Crianças ou heróis? – “A Viagem de Fanny”

É um fato que a Segunda Guerra Mundial foi a época mais dura do século XX para a Europa, muito diferente do que saber é ver como judeus, em especial as crianças, eram tratadas. Há alguns filmes que abordam o assunto, mas “A Vigem de Fanny” traz a história de uma fuga inimaginável, mas que é baseada numa história real.

O filme narra, literalmente, a viagem de Fanny, suas irmãs e algumas outras crianças até a fronteira com a Suíça, onde a Cruz Vermelha poderia as proteger.

Nos primeiros anos de guerra existiam algumas casas que abrigavam crianças judias, clandestinamente. Os pais sabiam que uma hora ou outra teriam que fugir do exército alemão, sabiam que as crianças seriam tratadas de melhor forma do que os adultos, por isso as confiavam nestas casas.

Porém, com a evolução da guerra, quando a Alemanha começou a invadir a França e encontrar a casa que Fanny e suas irmãs estavam. A sorte é que a dona soube antes e mandou todas as crianças para outra casa, a da Madame Forman.

Madame Forman era rígida, parecia que não tinha sentimentos pelas crianças, mas ela fazia de tudo por elas. No momento que sabia que não poderia mais manter a casa organizou outra fuga, agora para a fronteira com a Itália, que estava mais fraca (Mussoline já havia morrido).

Ela deixou Fanny, suas duas irmãs, Victor (um católico que também estava na casa) e mais quatro crianças sob as ordens de Elie, um jovem que trabalhava na casa e temia ir para o campo de guerra (ou de refugiados). Ele protegeu as crianças por uma parte da rota que elas teriam que percorrer de trem, mas quando chegou mais perto do destino avistou soldados alemãs e italianos e fugiu, deixando Fanny no comando.

Fanny, com mais ou menos 8 anos de idade, passa a ser responsável por mais sete crianças. Eles enfrentam as diversidades de um país hostil a eles, eles não podiam confiar em ninguém, sempre com medo de capturados pelos alemãs e o pior acontecer, alguns nem imaginavam o que esse “pior” poderia ser.

Há belas imagens e passagens que mostram que crianças são crianças sempre, mesmo que todos os obstáculos que poderiam enfrentar, a ingenuidade e a coragem de cada um fez com que não perdessem a esperança e conseguissem chegar na casa cinza com uma cruz vermelha pintada no telhado. Mas há duas cenas que me emocionaram e comprovaram que a delicadeza infantil não será apagada.

A primeira foi quando eles chegaram no ponto que Madame Forman disse que iria se encontrar com eles, na placa de “Colônia de Férias” na estação de trem. Eles passaram algumas horas esperando por ela, mas quem apareceu foi um rapaz com uma bola de futbol na mãe. Nada foi dito sobre o que havia ocorrido com a Madame Forman.

Esse rapaz guia o grupo de crianças em um campo aberto, eles precisavam correr porque havia a ameaça do exército alemão passar por lá. No grupo havia 04 crianças maiores, adolescentes mesmo, e os demais eram pequeninhos, não aguentavam correr mais, fazia tempo que não comiam, estavam cansadas da longa viagem.

No momento em que as crianças pequenas começaram a reclamar o rapaz mostra o significado da bola. Ele joga a bola para um, depois para outra, até o momento em que estão todos brincando com a bola, nem percebiam que estavam correndo de novo, esqueceram do cansaço, da fome, voltaram a ser criança por alguns instantes, o suficiente para chegar no local onde o atravessador estava os esperando, para que pudessem fazer a travessia escondida.

A outra cena é mais para o final do filme, nesse momento eles já tinha certeza que a Madame Forman não iria aparecer, eles estavam sozinhos, mas já haviam escapado de um cativeiro. Novamente estavam caminhando em um campo aberto, mas agora sem rumo. Em dado momento Fanny escuta barulho de água, vai verificar e percebe que é a foz de um rio.

Eles vão matar a sede, mas eles são crianças e logo começam a brincar com a água, molhando uns aos outros. Enfim, fizeram a festa e, mais uma vez, encontram aqueles momentinho de serem crianças novamente e sorrir com o que tinha, mesmo sabendo que ainda havia muito chão para ser andado.

Um personagem que aparece pouco, mas acaba tendo importância mais a frente, é Elie. Depois que fugiu da sua missão ele foi capturado pelos alemãs, ele avistou Fanny na outra parada do trem, já capturado. Ele consegue entregar uma carta para ela, disse que esta só pode ser aberta quando ela chegasse na fronteira.

Acabou que a tal carta foi um placebo criado por ele para que ela não perdesse o foco, a esperança e a coragem de chegar na fronteira. O que ela conseguiu fazer sem deixar nenhuma criança para traz, fosse por doença fosse pela guerra.

É um filme forte, mas emocionalmente, não se ver muito dos horrores da guerra (pessoas deformadas, feridas de guerra, etc). Para quem gosta de filmes ambientados em guerra, mas que conta uma história de coragem, essa é a melhor pedida.

A VIAGEM DE FANNY

França – Bélgica | 2016 | 94 min. | Drama

Título Original: Le Voyage de Fanny
Direção: Lola Doillon
Roteiro: Lola Doillon, Anne Peyrègne
Baseado no romance de Fanny Ben-Ami
Elenco: Cécile de France, Léonie Souchaud, Fantine Harduin
Distribuição: Mares Filmes

Sinopse: Com seus 12 anos, Fanny já é muito teimosa e sobretudo, uma jovem corajosa, pois vive escondida num lar distante de seus pais, cuida das duas irmãs mais novas. Tendo que fugir precipitadamente, Fanny se coloca à frente de um grupo de 8 crianças e inicia uma perigosa viagem através da França ocupada para chegar à fronteira com a Suíça. Entre medos, gargalhadas e encontros inesperados, o grupinho aprende o que é independência e descobre o valor da solidariedade, do trabalho de equipe e principalmente da amizade.

Beijinhos e até mais!

Mais do NoSet

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *