A Garota Desconhecida: Filme de Luc Dardenne e Jean-Pierre Dardenne (2016)

Para falar de A Garota Desconhecida, primeiro temos que pensar no tipo de história que os diretores belgas gostam de contar. Conhecidos por filmes como “Dois Dias, Uma Noite” de 2014, “O Garoto da Bicicleta” de 2011 e “A Criança” de 2005, os Dardenne trazem um cinema completamente autoral e aclamado pela crítica. O Filme tem algumas das marcas peculiares aos irmãos, como o excessivo close no rosto da protagonista ou a câmera na mão, acompanhando a história como se o telespectador tivesse dentro da tela.

Sinopse: Jenny (Adèle Haenel), recusa-se a abrir a porta do consultório, no fim do expediente, para atender uma imigrante africana. Quando a moça é encontrada morta, a doutora embarca numa investigação para descobrir quem era ela, de modo a expurgar sua culpa.

É uma obra, no contexto geral, que encorpa a gama de filmes realizados por esses dois grandes diretores e deixa ainda mais coesa a filmografia dos irmãos.

Porém,  tentando fazer uma análise do filme por ele mesmo, ele acaba não trazendo nada de novo para o cinema dos irmãos. Em ‘Dois Dias, Uma Noite’, por exemplo,  a fotografia exerce uma função fundamental na história e conta a história junto com o roteiro. Certamente, aos mais atentos, entrega pistas do fechamento do filme em todas as suas cenas cruciais. Já no filme deste ano, a fotografia se mostra mais genérica e sem genialidade, e os poucos bons momentos do filme fica por conta do ritmo que a direção entrega através dos atores e da violência em potencial que todo personagem masculino carrega, que em momentos inusitados se transformam em ameaça a pacata jornada de investigação da protagonista que hora se vê invadindo o trabalho do investigador e hora sente o desejo de fazer algo mais.

Outro aspecto importante, no filme, são os sons de aparelhos eletrônicos, que tanto importam na cena que causa o “Set Up” do filme (o momento em que a protagonista sai de seu lugar comum) tanto quando surgem como elementos que pontuam as complicações durante a trama. 

Talvez seja um filme onde futuramente, e com uma segunda conferida, ganhe uma importância maior, e é o que esperamos levando em conta os outros filmes dos Dardenne. Mas a primeira vista, principalmente pela fraca atuação da protagonista, o filme fica muito aquém dos grandes filmes do gênero e chega a ficar tedioso no meio para o fim do filme. 

Os próprios diretores já disseram que o filme serve para refletirmos sobre as responsabilidade dos nossos atos, e busca contar a história de alguém que teve esta consciência. Mas, sinceramente, ele gera pouca reflexão a cerca do assunto que eles explicitamente julgam como a intenção do filme, pois ao tentar inserir outras críticas ao filme,  deixa o drama central da personagem principal de lado. Muito por conta da falta de capacidade que a própria Adèle tem de trazer mais camadas a sua atuação. 

Outro desvio do contexto geral do filme é a má integração dos outros atores na trama. Os personagens coadjuvantes são mal desenvolvidos e, só aparecem na trama (geralmente com atitudes desconexas), como forma de complicação para o andamento da protagonista. 

Por fim, o filme tem muito mais poder no sentido de refletir sobre a fragilidade social que as mulheres ainda sofrem, seja no assassinato de uma jovem garota negra, ou mostrando a dificuldade de se impôr de uma médica branca, que herdou o consultório de um médico mais velho, já respeitado pela vizinhança.

A conclusão é que o filme, por mais que mantenha o estilo autoral, não passa a emoção e não faz o espectador se aprofundar na história como é a especialidade da dupla, tornando o filme muito sem graça, principalmente se comparado com a possibilidade que o enredo tem de deixá-lo muito interessante. 


Nota 5,0 de 10

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