O amor está por todo lugar – “Simplesmente Amor”

Histórias que se cruzam por fios quase invisíveis, encontrando-se e desencontrando-se em um dos momentos mais sensíveis do ano, o Natal.

Sim, foi dada a largada da temporada de filmes de Natal e apresento a primeira resenha a de um filme que considero clássico do gênero, não só de Natal, mas também de comédia romântica e filme em mosaico, “Simplesmente Amor”.

Esse longa é de 2003, Richard Curtis assinada tanto o roteiro como a direção, contando com um grande elenco britânico, do qual falarei depois com mais detalhe. “Simplesmente Amor” disponível no catálogo nacional do Amazon Prime Video.

Como já falei, o filme é um mosaico, são oito histórias que se cruzam de formas diferentes. O primeiro personagem apresentado é Billy Mack, um cantor que já viu dias de fama, mas caiu no abismo de abusos e decadência, agora ele tenta voltar ao auge regravando uma das músicas que o fez se tornar famoso, mas adaptando para a época de Natal.

Ele só faz isso porque seu agente da vida toda, Joe, exige isso dele. Entre Billy e Joe são trocadas farpas, mas no fundo eles são como uma família, um precisa do outro para ter equilíbrio na vida.

Enquanto a música de Billy cai no gosto popular por meio das rádios londrinas há poucas semanas do Natal, a Inglaterra tem um novo Primeiro-Ministro, que é novo mesmo, o mais novo a alcançar o cargo. Ele tem dois grandes desafios nesse início do governo, um pessoal e outro profissional.

O profissional é manter boas relações com os EUA, o que é difícil porque este país tem procurado as formas mais agressivas para lidar com os problemas comuns. Adiciona-se a isso atitudes reprováveis do presidente estadunidense em visita à Inglaterra.

O pessoal é o fato de ser o único Primeiro-Ministro da história a ser solteiro, o que causa certo estranhamento. Isso seria facilmente ignorado, mas ele acaba se apaixonando pela secretária, Natalie, totalmente fora dos padrões, mas igualmente encantadora aos olhos dele.

A irmã dele, Karen, também enfrenta algumas batalhas. Primeiro com o marido, Harry, que tem dado sinais de uma possível traição, ele teria cedido aos encantos e tentação da secretária dele, cuja missão é justamente o fazer esquecer que era casado. Karen enfrenta a situação com muita fibra e maturidade, o que não quer dizer que ela não tenha sofrido.

A outra batalha dela se mostra mais leve, é ajudar seu amigo mais próximo, Daniel, a entender o enteado, o pequeno Sam, depois que a esposa (e mãe de Sam) falece. O padrasto acha que o garoto está depressivo por causa do luto, mas, embora ele esteja lidando com a morte da mãe, ele está mesmo apaixonado por uma coleguinha e não sabe o que fazer.

É esse seguimento que tem uma das falas mais singelas do filme, falada por Sam, depois que Daniel confessa estar aliviado com a razão da tristeza dele, achava que era algo pior: “Pior do que a total agonia de está apaixonado?”.

Eles passam o filme procurando formas de a menina o notar, Daniel vai ensinando algumas boas lições sobre o amor para Sam, em certo ponto ele até demonstra, assistindo “Titanic” com ele.

Voltando para Harry, o marido de Karen. Ele comanda uma empresa de marketing, esse cenário apresenta mais duas histórias, a mais simples é de um funcionário que está desiludido com Londres, Colin, achando que via se dar melhor com as mulheres estadunidenses, decidindo que vai se mudar para os EUA só por isso e tentando convencer seu amigo para ir com ele (daqui a pouco esse amigo volta a aparecer).

A outra, mais complexa, é de Sarah, que está apaixonada por Karl, um colega de trabalho, desde o dia que começou a trabalhar no escritório. Todos sabem dessa paixão dela, provavelmente até o próprio Karl, mas ela nunca teve coragem de falar com ele. Essa coragem surge na confraternização da empresa, de onde saem juntos.

Finalmente deu certo? Não!

Sarah tem um irmão que é paciente psiquiátrico, ela é a única família dele. Ele liga para ela o tempo todo e ela não sabe dizer não para ele, mesmo estando com Karl dentro de sua casa, momento em que esperou acontecer por anos.

Não faz muito tempo que Sarah presenciou o casamento dos amigos Juliet e Peter ao lado de Jamie, outro amigo de longa data. Esse momento traz a tona mais duas histórias!

Jamie é um escritor com tendência de se dar mal no aspecto amoroso. No dia do tal casamento ele jurava que estava em um relacionamento estável, mas na verdade a namorada o traiu enquanto ele via os amigos trocarem aliança. Desiludido, ele foi para a casa de campo que tem no sul da França, tirar um tempo para escrever.

Lá ele conhece Aurélia, uma portuguesa que foi contratada pela caseira para fazer a limpeza da casa. Ele só fala inglês e ela só fala português, mas acabam se entendendo pelos gestos e delicadezas diárias, quando ele volta para Londres ele sente que deveria lutar por ela. Ele aprende português para, na noite de Natal, voltar para a cidade onde ela mora e a pedir em casamento no idioma dela.

O casal recém-casado, Juliet e Peter, parecem viver o conto de fadas, mas algo parece fora do lugar, é o melhor amigo dele, Mark, que parece não gostar nada de Juliet, sempre sendo levemente grosso com ela. Acontece que ele filmou parte da cerimônia e ela quer ver a filmagem, porque a oficial não ficou boa.

Ao assistir o vídeo ela descobre que, na verdade, Mark é apaixonado por ela!

Eles protagonizam uma das cenas mais marcantes e reproduzidas do filme: Mark vai a casa de Juliet e Peter, com sorte ela que atende; ele está com um aparelho de som, que toca músicas de Natal, e alguns cartazes na mão; disfarçando-se de coral cantando canções típicas, ele se declara por meio dos cartazes.

A última história aparece mais deslocada, tendo como ligação aquele amigo de Colin. Ele é diretor de filmes para adultos, nessa época ele passou algumas semanas dirigindo cenas de sexo entre Judy e John. Embora esses atores estejam em uma situação inusitada, eles acabam se entendem de forma mais pura e começando um relacionamento a partir daí …. Só não vão saber o que responder quando perguntarem: “como vocês se conheceram?”.

Na época do lançamento desse filme uma das formas de referências a ele foi “the ultimate romantic comedy”. Ainda não consegui encontrar uma tradução para o português a altura, mas seria algo como “a comédia romântica irrevogável”.

E isso não é exagero, o filme tem tudo que uma boa comédia romântica tem que ter, incluindo clichês, desde dos mais besteirol até as histórias mais profundas e reflexivas. Como falei antes, tem cenas e falas que ficaram para a história, sempre emocionarão e inspirarão os filmes do gênero.

Isso não é coincidência ou golpe de sorte, o diretor e roteirista, Richard Curtis, também foi responsável por filmes românticos como “Um Lugar Chamado Notting Hill”, “Quatro Casamentos e Um Funeral” e “O Diário de Bridget Jones” (e derivados), e de uma das séries cômicas mais célebres da Inglaterra, “Mister Bean”. Mais recentemente ele assinou o roteiro de “Questão de Tempo”, “Mama Mia! Here We Go Again” e “Yesterday”.

Só fiquei sabendo disso quando me preparei para escrever essa resenha, mas faz sentido ao analisar o elenco (e os demais filmes, que também amo e não me canso de assistir).

Antes de partir para o elenco preciso dizer, esse filme me marcou desde a primeira vez que assisti, embora eu conseguida interpretar melhor a cada vez que assisto. Marcou tanto que é o único que ainda tenho em DVD (que nem consigo assistir, porque não tenho mais o aparelho, obrigada Prime Video por me deixar assistir).

Esse foi o primeiro filme em formato de mosaico que eu assisti, de primeiro causou estranhamento e distração, mas aos poucos fui entendendo como funcionava e me apaixonei pelo formato.

Então vamos ao elenco.

Billy Mack é vivido por Bill Nighy e Joe por Gregor Fisher. Dentre os muitos títulos estrelados por Bill Nighy está “Questão de Tempo”.

O Primeiro-Ministro é vivido por Hugh Grant e Natalie por Martine McCutcheon. Hugh Grant já estrelou muitos filmes dirigidos por Richard Curtis, incluindo aí os já citados “Um Lugar Chamado Notting Hill”, “Quatro Casamentos e Um Funeral” e os de Bridget Jones.

Karen é vivida por Emma Thompson e Harry por Alan Rickman. Eles podem até não ter estrelado filmes do referido diretor, mas já provaram a química em cena, tanto em “Razão e Sensibilidade” (que também conta com Hugh Grant) quanto na saga de “Harry Potter”.

Daniel é vivido por Liam Neeson e Sam por Thomas Brodie-Sangster. É bom os ver nesse filme porque não é muito comum deles fazer comédia romântica, Neeson ficou famoso pelos filmes de ação e por ser o Ra’s Al Ghul do Batman de Christopher Nolan, já Brodie-Sangster estrelou a saga “Maze Runner” e ganhou mais destaque com a série “O Gambito da Rainha”.

Sarah é vivida por Laura Linney e Karl foi o primeiro personagem com fala em filme estrangeiro do brasileiro Rodrigo Santoro.

Jaime é vivido por Colin Firth e Aurelia por Lúcia Moniz. Voltemos para os filmes de Bridget Jones, onde Firth completa o triângulo amoroso da protagonista e do personagem de Hugh Grant.

Juliet é vivida por Keira Knightley (acho que já provei ser muito fã dela por aqui), Peter por Chiwetel Ejiofor, muito antes de ele ser a impecável voz de Scar no live-action de “O Rei Leão”, e Mark por Andrew Lincoln, antes de ele se transformar em caçador de zumbi na série “The Walking Dead”.

O elenco ainda conta com Martin Freeman (Watson da série “Sherlock” e Bilbo da saga “Senhor dos Anéis”), Billy Bob Thorton, Rowan Atkinson (o Mister Bean), January Jones e Elisa Cuthbert.

E tenho certeza que, se eu assistir novamente, reconhecerei mais alguém que está famoso hoje em dia, porque o elenco é enorme e muitos deles, como podem notar, acabaram ganhando muito espaço ao longo dos anos.

Tem mais uma semelhança que combina muito com o gênero de comédia romântica, alguns já haviam feito ou vieram a estrelar adaptações das obras de Jane Austen.

Como já comentei, Emma Thompson, Hugh Grant e Alan Rickman está em “Razão e Sensibilidade”, de 1995, que também conta com Kate Winslet, citada por Liam Neeson em uma cena (fez referência a “Titanic”).

Um dos trabalhos que tornou Colin Firth conhecido foi a série “Orgulho e Preconceito”, também de 1995, onde ele deu vida ao Sr. Darcy. Dez anos depois, em 2005, Keira Knightley deu vida a Elizabeth Bennet, no filme de mesmo nome (com outro Darcy).

Um dos trabalhos mais recentes de Bill Nighy foi “Emma”, de 2020, em que ele deu vida ao Sr. Woodhouse.

O clima de Natal envolve essas histórias de amor demonstradas de diferentes formas, em diferentes momentos da vida, alguns impossíveis, outros divertidos, outros que não valeria a pena, outros para uma vida inteira. Tudo isso regado ao drama e à comédia inglesa, com direito ao clássico sotaque.

Até mais!

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