçar predadores como pessoas comuns. Entretanto, por mais que disfarcem, essa máscara não é duradoura. O poder dá a liberdade necessária para que possam agir conforme suas vontades, mesmo as mais sombrias…

Então, diante da segurança que é estar perto das pessoas que ama, mesmo em um bairro pobre e totalmente diferente de sua condição anterior, é óbvio que uma sensação de segurança se instalou entre os judeus desses guetos. O porém dessa história não está na miséria a que foram obrigados a viver. Na verdade, diante dos maus tratos e da provável morte em campos de concentração, a vida no gueto era até aceitável. O problema estava na mente de Amon Göth (papel brilhantemente interpretado por Ralph Fiennes) e seus asseclas. Para estes, punir os judeus com a humilhação da tomada de seus pertences e os trabalhos forçados era pouco.

Como escrevi antes, o poder tem o dom de mostrar o pior de um ser humano. Goeth mostrou isso diversas vezes enquanto foi o Comandante em Plaszow, na Cracóvia.

Elementos reais presentes no longa-metragem.

Além de Oskar Schindler, Amon Göth e Itzhak Stern, personagens como Diana Reiter (a arquiteta que condena uma construção por sua má execução), Poldek Pfefferberg (Jonathan Sagall) e muitos outros são reais. Alguns aparecem em uma emocionante cena ao final do filme, já idosos e cansados, mas vivos graças aos esforços de Schindler e Stern.

Outros elementos reais mostrados na obra são a frieza dos militares alemães, os abusos ininterruptos de poder, a humilhação e as condições degradantes a que os judeus foram submetidos.

De forma sumária, este é um filme para ser assistido. Recomendo, entretanto, cautela por parte do público mais sensível, pois não há atenuação dos fatos que transformaram o nazismo em uma das mais nefastas partes da História.

Origens da Lista.

O filme é baseado nos relatos presentes na obra Schindler´s Ark, livro escrito através dos relatos de um dos sobreviventes que compôs a Lista de Schindler. Este sobrevivente se chamava Poldek Pfefferberg e tem grande destaque no longa.

Poldek buscou transpor a história de Schindler antes, mas não houve escritor que se dispusesse a fazê-lo. Eis que o escritor australiano Thomas Keneally aceitou o desafio. No ano de 1982 é lançada a obra literária Schindler´s Ark (A arca de Schindler) nome devido à alcunha que o empresário recebeu por parte dos judeus que ele salvou: o Noé moderno.

Apesar das críticas recebidas onde alguns citam que Schindler recebeu mais atenção dos que os próprios judeus, a verdade é que a obra tem o propósito de homenagear um homem que partiu da ganância e do lucro para o humanismo. Oskar poderia ter usufruído de todos os privilégios que um empresário rico e influente, membro do Partido Nazista faria jus, mas o fato é que ele se arriscou como poucos fariam para salvar pessoas que – em tese – não eram importantes para ele.

Garantias.

Um dos pontos curiosos do roteiro é a contínua garantia que os judeus recebem por parte dos nazistas. Além do já citado ghetto, eles têm cartões de trabalho e identificação. São homens e mulheres – em sua maioria produtivos – que estão contribuindo para o regime nazista. Todavia, essas “garantias” e “liberdades” são apenas distrações para o pior.

Por meio de uma relativa tranquilidade, judeus na Cracóvia acreditaram por um tempo na sobrevivência, grande parte dessa crença alimentada pela rotina de trabalho e a segurança que o famigerado gueto gerou.

Por fim, o que encontramos a partir de certo momento do filme é a total destruição da esperança, o assassinato de pessoas e das garantias de um Estado justo, voltado à defesa do cidadão comum. Todos, faço questão de frisar, todos os direitos de um indivíduo foram rechaçados por homens que se consideravam acima do bem e do mal. Armados e diante de famílias inteiras sujeitas ao terror, ficou relativamente fácil transformar essas pessoas em “animais para o abate”.

E qual lição fica disso? Simplesmente a lição de que nós temos que ter condições de defesa. Fica a lição de que pessoas detentoras de força e ódio, cujo excessivo poder os coloque à frente de outras, são verdadeiras bombas, prontas para explodir e destruir tudo aquilo que considerem ruim, ofensivo ou contrário às suas crenças.

Deus.

Em meio ao caos da guerra, alguns homens são tomados pela equivocada sensação de que são deuses, seres com poderes divinos, seres com poder sobre a vida e a morte. Na verdade, esses indivíduos são somente pessoas comuns que estão em situação de privilégio por causa da condição imposta pela guerra.

O verdadeiro Amon Goeth, o comandante do campo de concentração de Plaszow

Ao longo da história da humanidade, vimos muitos exemplos iguais. Geralmente eles se valem dos títulos ou do poder do cargo que possuem para impor o medo. Afinal, não há nenhuma lei que consiga dar mais poder a uma pessoa do que o medo. Governar pelo terror é eficiente. Governar pelo terror faz com que as pessoas ao redor não mais olhem para o ser quase divino que ordena quem vive e quem morre.

Um único adendo a isso tudo: qualquer um pode quebrar um galho de uma árvore, mas ninguém é capaz de recolocá-lo de volta. Destruir é simples. Construir é algo que demanda tempo, vontade e capacidade. Impor o medo é uma regra ancestral que os ditadores e líderes covardes se valem, ainda que se esqueçam que não há poder que sempre dure.

Amon Göth e outros nazistas se valeram do poder que suas posições, uniformes e armas lhes deram, porém se esqueceram que a História já comprovou que não há mal eterno. Cedo ou tarde o poder cessa e, felizmente, aqueles que se julgaram deus terão que prestar contas como meros humanos aos que fizeram mal.

Crença.

Outro ponto curioso sobre a dominação pelo medo está na incredulidade dos dominados. Isso é visto em algumas partes de A Lista de Schindler. Homens e mulheres não conseguem acreditar nas atrocidades relatadas por outras pessoas, mesmo quando já vivenciaram coisas e situações dignas de uma obra de terror.

Apesar de terem passado por tudo o que há de mais degradante e assustador, as pessoas buscam encontrar algo bom nas trevas, buscam afastar de sua mente e coração os horrores vindouros, como se ao agir assim pudessem manter fora de seu alcance essas desgraças.

Infelizmente, isso nem sempre dá certo.

Fé.

Aprender a manter a fé quando diante das mais terríveis agruras é uma das lições que tiramos dessa obra atemporal. Judeus não abandonaram a fé quando foram presos e torturados em todas as formas possíveis. Eles não passaram a adorar outro Senhor quando viram seus entes queridos serem conduzidos como gado para o matadouro. Pelo contrário, foi através da preservação da fé e do amor pelos que ainda estavam vivos que eles chegaram ao final do Holocausto, boa parte em condições de saúde e sanidade próximos da morte… mas sobreviveram.

Manter a fé – ensinam aqueles que passaram pelo massacre nazista – é parte indissociável da sobrevivência.

Humilhação.

É muito simples sentir simpatia por uma personagem específica, um protagonista ou alguém cuja história esteja próxima da nossa. Entretanto, A Lista de Schindler foca pouquíssimo em personagens, já que a trama tende a abordar a totalidade do Holocausto, mais especificamente a parte que diz respeito ao campo de concentração de Plaszow.

Por meio dessa abordagem ampla, onde um grupo é, teoricamente, o “protagonista”, Spielberg trouxe ao público uma experiência única e impactante. Contemplamos ao longo de toda a obra o gradual processo de tentativa de destruição de um povo.

A todo segundo nós acreditamos que o famigerado “fundo do poço” já foi alcançado, mas a verdade é que a mente humana é poderosa quando se trata de praticar o mal.

Crianças.

Por mais que sejamos fortes diante das calamidades, ninguém tem forças para aguentar o impacto quando este é dirigido para nossas crianças.

Steven Spielberg fez questão de explicitar o destino de incontáveis crianças judiais, assim como o sofrimento dos adultos que nada podiam fazer. Mesmo sem o derramamento de sangue explícito, o fato é que somos atingidos de forma violenta pela frieza dos nazistas diante de meninos e meninas indefesos e sem maldade no coração.

Destaque para o senso de sobrevivência de algumas dessas crianças que puseram de lado o medo paralisante para buscar mais um dia de vida.

Evacuação.

Medidas desesperadas por parte das autoridades nazistas foram emanadas em 1944. Diante das dificuldades no front, da falta de recursos para o aparato bélico e a grande perda de soldados em combate, Hitler e seus asseclas determinam a gradual destruição de provas. No caso em questão, as provas seriam os corpos decompostos de milhares de judeus. A solução para eliminá-los foi a incineração, uma das passagens mais sombrias e macabras da obra, já que os corpos exumados para cremação eram de pessoas de todas as idades, incluindo os pequeninos corpos de crianças.

Neste ponto é fácil perceber que nem mesmo os soldados alemães estão com sua sanidade mental intacta. O clima é avassalador e mais horrendo do que os campos de corpos empalados por Vlad, o Dragão.

As dores do mundo.

Apesar de serem atores, a verdade é que o elenco do filme foi submetido a uma carga emocional intensa. Ninguém sai incólume de uma imersão tão bruta a um universo cheio de ódio, racismo, dor, perseguição, humilhação e crueldade.

Eu imaginei, durante todo a projeção do filme, como estariam as mentes das pessoas envolvidas no processo de criação dessa obra. Como ficaram os pais e mães que – ainda que por pouco tempo – reviveram as mais cruéis experiências sofridas pelos judeus? Como imaginar que pessoas que você ama estão sendo conduzidas para o extermínio ou quão dolorosa é a experiência de ver um amigo ser morto pelo simples fato de que alguém estava entediado?

Uma das passagens mais impactantes é aquela onde os judeus são analisados como se fossem porcos. Nus, assustados e conduzidos com rispidez, eles passam por uma humilhação indizível, além de estarem conscientes que os “descartados” dessa seleção seriam mortos.

Tudo isso foi visto e vivido por esses atores e atrizes, cujos talentos nos fizeram acreditar que fôssemos testemunhas oculares dessa covarde barbárie.

Diálogos impecáveis.

É claro que as atuações dos astros foi primordial para ampliar a credibilidade da trama. Mas é válido destaca que o elenco de apoio (sejam nos papéis de judeus ou alemães) foram primordiais para que a imersão dos espectadores fosse contínua. É impossível se desligar dos acontecimentos ao ponto de perder a sensação de “espectador” do fato histórico, muito disso devido às atuações e aos diálogos escritos para emocionar.

Algumas passagens entre Schindler (Liam Neeson) e Stern (Ben Kingsley) ficarão na memória.

O preço de uma vida.

Após um turbulento período como “empresário”, período no qual Schindler usufruiu dos prazeres que o dinheiro e o poder trazem, mas também podem revelar o que há de pior em uma pessoa com tais atributos, ele finalmente chegou a uma encruzilhada.

Agora, mais do que em qualquer outro momento, estaria em suas mãos a escolha entre permanecer rico ou salvar vidas. A escolha óbvia dele, como mostra a História, foi a de sacrificar seus bens em prol da conservação das vidas de homens, mulheres e crianças que estiveram servindo-o por um longo período.

Hoje é relativamente simples falar sobre a escolha que ele tomou. Alguns podem diminuir o feito, no entanto é vital observar que uma única cartada errada seria uma condenação para Oskar Schindler, um alemão e membro do Partido Nazista que seria enquadrado e punido por alta traição.

Ele teve o discernimento de descobrir que nada vale mais do que uma vida, fato que o levou a buscar a salvação do número máximo de vidas que ele pôde. Schindler foi um bon vivant durante sua gestão como dono da fábrica de esmaltados, isso é inegável. Contudo, ele foi um homem de coragem ao arriscar a própria vida para salvar as 1200 pessoas que ele escolheu. Aliás, o simples fato de “escolher” já foi uma verdadeira tortura para ele, pois o que fica registrado em nossa memória é sua dor ao não poder escolher e pagar por mais pessoas.

Medo até o fim.

À esquerda, o verdadeiro Amon Goeth. À direita, Ralph Fiennes dá vida ao nazista.

Spielberg não amenizou os sofrimentos judeus em sua obra-prima. Muitas das passagens são tão intensas que nos obrigam a chorar. Não se trata de exagero ou de comoção gratuita. Trata-se de ver – e viver – o sofrimento alheio com tanto realismo que nós, o público espectador, somos imediatamente transpostos para o lugar das pessoas que foram tão brutalmente torturadas pelos nazistas.

Mesmo no momento em que acreditamos que o fim está próximo, Spielberg entrega ao espectador outra dose da maldade humana. Desta forma, a espiral de medo que o filme carrega consigo é uma das mais intensas e tristes da história do cinema.

Trilha sonora.

A sempre genial trilha sonora de John Williams é uma das pérolas presentes no longa-metragem. Ao decorrer da obra essas músicas provocam mais impacto a cada cena, cada passagem.

Unida às várias passagens memoráveis e ao apelo emocional presente na trama, a música é parte indissociável dessa peça de arte criada por Spielberg.

Bravura.

A audácia de Oskar Schindler lhe rendeu e continuará a render homenagens por várias gerações. Hoje, diante dos acontecimentos históricos, é relativamente simples achar um direcionamento ou opinar sobre como deveria proceder. A verdade, entretanto, é a de que Schindler agiu conforme as situações surgiam. Ele, como dizemos hoje, “apagou um incêndio por vez”, sempre se valendo da astúcia, da bravura e, claro, de sua rede de ajudantes que o conduziram a um lugar único na História.

Nota final.

Com um orçamento relativamente baixo, Spielberg conseguiu recriar uma das mais tristes passagens da humanidade. Por se tratar de uma história que envolveu as pessoas de sua família.

Steven Spielberg é judeu, mas ao contrário do que ocorreu durante os anos 30 e 40, ele não precisou mudar a grafia de seu nome para ser aceito. Com orgulho, mas também com muito pesar, ele conseguiu trazer à vida uma das mais emocionantes tramas do cinema, um marco atemporal que tem quase o peso de um documentário.

Assim, tal como deveria ser, Spielberg e todos do elenco e equipe técnica foram responsáveis por trazer mais uma obra cuja pertinência, impacto emocional e uma reconstituição histórica impecável serão vitais para a continuidade dessa memória e de tudo aquilo que poderá ser evitado quando lembrarmos do mal que o ódio e o ignorância podem provocar aos homens.

Entretanto, um ponto deve ser destacado. Após o Holocausto e os julgamentos dos nazistas, mesmo depois da verdadeira caçada a esses monstros, nós já presenciamos na História outros massacres motivados pelos mais torpes motivos: poder, ódio étnico, política, racismo e intolerância. Infelizmente não vimos o mesmo rigor na caça a esses monstros, responsáveis por milhões de mortes de inocentes.

Que o mundo jamais se esqueça do que foi o Holocausto. 

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