Felicidade é Útil? – “Ensaio sobre a Crise da Felicidade”

O século XXI trouxe algo com ele, uma sensação de corrida eterna pela felicidade, que não é exatamente a felicidade sob o olhar filosófico. Talvez por isso se veja tantas obras falando sobre esse sentimento “inatingível”.

O filósofo brasileiro Antoine Abed contesta alguns aspectos do comportamento dessa nova geração, analisando sob a ótica empregada por Epicuro, por meio da famosa “Carta a Meneceu”, e Albert Camus.

São 07 capítulos falando sobre estes aspectos. O primeiro traz a análise da sociedade contemporânea, quem são as pessoas que formam essa geração e o que eles pensam, concluindo que a sociedade passou a ser líquida, ou seja, seus objetivos e personalidades são extremamente mutáveis.

Essa liquidez pode ser benéfica, porque, como ele mesmo diz no sétimo capítulo, dá a oportunidade de as pessoas terem mais experiências, aproveitar ao máximo seu tempo de vida, aprendendo mais e mais. Mas também pode ser ruim, porque pode ser acompanhada da sensação de eterna ausência e de perda.

No capítulo quinto ele até fala sobre apender a perder, exatamente porque existe atualmente muito mais opções para as pessoas, o que muitas vezes quer dizer escolha. Para muitos a escolha de uma opção quer dizer a perda da outra e muitos ainda não sabem lidar com isso, acreditando que sempre é possível ganhar sempre, nunca perder algo.

Apesar do autor colocar como ponto alto do livro a leitura e análise da “Carta a Meneceu”, de Epicuro, não foi essa a parte que mais prendeu a minha atenção, mas sim os capítulos 02, 03 e 04.

O capítulo 02 fala sobre o consumo desenfreado, sentimento dado pelo capitalismo. Isso tem muito a ver com pensamento atual sobre sustentabilidade e consciência ambiental. O consumismo se tornou ferramenta para a felicidade, acredita-se que comente ao adquirir algo é que a pessoa será feliz.

Contudo, esse pensamento tornou a população humana cada vez mais poluente, o meio ambiente acabou sofrendo as consequências. Hoje existem movimento, até mesmo dentro da indústria da moda (uma das mais poluentes), em prol do Consumo Consciente.

Interessante comentar que um dos ícones da organização, que vem sendo uma ferramenta para o Consumo Consciente, Marie Kondo, usa o fator “felicidade” para selecionar os itens que devem ou não ser aproveitados nos armários e guarda roupas.

O capítulo 03 fala sobre a relação trabalho e felicidade. Fala-se neste momento que as pessoas estão buscando mais trabalhos que tragam prazer, não só benefícios financeiros. Lógico que o capitalismo não deixa que esquecemos o fator financeiro, mas realmente, é sabido que nos tornamos mais produtivos quando gostamos do que fazemos.

O capítulo 04 começa com o título “A Felicidade é Perfeitamente Inútil”. O que pensar sobre uma afirmação dessa? Será que nossa busca é realmente inútil?

Ao longo do capítulo o autor explica que o termo “inútil” tem sido alvo de preconceito, porque esqueceu-se o significado filosófico deste termo. Para a filosofia, “inútil” quer dizer que algo é perfeitamente valoroso nele mesmo, não servindo de ferramenta para nada além.

Ok, é confuso, mas filosofia dá nó na cabeça mesmo, por isso sempre temos que refletir ela!

Seguinte, essa teoria leva em consideração o valor das coisas. Por exemplo, trabalhamos para receber salário, assim poderemos comprar algo que queremos, isso quer dizer que o valor do trabalho, neste caso, está no salário e o do salário na compra futura. Até aqui dá para notar que algo é útil para outra coisa (valorosa).

Ah, valor, no caso, não é o financeiro.

Seguindo esse pensamento, a felicidade é o alvo de tudo que fazemos, logo ela não é degrau para nada acima disso, por isso que ela útil para si mesmo. Para os filósofos que seguem a teoria, isso quer dizer que é inútil e que isso é um elogio.

Complexo? Sim, mas extremamente interessante!

Confesso que este não é um livro que eu leria por prazer ou que eu escolheria em uma livraria, mas a reflexão que ele faz, apesar de parecer um pouco pessimista no começo, é muito importante para a nossa geração.

E aí, o que é a felicidade para vocês?

 

Até logo!

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