La La Land – Cantando Estações

Hoje vou falar um pouco do filme que foi o maior vencedor do Globo de Ouro desse ano, vencendo todas as categorias em que foi indicado, e até agora é o queridinho dos críticos. O que “La La Land” tem de especial? Ele está sendo superestimado por ser de um gênero “clássico” no cinema? por ser um filme que é uma homenagem aos musicais e ao cinema antigo? Ou está ganhando força lá fora por se passar em Los Angeles, a cidade das estrelas, berço de Hollywood e onde tudo relacionado ao cinema acontece (incluindo a entrega do Oscar)? Resumindo, o filme é tudo isso mesmo que estão falando?

Como todos os meus textos são completamente pessoais e passionais, vou responder com a minha sincera opinião: o filme é isso tudo mesmo! Arrisco dizer que é um pouco mais. O filme nasceu para figurar na lista de favoritos de muito cinéfilo pelo mundo. É daqueles filmes que você fica cantarolando a trilha sonora. O tipo de filme que você fica até com vergonha ao sair da sala de cinema porque está com vontade de sair de lá dançando. É uma mistura de gêneros sentimentos que só o cinema é capaz de proporcionar: comédia, drama, emoção, magia, paixão.

Escrito e dirigido por Damien Chazelle (cujo trabalho anterior é o também excelente Whiplash), o filme possui referências a diversos musicais antigos, como “O Picolino”, “Cantando na chuva”, Amor sublime amor”, etc, mas possui um estilo próprio. Um colorido, uma mistura, uma poesia, uma homenagem ao jazz, às danças e coreografias. “Ah, eu não gosto de musicais. Vou gostar do filme?” Talvez! Ele não é um musical completo, estilo os musicais da Broadway que são quase inteiramente cantados. Tem muito diálogo e muita história pra acompanhar. Mas, sim, é um musical. Seguindo o estilo que não é preciso nada para os personagens começarem a cantar e dançar.

A sequência de abertura do filme já dá o tom do que está por vir. No meio do trânsito caótico de Los Angeles, de repente todos começam a sair dos carros cantando, dançando, pulando, e praticamente tudo em um plano-sequência (sem cortes entre uma cena e outra)… Por qual motivo? Porque estavam a fim, talvez… Pra mim, não importa. Se pra você isso lhe parece ridículo, então pode ser realmente que você não “compre” a ideia do filme e acabe não curtindo. Mas se você é do mesmo estilo que eu, que adora um número musical, a abertura é só um aviso para você do que te espera pela frente. É um número musical colorido, cheio de vida, ritmo, energia, é impactante, emocionante, genial.

Todo o filme é uma soma de acertos. Tudo funciona e se encaixa perfeitamente. Roteiro, figurino, trilha sonora, elenco, fotografia, coreografia, direção, e o que mais você pensar em categorias técnicas. Até o (sub-)título nacional, coisa que o pessoal daqui adora estragar, ficou perfeitamente adaptado (lembrem-se que um dos musicais mais famosos de todos os tempos, nomeado “The sound of music“, virou “A noviça rebelde” por aqui).

A primeira coisa que vem a cabeça ao ler “La La Land” é a associação imediata com o nosso cantarolar “Lá Lá Lá” para qualquer música que a gente não sabe (ou tem preguiça de falar) a letra. A segunda associação é com o local aonde o filme acontece, Los Angeles, carinhosamente chamada apenas de “LA”. A terceira associação para os brasileiros não funciona, já que é uma expressão americana para algo do tipo “sonhando acordado”. Então o sub-título “cantando estações” funciona muito bem, já que o filme é particionado pelas 4 estações climáticas.

Falando em Los Angeles, já citei que essa cidade é praticamente sinônimo de cinema. Nada mais justo que fazer uma homenagem a este local. Los Angeles é praticamente um personagem, com suas paisagens, prédios, piers e estúdios de cinema. E o diretor soube explorar e brincar com a cidade, em uma mescla de novo x antigo. Carros e locações antigas, sem serem tomadas pela atual selva de pedra, vestidos e figurinos clássicos são misturados com carros do ano, iphones, youtube e música pop. Essa mistura faz parte da magia do cinema e também tem tudo a ver com a história sendo contada. A dualidade Sonho x Realidade, Altruísmo x Egoismo, O que você quer x O que você pode, Pessoal x Profissional… Tudo isso se resume a uma única palavra: escolhas.

O elenco é basicamente formado pelo casal Mia e Sebastian. Ambos estão atrás de seus sonhos. Ele, de abrir um clube de jazz. Ela, de se tornar uma atriz de cinema. Os personagens são vividos (e a palavra é essa mesmo) por Ryan Gosling e Emma Stone. Primeiro, eles possuem uma química fantástica em cena, e o fato de já terem trabalhado juntos em outros filmes certamente ajudou. Em segundo lugar, é nítido que eles realmente se entregaram ao papel. Seus personagens não precisam de uma dramaticidade ou força ao estilo Meryl Streep ou Viola Davis, mas precisa de emoção e sinceridade, e isso foi exatamente o que os atores fizeram. E eles não precisam de uma potência vocal forte, pois as músicas nem pedem isso. Provavelmente na edição existem os auto-tunes da vida, dublês e outras melhorias tecnológicas (ou novamente a magia do cinema entra em cena para te fazer acreditar que tudo aquilo é real), mas todos os momentos de canto, ao piano e as danças estão perfeitamente coreografados, uma excelente afinação, e atuações maravilhosas. A Emma Stone, então, não seria nenhum exagero se ela levasse uma certa estatueta pra casa. Não pelos números musicais, mas pelo filme todo, pois em cada close ela transmitia exatamente a emoção daquele momento.

Li críticas ao filme justamente de querer se equiparar aos musicais clássicos. Particularmente, assisti a poucos musicais dos anos 30 a 50, e prefiro analisar esta obra como uma homenagem, e não como uma tentativa de se tornar um musical épico. Como uma frase do próprio filme diz: valorizar os clássicos é importante, mas às vezes é preciso revolucioná-los. Se as músicas, sapateados ou danças não são os mesmos da época de ouro dos musicais, então vamos apreciar como algo recente consegue passar uma mensagem simples, leve e com emoção a partir de um gênero tão nostálgico, desvalorizado ou até mesmo esquecido atualmente, mas que ainda tem espaço para uma nova vida. Tal como a fênix… Tal como o jazz…

“La La Land”é mais que um musical. É até mais que um filme. É uma homenagem e um tributo. A Los Angeles, ao jazz, aos sonhos, ao cinema, a vida! É encantador, mágico, inesquecível. É um filme Ame ou Odeie, e sou bem ciente do lado que escolhi. Estou simplesmente apaixonado por La La Land.

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2 Comments

  • Oi Léo, que crítica incrível, parabéns, é a melhor crítica que já li sobre este magnifico filme. Continue com belo trabalho, são pessoas como você, que me faz querer viver para ver obras como La La Land nós cinemas, o filme respeita os velhos clássicos, mas ele se torna o novo clássico.

    • Muito obrigado! Fico feliz que tenha gostado do que escrevi.

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