Aquilo que é atemporal – “A Incrível História de Adaline”

O sonho de todos de parecer mais jovem ou viver bem mais do que o estimado pode levar a descobrir que, como taças de vinho e amantes, os anos não podem ser contados (de forma matemática).

O filme “A Incrível História de Adaline”, dirigida por Lee Toland Krieger, escrito por J. Mills Goodloe e Salvador Paskowitz, que adaptaram o roteiro do próprio livro, e disponível no catálogo nacional da Amazon Prime Video, mostra as muitas desvantagens dessa juventude quase eterna.

Adaline Bowman era uma jovem normal de São Francisco, nascida na virada do século XX (na madrugada do ano novo). Conheceu seu marido ainda jovem, casaram e tiveram uma filhinha, Fleming, mas também ficou viúva muito jovem (ele faleceu em um acidente de trabalho), aos 29 anos.

Em uma noite de inverno ela dirigia sozinha para a casa de praia da família, onde Fleming estava com os avós, mas sofreu um acidente no caminho, carro derrapou na fina camada de neve que se acumulando na estrada, fazendo o veículo cair no rio gelado.

Nevar é raro em São Francisco e no estado da Califórnia, mas mais raro ainda foi o aconteceu depois. Adaline, depois de tentar sair do carro e lutar para voltar para a superfície do rio, perdeu os sentidos e seu coração parou de bater por alguns minutos, voltando a bater quando um raio atingiu o carro, que rebateu a energia, atingindo o que estivesse ao redor (serviu como um desfibrilador).

Ela não só sobreviveu como não envelheceu mais a partir dali. No começo tentou continuar vivendo na mesma comunidade onde cresceu, mas as perguntas se acumulavam e ela estava ficando sem respostas. Decidiu se mudar e foi trabalhar em uma faculdade de medicina, assim conseguiu estudar sobre fenômenos biológicos, buscando uma resposta, mas tudo o que conseguiu foi chamar atenção da CIA.

Adaline serviria de experimentos do governo dos EUA, sabendo disso ela fugiu novamente, dessa vez tendo que mudar a forma como vivia com a filha (agora já na faculdade). Elas passaram a viver longe uma da outra, mas sempre em contato, tomando cuidado para que Adaline não fosse descoberta. Foi aí que ela começou a mudar de nome e documentação (falsa) a cada 10 anos.

Ela viajou, aprendeu muito e encantou muitos, teve outro amor, o de William Jones, mas decidiu que isso não daria certo por causa da condição dela.

Em 2014 Adaline estava de volta em São Francisco, agora como Jennifer Larson, trabalhando no setor de arquivos da biblioteca municipal. Mas já estava planejando se mudar para o interior, viver mais próxima de Fleming, talvez voltar a viver com ela, já que a filha agora era idosa.

Mas a virada do ano chegou antes e ela foi para a festa luxuosa onde a amiga iria tocar. Depois da virada, quando ela decidiu ir embora, um estranho e charmoso estranho entra no elevador e tenta puxar assunto com Adaline, ela, com toda a classe que tinha, tentou despistar e, naquele momento, ela conseguiu.

O que ela não sabia era que aquele moço era Ellis Jones, o novo filantropo da biblioteca que havia feito uma grande doação. Não era a primeira vez que ele a via, na verdade Ellis viu Adaline … quer dizer, Jenny, para aquele momento … nas escadarias da biblioteca lendo um livro em braile, aquilo chamou atenção dele e ele fez de tudo para se encontrar com ela.

Era claro que eles tinham uma ligação forte e Adaline estava se apaixonando de novo. Ela até tentou afastar Ellis o máximo que pode, ser fria com ele e o fazer desistir de ter alguma coisa com ela, mas não conseguiu. Pela primeira vez em muitos anos Adaline se abriu para o amor.

O próximo passo era conhecer a família de Ellis e eles fariam isso no aniversário de casamento dos pais dele, que seria na casa de praia da família. Lá estava Adaline/Jenny com Ellis, a irmã e a mãe deles, mas quando conheceu o pai dele foi como se um filme passasse em sua cabeça, era William, aquele jovem sonhador por quem ela havia se apaixonado décadas passadas.

William também percebeu que aquela era Adaline, ou Della (como a chamava), mesmo sem muitas chances de isso ser verdade, mas ela segurou a identidade de Jenny, dizendo que Adaline era sua mãe. Isso não ajudou muito, porque William ficou melancólico e logo a esposa percebeu que a tal Adaline era alguém importante que veio antes dela.

Era impossível passar um final de semana inteiro de baixo do mesmo teto sem que a história viesse a tona, especialmente quando Adaline já não aguentava mais fugir e viver sob outro nome. William descobriu por causa de uma cicatriz e ela confessou tudo, começando sua última fuga, sem nem se despedir de Ellis.

Na mesma estrada que sofreu o acidente décadas atrás, Adaline, quando decidiu voltar e conversar com Ellis, é atingida por outro carro. Mais uma vez o coração dela parou de bater por alguns segundos, dessa vez sendo reanimada por um desfibrilador de verdade.

Quando ela acordou era Ellis que estava ao seu lado, foi nesse momento que ela decidiu contar tudo a ele, só assim eles poderiam continuar juntos. Quem mais gostou de ver a decisão dela foi Fleming, que há muito tempo via a mãe mais solitária do que era preciso e sabia que ela merecia ser feliz.

De alguma forma, também desconhecida, depois desse acidente Adaline voltou a envelhecer naturalmente, do ponto em que parou.

De forma poética, o subtítulo do filme é “Adaline não envelhecia até que ela encontrou algo atemporal” (tradução livre para “Adaline was ageless ntil she found something timeless”).

A delicadeza como essa história é contada faz com que ela tenha uma beleza cativante, começando pela narração, bem ao estilo de “O Fabuloso Destino de Amelie Poulin” e “Uma Beleza Fantástica”, sendo complementada por detalhes que parecem ser um quebra cabeça, porque o filme não mostra a linha do tempo clara.

Vemos ao longo do filme cenas do passado de Adaline por meio de flashbacks, fosse ela assistindo um filme antigo, lembrando de momento específicos, vendo fotos ou nos aparentes delírios de William.

Aliás, tem um detalhe muito bonito que envolve William. Ele era astrônomo e ele pesquisava sobre um cometa que passou pela Terra séculos atrás, ele calculava que o tal cometa passaria novamente em 1991, mas não passou. Ele nomeou o cometa de Della, era aquilo que quase teria dado certo.

Quando ele achou que o relacionamento com Adaline seria sério, havia até comprado um anel e iria propor casamento, ela sumiu da vida dele. Da mesma forma, ele calculou com tanta dedicação a trajetória do tal cometa, mas acabou também errando.

O romantismo de William foi passado para Ellis, todas suas surpresas e forma de encantar Adaline foram bem sucedidas. Em dado momento ela confessa que se fosse contar sobre seu segredo para alguém, esse alguém seria Ellis, ela não só havia se apaixonado por ele, ela sentia confiança nele.

Esse estranho triangulo amoroso foi formado por três atores que souberam passar todas as nuances. Adaline Bowman foi interpretada por Blake Lively, a eterna Serena Van der Woodsen, de “Gossip Girl”. Esse foi um dos primeiros trabalhos dela depois da série e dos filmes de “Quatro Amigas e um Jeans Viajante”, ou seja, foi uma faz primeiras vezes que Blake interpreta uma mulher adulta, não uma adolescente, e foi uma transição muito bem feita, conseguindo mostrar a complexidade e a doçura de Adaline.

Ellis Jones foi vivido por Michiel Huisman, conhecido por séries como “Game of Thrones” e “The Hauting of Hill House”, além do filme “A Sociedade Literária e a Torta de Cascas de Batata”, que tem resenha por aqui (onde falo mais dele).

William Jones é interpretado por Harrison Ford, o eterno Indiana Jones, tendo se tornado famoso em papéis mais duros, talvez até rudes. Foi uma boa surpresa o ver na pele de alguém mais sensível e sonhador.

Além deles três, o filme conta com a presença de:

– Kathy Baker, como a esposa de William, mãe de Ellis. A atriz é conhecida por títulos como “De Repente 30”, “O Clube de Leitura de Jane Austen”, “Medium” e “The Ranch”.

– Ellen Burstyn, como Fleming já idosa. A atriz é conhecida por títulos como “Greta” (2009), “Big Love” e “Interestrelar”.

– Amanda Crew, como Kiki, irmã de Ellis. A atriz é conhecida por títulos como “Premonição 3” e “Silicon Valley”.

Até mais!

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