Midsommar – O Mal não Espera a Noite

Midsommar, ou as festas de celebração dos solstícios de verão, são praticamente um patrimônio cultural sueco. Turistas do mundo todo visitam a ensolarada Suécia entre maio e julho (onde o sol brilha por até 19, 20 horas) para celebrar com danças típicas, cantos, roupas tradicionais, bebida e comida típica do verão (algo a ser celebrado em um país congelante na maior parte do ano). A dança mais popular é quando nativos e turistas dançam em roda do mastro de maio, o Majstangen. Tradições essas celebradas em aldeias pequenas e casas de veraneio já que as grandes cidades ficam quase desertas nessa época do ano devido a essa celebração. Usando essa festividade como tema, Ari Aster nos apresenta seu novo filme Midsommar – O Mal não Espera a Noite. Depois de sua excelente estreia no perturbador Hereditário (Hereditary, 2018) o seu segundo longa era esperado com muita expectativa.

E Ari não decepciona. Conta a historia de quatro amigos americanos: o casal em crise Dani (Florence Pugh) e Christian (Jack Reynor) – ela vivendo o trauma recente de uma tragédia familiar; Josh (William Jackson Harper) – este querendo fazer uma tese sobre  as festas e rituais suecos e Mark (Wil Poulter) – que só queria curtir umas férias diferentes. Todos são convidados pelo amigo sueco Pelle (VIlhelm Blomgren) a passar alguns dias na sua aldeia natal na Suécia e celebrar o Midsommar com ele. O que poderia dar de errado em passar as férias em um país espetacular como a Suécia, além de festejar e se divertir com os amigos? A partir dali os quatro amigos viverão um pesadelo com muito paganismo, rituais, suicídios e sacrifícios, rotina tradicional daquela aparente pacata aldeia de Harga.

William Jackson Harper, Will Poulter, Florence Pugh, Jack Reynor

Ari Aster mais uma vez usa temas como tragédias familiares e rompimentos como premissa de sua história. Florence está muito bem como a perturbada Dani que aos poucos é tomada pela atmosfera maligna do lugar. Pelle (VIlhelm Blomgren) também dá um show de persuasão como o ‘’quase’’ perfeito amigo sueco. O filme, como em Hereditário, primeiro nos dá uma amostra geral dos personagens e do ambiente pra depois descambar no pesadelo sem fim das tradições pagãs e macabras dos aldeões suecos. Sem sustos fáceis, mas criando um clima perturbador e quase claustrofóbico (apesar de ser em um campo aberto) vai prendendo o espectador naquele ambiente sem saída e cada vez mais tenso. Mérito à bela fotografia de Pawel Pogorzelsky, acentuando as belas paisagens da aldeia com tomadas abertas e um colorido cativante que apenas comprova que o medo não está apenas na penumbra e que um belo dia pode provocar tanto medo quanto uma noite escura.

É inegável a comparação do filme com o clássico de 1973, O Homem de Palha (The Wicker Man) apenas trocando uma ‘’pacata’’ ilha escocesa tomada por aldeões pagãos adeptos de festas de maio e sacrifícios, por um vilarejo sueco cultuando suas macabras tradições. Bem, se Hereditário é considerado por muitos o Exorcista do século 21 (eu já acho que é mais um Bebê de Rosemary, mas enfim…), com Midsommar, Ari Aster nos premia com mais uma perturbadora obra. Pode até não ser tão assustador como seu filme anterior, mas causa incômodo, curiosidade (os rituais e seus significados) e somos levados pouco a pouco pelo desespero dos personagens. No seu segundo longa Ari consolida a fama de grande roteirista e diretor de terror. A leva recente de filmes de terror como Invocação do Mal, A Bruxa e esses dois do Ari Aster, prova que ainda existe vida inteligente no gênero.

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