Jurrasic World – Recomeço

Será que o mundo ainda precisa de dinossauros, ou melhor, o cinema ainda tem mais espaço para os filmes da franquia que começou em 1993, com o fantástico Parque dos Dinossauros? Com Steven Spielberg na boleia, teve algumas malfadadas sequências, uma nova tentativa de trilogia que acabou muito mal em 2022. Mas jamais duvidem dos produtores, ainda não contentes em exterminar de vez os gigantes seres das telas, essa semana estreia o que é para ser uma nova trilogia, agora com a direção de Gareth Edwards, Jurassic World – Recomeço (Jurassic World – Rebirth, 2025).
Hoje a Terra parece que não dá mais bola para seus gigantes ancestrais. A maioria das espécies está morrendo, ou perdida pelas cidades, não causando mais impacto e alvoroço nos seres humanos. Alguns dinossauros foram alocados na Ilha de Saint Hubert, banhada pelo Oceano Atlântico, onde os humanos são proibidos de entrar, numa espécie de paraíso natural de preservação para eles. Um representante da indústria farmacêutica, Martin, contrata uma agente secreta, Zora, que com ajuda de um paleontólogo Dr Henry, precisam ir à ilha numa missão secreta pra tirar amostras de sangue de três espécies de dinossauros. Esse material pode criar remédios eficazes para salvar vidas humanas. Na missão se junta a eles uma equipe chefiada por Duncan, que conhece bem a região, tem longa experiência e missões movidas à grana. Uma família composta por um pai, duas filhas e o namorado de uma delas está fazendo um passeio de barco contornando o Atlântico e acabam cruzando com o barco da equipe de Zora, após um ataque de um ser marinho. Esse ataque é só o início dos diversos perigos que o time dos exploradores e a família Delgado terão pela frente na ilha, que tem um segredo perturbador.

Confesso que não tenho grande apreço pelo diretor Gareth Edwards, mesmo tendo Godzilla (2014) no seu currículo. Seu último filme de ficção, Resistência, é uma das grandes bombas dos últimos anos. Mas como mérito sabe condensar ideias do melhor que o cinema produziu e replicar essas referências nas suas obras. Pode parecer pouco inventivo, mas o diretor sabe como poucos costurar um emaranhado de referências e que neste sétimo filme da saga dos dinossauros estão mais presentes do que nunca.
Mas o que realmente falta no filme é roteiro. Uma trama que tenha um mínimo de coerência para prender a atenção nas mais de duas horas de filme, já que só dinossauros enchendo a tela não convencem mais ninguém. E o que deixa mais chateado, que quem escreveu o filme foi David Koepp, que além de ter feito o roteiro do primeiro Parque dos Dinossauros, é um dos criadores das histórias de cinema mais famosos das últimas décadas, tendo roteirizado clássicos como Missão Impossível (1996), Pagamento Final (1993), Homens de Preto (1997), o primeiro Homem Aranha (2002), entre outros. Mas aqui parece que o roteirista teve uma preguiça tremenda para nos criar uma história ao menos crível. A começar pela construção do vilão, o tal empresário da indústria farmacêutica, no papel de Rupert Friend, como Martin. Um vilão mais caricato possível, a personificação do mal, com sua ganância na cabeça, tendo aquele merecido final, que é mais previsível que aumento anual de salários de políticos.

Inserir aquela família na trama só serve para encher linguiça e tentar provocar mais cenas de tensão com as cenas de perigo os envolvendo. A falta de carisma dos três integrantes e do mala do namorada da menina mais velha chega a aborrecer. E aquele pequeno dinossauro que a menor, Bella, pega como pet para dar um tom fofo e humanizado aos dinos, poderia ser facilmente dispensável. O filme lembra (além de referências aos primeiros filmes da série) uma mistureba de Indiana Jones, King Kong de 1976, Mundo Perdido, Tubarão, Viagem ao Centro da Terra, a série Elo Perdido e aqueles filmes baratos de aventura dos anos 1980. Mas tirando algumas cenas de tensão como no alto mar, ou quando o T-Rex persegue a família, o filme é um zoológico de espécies correndo a esmo numa floresta. Mas menos mal que seres aquáticos, alados, alguns lentos, outros velozes, uns grandes, outros pequenos, seguem com o padrão visual de efeitos que fez a série ser o sucesso ao longo de mais de três décadas. Mas o vilão animal do filme, dessa vez um híbrido D-Rex, com cara de Alien, seis patas e que mais parece o bebê mutante do filme Nasce um Monstro (1974) tem pouco protagonismo, e aparece em cenas noturnas, com pouca nitidez, onde o espectador tem dificuldade de ver os traços do super dino. Estranha Gareth, que fez um bom trabalho com o Godzilla de 2014, ter pouco capricho estético no aguardado monstrengo do filme.

Pra não dizer que o filme não tem seus méritos, a escolha do elenco foi um grande acerto. A turma de mercenários que busca as amostras de sangue dos animais, comandados por Zora, não decepciona. Começando com a própria Scarlett Johansson, parece estar se divertindo bem no filme como a agente secreta movida à dinheiro, mandando bem nas cenas de ação e dando dignidade ao papel. O mesmo para o dono do barco que leva a turma para ilha, numa atuação competente de Mahershala Ali, como Duncan. Jonathan Bailey, como o paleontólogo Dr Loomis, também convence, apesar de ficar meio difícil acreditar que um estudioso professor, da noite para o dia, tenha virado um Indiana Jones, mesmo sem ter experiência alguma… enfim, coisas de cinema. O trio faz a película ser assistível, talvez com outros atores o abacaxi ainda seria mais difícil de ser descascado…

Jurassic World – Recomeço é um triste começo para uma série que parecia que já estava prestes a entrar em extinção. A retomada da saga dos dinossauros não faz muito sentido, a não ser o comercial, além de seguir aquela falta de criatividade constante da indústria do cinema, que prefere investir em marcas consagradas e já existentes que arriscarem em produzir algo original. Certamente o filme vai provocar curiosidade, afinal sempre é bom ver belas cenas de dinossauros, desta vez num ambiente natural e livre, com aquele trilha sonora linda da franquia, vai vender bastante brinquedos e assemelhados com a marca registrada do parque, mas infelizmente, como filme vai passar batido pela total falta de uma história ao menos convincente que sustente uma frenética perseguição de animais gigantes e esquisitos a seres humanos gananciosos por 134 minutos de projeção. E nem a presença estelar de Scarlett Johansson é suficiente para salvar esse barco furado…
