A Garota Desconhecida: Filme de Luc Dardenne e Jean-Pierre Dardenne (2016)
Porém, tentando fazer uma análise do filme por ele mesmo, ele acaba não trazendo nada de novo para o cinema dos irmãos. Em ‘Dois Dias, Uma Noite’, por exemplo, a fotografia exerce uma função fundamental na história e conta a história junto com o roteiro. Certamente, aos mais atentos, entrega pistas do fechamento do filme em todas as suas cenas cruciais. Já no filme deste ano, a fotografia se mostra mais genérica e sem genialidade, e os poucos bons momentos do filme fica por conta do ritmo que a direção entrega através dos atores e da violência em potencial que todo personagem masculino carrega, que em momentos inusitados se transformam em ameaça a pacata jornada de investigação da protagonista que hora se vê invadindo o trabalho do investigador e hora sente o desejo de fazer algo mais.
Outro aspecto importante, no filme, são os sons de aparelhos eletrônicos, que tanto importam na cena que causa o “Set Up” do filme (o momento em que a protagonista sai de seu lugar comum) tanto quando surgem como elementos que pontuam as complicações durante a trama.
Talvez seja um filme onde futuramente, e com uma segunda conferida, ganhe uma importância maior, e é o que esperamos levando em conta os outros filmes dos Dardenne. Mas a primeira vista, principalmente pela fraca atuação da protagonista, o filme fica muito aquém dos grandes filmes do gênero e chega a ficar tedioso no meio para o fim do filme.
Os próprios diretores já disseram que o filme serve para refletirmos sobre as responsabilidade dos nossos atos, e busca contar a história de alguém que teve esta consciência. Mas, sinceramente, ele gera pouca reflexão a cerca do assunto que eles explicitamente julgam como a intenção do filme, pois ao tentar inserir outras críticas ao filme, deixa o drama central da personagem principal de lado. Muito por conta da falta de capacidade que a própria Adèle tem de trazer mais camadas a sua atuação.
Outro desvio do contexto geral do filme é a má integração dos outros atores na trama. Os personagens coadjuvantes são mal desenvolvidos e, só aparecem na trama (geralmente com atitudes desconexas), como forma de complicação para o andamento da protagonista.
Por fim, o filme tem muito mais poder no sentido de refletir sobre a fragilidade social que as mulheres ainda sofrem, seja no assassinato de uma jovem garota negra, ou mostrando a dificuldade de se impôr de uma médica branca, que herdou o consultório de um médico mais velho, já respeitado pela vizinhança.
A conclusão é que o filme, por mais que mantenha o estilo autoral, não passa a emoção e não faz o espectador se aprofundar na história como é a especialidade da dupla, tornando o filme muito sem graça, principalmente se comparado com a possibilidade que o enredo tem de deixá-lo muito interessante.