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CRÍTICAS

Sexo na terceira idade – “Desenhados Um Para o Outro”

Sexo na terceira idade – “Desenhados Um Para o Outro”
  • Publicado em: janeiro 10, 2019

As histórias em quadrinhos deixaram de ser infantis há muitos anos, isso é fato, mas tenho certeza de que nada é tão adulto, em vários dos aspectos que podem ser atribuído a esse termo, quanto às histórias de Aline Kominsky e Robert Crumb.

Aline e Robert se conheceram em plena loucura dos anos de 1970 e desde então formam um casal excêntrico, desses que não seguem padrões algum e são felizes segundo suas próprias regras, mesmo com todos os obstáculos possíveis. Apesar da diferença de idade (ela é mais nova do que ele em torno de 20 anos), eles fazem sucesso no mesmo nicho de mercado: quadrinhos underground.

Mesmo antes de unirem eles faziam sucesso no mundo dos HQs. Robert é considerado o pioneiro no estilo underground. Aline, judia refugiada nos EUA e rebelde por natureza, já rabiscava suas próprias histórias.

Com suas ideias, talentos e eterno tesão, Aline e Robert vivem juntos até hoje, somando aí uns 40 anos de muita loucura, amor e cenas proibidas para menores de idade. Isso tudo é representado no novo trabalho deles, “Desenhados Um Para o Outro”, publicado pela Quadrinhos e Cia (braço da Companhia das Letras)!

O livro reune os trabalhos do casal desde os anos de 1980, mais ou menos, com toques psicodélicos e mostrando-os como quase fazendeiros. Viviam em uma cabana no meio dos matos do sul dos EUA, contavam só com o dinheiro dos poucos trabalhos que Robert estavam conseguindo. Eram tempos mais difíceis financeiramente, mas eles não perderam o humor (quer, dizer, às vezes Aline tinha crises de identidade, mas nada relacionado com dinheiro).

Aos poucos a relação foi amadurecendo, nunca para o casamento (por alguma razão eles nunca casaram), tiveram uma filinha, Sophie, os negócios foram melhorando e eles decidiram ir viver o sul da França. Viveram em uma cidade medieval, tão peculiar quanto o estilo de vida deles, envelhecendo tão loucos quanto sempre foram.

Na verdade, desde que começaram o relacionamento amoroso também começaram o relacionamento profissional. Passaram a escrever e desenhar histórias conjuntas da própria vida, por isso o livro é cheio de observações do tipo sobre os desenhos, seja os descrevendo ou os criticando. Logo, o livro também é uma coletânea dessas obras.

É possível encontrar de um tudo nessas histórias, desde epifanias filosóficas (patrocinadas por viagens psicodélicas a base drogas… anos 70, 80, etc) até as cenas de sexo explícito entre o casal, passando por todas as crises neuróticas de Aline e as inseguranças de Robert. Sim, meus leitores, esse livro é divertido e instrutivo (em vários aspectos, diria eu), mas .

Brincadeiras à parte, são situações da vida comum deles (que não é nada comum), coisas que podem acontecer com qualquer um, mas aconteceu de uma vez só para eles. São muitas as histórias que, colocadas dentro da cronologia correta, formam a história de vida dessa família, finalizando com um pequeno álbum, o qual colore algumas das narrações.

Confesso que no começo é um pouco difícil de entrar na história, até porque eu não sou acostumada a ler HQs e, especialmente, uma underground, com conteúdos altamente chocantes (avisa-se na capa). Mas depois, quando fui entendendo a dinâmica deles, o livro foi me conquistando de verdade, pude entender o humor negro deles e as diferenças que enfrentaram (culturas, religiões, criações e idades diferentes) e ganharam ao longo da vida.

Há momentos que pude sim entender, até me identificar, com alguns questionamentos deles, além, lógico, de serem muito divertidos.

Mas há um defeito: não se pode ler em lugar público ou perto de pessoas muito puritanas. Sempre que eu passava por algum desses momentos picantes da vida íntima deles (sempre na privacidade da minha casa, por vezes só no meu quarto) ficava imaginando alguém olhando de rabo de olho aquelas cenas.

Tirando isso, excelente opção para quem gosta de uma HQ excêntrica e bem divertida!

Beijinhos e até mais.

Written By
Nivia Xaxa

Advogada, focada no Direito da Moda (Fashion Law), bailarina amadora (clássico e jazz) e apaixonada por cultura pop. Amo escrever, ainda mais quando se trata de livros, filmes e séries.

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