Filha da Lua Crescente, Amat – “Os Livros de Areia e Sangue”

Quando se ver um livro intitulado “Os Livros de Areia e Sangue”, cuja ilustração trás figuras diferentes, quase divinas, a curiosidade se acende instantaneamente. Comigo até aconteceu isso, mas devo confessar que não cumpriu com as minhas expectativas, e explico isso a vocês.

Ao ver a descrição do livro e do autor, H.F. Kowiak, eu esperava uma história mais fluída, apesar de desde o começo explicarem que o livro surgiu da união de várias histórias, lendas criadas por ele mesmo. Contudo, o livro de fato parece dividido em várias etapas, dificultando a leitura e a identificação do leitor, no momento que se imagina um ápice, algo diferente acontece, distraindo do curso da história.

Bom, mas vocês só entenderão isso se eu resumir a história, certo? Então aqui vai!

Amat era a filha de um senhor simples, em um vilarejo simples no extremo oriente, literalmente onde o sol nasce (o que seria no nosso mundo a China, acredito eu). Ela já não tinha mãe e era criada só por ele, que sempre lhe contava histórias sobre as divindades, só que ele acaba sendo morto misteriosamente em uma noite, por algo que, aos olhos da menina, era uma dessas divindades.

Ela viu-se sozinha no mundo, passou a viver quase como indigente nas ruas do vilarejo, aprendendo os “mistérios” da vida quando a necessidade surgia e, especialmente, passou a temer (para não dizer odiar) as tais divindades. Tomada pela curiosidade, unida à necessidade e esse ódio, Amat invadiu um convento certa vez, local onde passou um bom tempo vivendo escondida, só saiu de lá quando presenciou homens tentando abusar de jovens mulheres.

Foi aí que Amat cometeu seus primeiros homicídios, mas os fez por acreditar que era a única forma de proteger as mulheres. De lá fugiu para outro lugar, a fim de encontrar os famosos Campos Verdejantes (algo como um paraíso na terra). Mal sabia ela que para chegar lá muito ainda teria que ocorrer.

Primeiro ela encontrou um príncipe que não pode subir ao trono por desavença com o irmão, depois uma sábia curandeira, quem ensinou Amat a se proteger sem ter que matar, além dos segredos das ervas. A jovem terminou de se criar com a velha sábia, até que forma atacadas e Amat sequestrada pelo Povo da Areia.

Esse povo era nômade e crédulos ao que o guia espiritual, o Mahlyeg, lhes dizia. Depois de muito questionar aquele povo, mas fazer amizade com muitos, Amat toma o poder e tem uma verdade revelada: a divindade que matou o homem que a havia criado era seu pai verdadeiro, mas era perverso e estava como Mahlyeg do Povo da Areia.

Sim, ela matou o pai verdadeiro para poder tomar o poder (na verdade era para libertar o povo, mas o povo a elegeu como a Mahlag).

Mesmo com estabilidade, o Povo da Areia decidiu buscar por uma terra próspera, para que pudessem viver melhor, foram para o norte. Mas por onde passavam deixavam a fama de selvagens e Amat conhecida como uma líder imbatível e cruel. Eles conseguiram um “pedacinho” de terra ao norte, um local onde ninguém ia por sempre serem atacados por guerreiros longe de serem humanos (a descrição lembra zumbis, só que usando armadura).

Mais uma vez Amat toma a liderança, mesmo o povo do norte não pedindo, e vence o tal exército. Neste local ela encontra o amor, Erik, filho do líder local, mas pouco valorizado porque seu pai nunca superou a morte de seu irmão mais velho. Eles vivem algo único para os dois, até saberem que ele contraiu o que transformou os guerreiros em mortos-vivos, logo ele se sacrificou.

Amat não aguentou ficar onde havia perdido seu amor, mesmo sendo o norte o que mais se assemelhava aos tais Campos Verdejantes. Então lidera seu povo para mais uma aventura, em busca da Cidade Dourada, fazendo parcerias em seu caminho.

Em certo momento, quando ela imaginava que nunca superaria a perda de Erik, Maruk surge em sua vida. Um misterioso e lindo ferreiro, para quem ela jamais havia dito que era a Mahlag. Eles vivem um tórrido romance, até que ele descobre quem ela é e que era ela quem deveria matar (sua misteriosa missão).

Entre meandros da vida, ele acaba dentro da Cidade Dourada, havia sido sequestrado e usado como moeda de troca para Zuin, Filha do Sol Nascente. Ela era igualmente poderosa e solitária, só buscava companhia de confiança para enfrentar os últimos meses de reinado, afinal estava seriamente doente.

No ápice ocorreu quando Amat conseguiu se infiltrar na Cidade Dourada com seu povo, agora com a herdeira dela e de Maruk, e enfrentar Zuin cara a cara. A Filha da Lua Crescente enfrenta a Filha do Sol Nascente!

Nenhuma vence de fato, Maruk até sobrevive à batalha, mas sabendo que Amat morreu e viveu ainda pensando em Erik (ele não sabia que era Erik, mas a mecha de cabelo que ela carregava era loiro e ele estava longe de ser loiro) e que Zuin o amou de verdade.

Sendo brutalmente honesta, não entendi muito a história! Como disse no começo, quando eu começava a entender, vinha uma reviravolta e mudava tudo. Da metade para o final deu para me envolver um pouco mais na história, fez mais sentido na minha cabeça depois da história de Erik.

Não que a história de Erik fosse ruim, na verdade é muito boa, mas sinto que ela foi meio que jogada no meio das demais. É nesse momento que dá para perceber que foi um compilado de história e tentou-se unir tudo, todo o resto até que funcionou, mas nada se ligou de verdade com a dele (na minha visão).

E aí fiquei imaginando que eu iria preferir ler essas histórias separadas, mesmo a de Maruk, que finaliza o livro. Talvez lendo separadamente eu consiga entender o que autor quis dizer com cada símbolo, fala e ensinamento.

Para não dizer que nada me fez ver a tentativa de fluidez, teve duas, a figura de Munah e as artistas que se uniram ao bando já no final. Munah foi uma das criadas colocadas para servir Amat quando ela chegou ao deserte e ao Povo da Areia, elas construíram uma forte amizade, o que tornou a criada o braço direito da líder, substituindo-a sempre que necessário, ela entrou na primeira fase e a acompanhou até pouco antes da tomada da Cidade Dourada (morreu em um ataque em meio a guerra).

As artistas, Parin, Aranys e Safi, parecem terem surgido do nada, sendo mencionadas primeiramente se apresentando em um bar numa cidade onde os refugiados fugiam, onde Maruk vai depois que descobre que Amat é a Mahlag. Depois elas se unem ao Povo da Areia e ajudam no plano dele para invadirem a Cidade Dourada. Depois de muito a narrativa mastigar, deixam submetido que elas são as jovens que estavam sendo abusadas no convento e que Amat salvou, lá no começo da história, ainda quando era uma menina perdida.

Falando em narrativa, o vocabulário é muito erudito, parece que os personagens falam por enigmas. Por muitas vezes eu parei e voltei a ler do início da página, porque não dava para acompanhar, a única descrição que consegui acompanhar foi de Maruk, mas isso porque ele é repetitivamente descrito (tem, pelo menos, três momentos de descrição na íntegra). Isso não se aplica aos termos, acredito eu, inventados, para designar coisas intrínsecas à história, como os títulos Mahlag e Mahleyg, isso eu achei bem interessante, auxiliaria na construção desse mundo.

Outra coisa que ajudou a me perder muitas vezes na narração foi a quantidade de personagens. Quando eu jurava que estava tudo certo, surgia a fala de alguém que, supostamente, já havia aparecido antes, mas me passou despercebido, lá vai eu voltar umas páginas para ver onde o bendito personagem aparece e, muitas das vezes, é sutil demais e se perde no mar de personagens.

Talvez esse número exagerado de personagem também seja consequência da união de histórias separadas, porque dá para perceber, em alguns casos, de qual etapa aquele personagem surgiu e em qual ele sumiu.

Agora verdade seja dita, a personagem principal, Amat, é muito bem construída. É muito interessante ver a evolução dela, suas descobertas, sua ascensão para um lado sombrio e a volta para o “caminho bom”, mesmo do jeitinho dela. Foi com esse jeitinho (quase de psicopata em alguns momentos) que conquistou a confiança, o respeito e o temor, dependendo do caso, abrindo os olhos de muita gente para coisas que se acreditavam de olhos fechados.

Ela uma representação de uma mulher forte e lutadora, errou muito, mas soube se redimir nas horas certas, fazendo com que se tornasse exemplo para aquelas que a seguiam. Ela nunca foi santa, ela se moldou sob as adversidades da vida, mas aprendeu a fazer o bem também.

Vocês já leram “Os Livros de Areia e Sangue”? Concordam com o que eu disse?

Digam quais foram as impressões de vocês, please!

Beijinhos,

Até mais.

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