Power Rangers: É hora de renovar

Quando eu era criança lá no interior de Minas Gerais, quem gostava de Power Rangers era açoitado psicologicamente pelos coleguinhas, a ponto de combinarmos de ir mais cedo para a escola só para mostrar que a gente não assistia Power Rangers pós TV Globinho.

Entendam, uma zona rural como a qual eu morava, e que eu duvido muito que a internet banda larga já tenha chegado por lá, não tem acesso a esse conceito de cultura pop, e, consequentemente essa tendência quase escancarada de ter que gostar de tudo que é feito para o público jovem que veio importado do Japão. Então, quando o pré-adolescente mais popular do grupo decidiu que era feio gostar de Power Rangers, restava ao resto da alcateia seguir sua decisão e só assistir escondido nos dias em que faltávamos na escola.

Mas, na verdade, independente de imposição, obrigações sociais ou medo de ser motivo de chacota, eu nunca fiz muito esforço para não gostar de Power Rangers, é claro que a maioria dos uniformes eram legais, e o filme de 1995 que não cansava em passar nas tardes de férias era um dos melhores de se assistir naquela época. E existia um jogo de SNES extraordinário!

Mas, quanto aos episódios que serpenteavam nosso dia-a-dia, eram estranhos e desnecessários de acompanhar. A história pouco andava, os movimentos do gênero Super Sentai não são de agrado de todo jovem caipira e, sejamos sinceros, eram faíscas de mais.

Dito isso, devo deixar bem claro que o trailer deste novo filme, em nada me empolgou. As piadas eram péssimas, e os uniformes era certamente um dos piores que eu tinha visto até hoje. Futurista demais, espacial demais, nada a ver com estes lindos uniformes aqui, por exemplo.

Lindos mesmo, não?

É óbvio então, que cheguei no cinema com a certeza de que o novo filme só podia dar ruim.

Entrei na sala de pré-estreia com um tanto de fãs fervorosos discutindo teorias e mais teorias sobre os Rangers, sobre suas temporadas favoritas e listando um por um os fan services que deveriam estar no filme.

A sala escureceu, o filme começou.

A primeira sequência, a de apresentação do Ranger Vermelho, foi ridícula! Era tudo que o trailer prometia, situação idiota, com piadas idiotas e atuações abaixo da média. Pronto. O suficiente para eu trocar o meu olhar sobre o filme e esquecer qualquer potencial que ele teria de entreter o público, estava atento para ressaltar qualquer falha existente no filme; focar nas outras tantas piadas de mal gosto, no figurino mais ou menos ou até mesmo criticar a atuação esquisita de Bryan Cranston como Zordon…. Aaah, Mr. Cranston,  este homem que nos deixa chateado a cada atuação mediana que ele entrega depois de arrasar todos os nossos corações como Walter White em Breaking Bad.

Sorry, Heisenberg :/ That’s the truth

Mas aí que está a surpresa! Eu saí do cinema extremamente empolgado! É claro que o filme tem esses defeitos listados aí em cima e apesar do roteiro fazer um bom trabalho e deixar claro sobre o-quão-é-importante-os-Power-Rangers-serem-uma-equipe-para-conseguir-combater-toda-a-força-do-mal-que-quer-destruir-a-vida-na-terra, os atores não conseguiram me convencer de jeito nenhum, a cada bela nuance do roteiro o filme ficava mais interessante, mas os atores prejudicavam todo o potencial de seus personagens.

Quanto a fotografia, ela se uniu com o roteiro de uma maneira mais natural que os personagens e viraram amigos, e como uma dupla de samurais, fazia um trabalho excelente, conseguindo extrair o pouco de talento que o quarteto Jason, Kimberly, Zak e Trini consegue demonstrar durante o seu tempo em tela.

Mas sobre as atuações, isoladamente ressalto as atuações de RJ Cyler (Billy Cranston, o Ranger Azul) que rouba o protagonismo do filme diante da sua facilidade em agir com uma câmera ligada na frente dele, muito diferente dos seus colegas. E elogio também a atuação de Elizabeth Banks (Rita Repulsa) que me agradou bastante! Aliás, sobre a Rita, que trabalho primoroso que fizeram. Em tempos de filmes de Marvel, é justo afirmar que fazia muito tempo que não via um bom vilão num Blockbuster. E todos os aspectos em volta da personagem foram excelentes, na maioria das cenas em que ela apareceu, foi merecido o selo James Wan de qualidade por misturar terror e efeitos 3D super coloridos.

De resto, é um Clube dos Cinco contemporâneo, com todos os defeitos e qualidades que essa afirmação pode ter, com um elemento visual muito parecido com os efeitos de Poder Sem Limites (2012).

Foi uma renovação recheada de fan services, como os fãs queriam, mas quase não foi baseada neles, é realmente uma nova visão para os heróis que se ‘estadunizaram’ de vez e deixaram pra lá toda a cultura dos Super Sentais.

Claro que não faço a crítica sabendo o que pessoas tipo aqueles caras que conversavam animados na sala de cinema antes de começar o filme, os verdadeiros fãs da franquia, tem a dizer sobre o filme. Mas eu percebi que eles saíram menos animados que entraram. Mas como um recém libertado garoto pousoalegrense que enfim pode admitir que gostou de Power Rangers, de fato, pela primeira vez na vida dou o meu palpite que a maioria das pessoas vão se divertir bastante no cinema durante o filme.

Os produtores apostaram num diretor e num elenco inexperiente, mas o que salvou o filme foram os mais rodados roteirista e diretor de fotografia. Se manter a mesma equipe, é muito provável que os filmes vão evoluindo assim como os personagens e essa interação nunca passa despercebida na tela.

Que venham mais filmes! Mas venham com calma e com um trabalho cada vez melhor.

Nota 7,0 de 10.

E quando eu for brincar, vou querer ser o Ranger Azul!

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2 Comments

  • Crítica demais! Eu não tenho esperanças quanto a este filme… quem sabe um dia quando passar na sessão da tarde repetidamente em 2095 🙁

  • Não nutro esperanças com Power Rangers justamente por alguns dos motivos apontados: negação da origem (nipônica) dos heróis, o excesso de infantilidade e a tentativa de retomada de algo que era simplório à época. Caso tivessem seguido um roteiro mais “realista” e adulto, talvez eles conseguissem convencer. Mas sei que deve divertir, principalmente se o espectador for fã. De qualquer forma, parece que não deu tão certo, assim como aconteceu com Speed Racer e outras releituras de personagens consagrados dos anos 70, 80 e 90.

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