Reescrevendo a comédia – “Late Night”

Por anos a televisão explora a comédia de diversas formas, uma das mais populares nos EUA, que também tem ganhado o gosto brasileiro, é o Talk Show. São vários os comediantes que se encontraram na mídia como apresentadores, mantendo seus programas por décadas, em geral, tarde da noite.

O longa “Late Night” faz uma análise crítica, com um humor inteligente e ácido, sobre esse formato, mas com uma mulher à frente do programa. A comédia é de 2019, foi dirigida por Nisha Ganatra, o roteiro é assinado por Mindy Kaling, que também estrela a produção, compartilhando holofotes com Emma Thompson.

Uma curiosidade é que Mindy Kaling escreveu esse roteiro especialmente para Emma Thompson!

Ah, o filme foi distribuído pela própria Amazon, então seu lançamento já foi dentro do respectivo streaming, um dos primeiros da Prime Video neste formato.

Katherine Newbury é uma comediante inglesa que caiu nas graças dos estadunidenses, tanto que comanda o Late Night, Talk Show próprio, uma evolução de suas apresentações de Stand Up. O programa completou três décadas no ar, Katherine continua a ganhar prêmios, mas a audiência não é mais a mesma, sinais são dados que algo precisava mudar.

Acontece que ela, conforme o show foi crescendo, Katherine passou a se distanciar mais do processo criativo, deixava a cargo de seu braço direito e da equipe de escritores, que ela pouco conhecia, mal fazia reuniões com eles. Outro detalhe era o fato de a equipe não ter mulheres, era como se Katherine não soubesse ou não gostasse de trabalhar com mulheres.

A falta de diversidade e de interesse deixou o programa datado, correndo o risco de perder ou de mudar de mãos. Quando percebe isso, Katherine decide mudar as coisas, passa a acompanhar a equipe de escritores e tenta “consertar” a falta de mulheres e de diversidade em geral.

Essa preocupação não é genuína, mas foi a oportunidade que Molly Patel estava esperando há anos. Molly era fã do Late Night e outros programas de humor desde pequena, admirava o mundo que via pela televisão, que era basicamente a única forma de entretenimento que conhecia.

Molly era a síntese que Katherine precisava, mas Katherine não era aquilo que Molly esperava. Por ser uma pessoa fora da curva dentro dos estúdios do programa, Molly não foi bem recebida entre os colegas, afinal nem formação para roteirista ela tinha, até então ela trabalhava em uma fábrica.

Mas o fato de Molly vim de fora desse mundo, podendo dar opiniões do ponto de vista do telespectador, faz com que ela se destaque, depois de muito choro e desespero para agradar a todos.

Aos poucos, Molly e Katherine conseguem reerguer o programa, enfrentando os obstáculos internos e externos, uma ensinando e relembrando a outra o que a comédia inteligente, que não agride ninguém, pode proporcionar para as pessoas.

A equipe de escritores/roteiristas têm papel crucial, apesar de começarem o relacionamento com Molly como se estivessem no ensino médio (ou na quinta série, tamanha infantilidade), ela consegue extrair coisas boas deles e também desmascaram quem só estava ali para atrapalhar.

Embora a temática seja outra, o papel de Katherine me lembrou mundo o de Miranda Priestly, de “O Diabo Veste Prada”, e o cabelo propositalmente branco ajuda nessa menção honrosa. De toda forma, são duas mulheres em um posto de poder, que são frequentemente questionadas sobre suas qualidades e criticadas por atitudes que passam a brancas nuvens quando homens as praticam. E elas encaram isso com a dureza que a vida lhes ensinou.

Pode parecer repetitivo, mas vou falar de novo, o filme é uma comédia inteligente, que arranca boas risadas, mas faz reflexão sobre questões essenciais, como o feminismo, o respeito ao ambiente de trabalho, a ética profissional, a saúde mental e a diversidade.

Além das maravilhosas Emma Thompson (“Cruella”, “Nanny McPhee”, “Simplesmente Amor”, “Razão e Sensibilidade”, etc) e Mindy Kaling (“The Office”, “The Morning Show”, “Oito Mulheres e um Segredo”, “The Mindy Project”, etc), o elenco conta com nomes como:

  • John Lithgow, como o marido de Katherine e famoso pianista, Walter Lovell. O ator é famoso por produções como “Dreamgirls”, “Shrek” (voz de Lord Farquaad na dublagem original) e “The Crown” (um dos mais perfeitos Winston Churchill’s da ficção);
  • Hugh Dancy, como o escritor mais antigo da equipe (e o que dava mais trabalho), Charlie Fain. O ator é famoso por produções como “Uma Garota Encantada”, “Os Delírios de Consumo de Becky Bloom”, “Homeland”, “Hannibal” (que acaba de chegar no catálogo da Prime Video) e “Downton Abbey: Uma Nova Era”;
  • Reid Scott, como o escritor mais antipático, mas mais talentoso da equipe, Tom Campbell. O ator é conhecido por produções como “Veep”, “Por que as mulheres amam”, “A Maravilhosa Sra. Maisel” e os dois filmes de “Venom”.

Até Mais!

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