Crítica: A Grande Muralha (2017) | Matt Damon e um misterioso segredo milenar.

Todo mundo algum dia já ouviu falar da Muralha da China, não é mesmo? Seja com relação à sua imensa altura ou sobre o longo tempo que se levou para construí-la (beira milênios), em A Grande Muralha, que estreia ainda essa semana, somos introduzidos a este universo medieval que pode não agradar a todos os públicos, mas quem assim fizer, saberá que é um filme pipoca, entretenimento que apesar de uns pequenos problemas de elenco, contém detalhes que deixam o telespectador atento no que está sendo mostrado na tela. Confira!

A história parte do ponto de vista de William, aqui interpretado pelo ótimo Matt Damon. Ao lado de seu companheiro de batalha, Tovar, na pele de Pedro Pascal, os dois estão travando um combate não muito longe daquela região, quando se deparam com a famosa muralha, local onde uma legião de soldados tentam a qualquer custo proteger a população de inimigos externos. A questão é: do que exatamente? Essa é a pergunta que veio na cabeça de muitos de nós assim que vimos o trailer, pois era de presumir que o diretor Yimou Zhang estivesse prestes a nos entregar algo enigmático, divertido e por que não, épico.

A proposta é simples: trazer ao público uma trama cuja mensagem passada é a de que não importa onde você está ou com quem está, contanto que você ajude a lutar por um ideal e consiga sobreviver, o resto é o de menos. Obviamente que no mundo ocidental, o nome Zhang Yimou é mais conhecido. Embora nos últimos anos tenha focado mais no âmbito do drama, ele brindou ao público obras-primas de artes marciais arrebatadoras como Herói em 2002 e O Clã das Adagas Voadoras em 2004. Tais longas criticamente aclamados são famosos pelas suas proezas acrobáticas, bem como por façanhas mirabolantes, que se inserem perfeitamente na consciência popular. Em contrapartida, ao longo de uma década, é correto afirmar que os mesmos servem de exemplo no que diz respeito a filmes de artes marciais do século XX (apesar de aqui ser no XV), mas quando um diretor já construiu uma reputação tão impressionante, é preciso tomar cada passo adiante com cuidado – pois neste caso, a recepção do produto pelos críticos especializados tem grandes chances de ser influenciada por seus trabalhos anteriores.

Além disso, em se tratando da existência da Grande Muralha como um meio de se defender contra inimigos mongóis. Ao invés disso, ele também atua como uma barreira que protege a capital e o resto do continente de terríveis seres conhecidos como Taotie. Baseado inteiramente em um símbolo relativo à mitologia chinesa, essas aberrações são em sua maior parte cães de grandes dimensões, armados com fileiras de dentes afiados e olhos parecidos com o de aracnídeos e uma cena à la desolação de Smaug na caverna em ‘O Hobbit’. Falando um pouco dos personagens e das atuações, temos dois mercenários itinerantes como protagonistas: um “irlandês” de sotaque questionável chamado William (Damon) e um espanhol chamado Tovar (Pascal), que são inadvertidamente amarrados a fim de lutar na muralha depois de uma corrida contra um dos Taotie. A partir daí que o conto emerge. Ao correr contra o tempo, há um embate de culturas que conforme a fita passa, termina por se tornar uma aliança, dada a situação atual, na qual eles sofrem intensos ataques diários. O que não imaginavam é que os seres são mais inteligentes do que aparentam e assim como em cada batalha novas estratégicas são montadas pela Ordem Sem Nome, o mesmo acontece com os monstros e a forma como a perspicácia de alguns elementos são trazidos é interessante, felizmente. Quanto ao elenco, temos performances que variam desde boas a plausíveis. Palmas para Matt Damon, que está sempre ótimo, independente do papel representado. Já o ator Pedro Pascal está na média, seu personagem meio que subestima a paciência do espectador, mas não demora muito pra que nos entendamos com suas motivações. O único desempenho que ficou devendo um pouco foi o de Willem Dafoe, que já esteve melhor. Aqui, o seu papel deixou a desejar, simplesmente porque ele não possui tanto carisma quanto o restante.

Ademais, o filme marca o retorno de Zhang Yimou ao gênero de aventura, frisado por uma controvérsia considerável e deveras acusações de calúnia em torno de seu elenco. Por mais estranho que pareça, não é a primeira vez que ele escala um ator familiarizado do público em seus filmes (vide Christian Bale em Flores do Oriente). Damon é certamente um homem de ação concretizado e Yimou de forma equivalente é um veterano cineasta de ação, porém essa junção gerou um resultado que não será algo surpreendente para os internautas mais exigentes. Após vários anos que seu último projeto foi lançado, ele optou por executar tais artes de forma aperfeiçoada, com um CGI fantástico, uma fotografia onde são utilizadas cores vivas e boas tomadas em câmera lenta, que além de serem incríveis, nos dão a impressão de que estamos lá dentro lutando contra todos os invasores. Inclusive, não obstante, o figurino comandando por Mayes C. Rubeo é extravagante, mas ao mesmo tempo belo e apresenta uma vivacidade nas roupas daquela época (exemplo disso é uma das unidades da tropa militar conhecida como a Ordem Sem Nome) onde os comandantes estão vestidos de armaduras e exibem modelos cujos modelos/cores pasmem, lembram os próprios Power Rangers. Já para o povo da capital e até mesmo o design dos monstros (que está impressionante, diga-se de passagem), há um contraste entre amarelo e verde.

Existe sem dúvidas muito espetáculo aqui, desde o início pra falar a verdade e enquanto este ponto é benéfico para quem espera um ritmo frenético, por outro lado o problema está em perceber um carisma com todos os figurantes. Claro que há pequenos truques hollywoodianos aqui e ali para exibir a eficiência militar chinesa. Prova disso é o sistema usado pelos soldados da tropa Crane, uma unidade feminina liderada pela Comandante Lin Mae (interpretada pela atriz Jing Tian), que opera por meio de um bungee jumping em plataformas construídas nas bordas da parede para empurrar suas lanças e eliminar invasores. São momentos surreais, em que o CGI reina, mas é eficaz, visto que em pleno século XXI os efeitos especiais tem se superado cada vez mais.

Assim sendo, é fato que A Grande Muralha é um filme que vai dividir a opinião dos brasileiros. Enquanto uns irão achar ambos visual e história uma maravilha, outros o acharão fraco, cheio de cenas que poderíamos chamar de “facão” e um roteiro afundado. Entretanto, ao analisá-lo com outros olhos, é possível extrair mais coisa boa dele do que ruim. São sequências de ação ininterruptas que compensam o 3D e toques de humor que em nada exageram, servem mais pra divertir. Temos direito até a lições de moral no desfecho e o melhor de tudo, contamos com a fabulosa trilha sonora de Ramin Djawadi (compositor de Game of Thrones), que não decepciona e dá um show em particular para cada uma de suas faixas. Por fim, recomendado aos amantes de aventuras fantasiosas que não perdem por conferir uma obra memorável como essa!

Título Original: The Great Wall
Direção: Yimou Zhang
Duração: 103 minutos
Nota:

Confira o trailer abaixo:

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