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CRÍTICAS

F1 – O Filme

F1 – O Filme
  • Publishedjunho 24, 2025

Quando falam que Tom Cruise salvou o cinema em 2022 com seu Top Gun – Maverick, não podemos esquecer de quem estava ao seu lado nessa façanha. Dividir o mérito dessa tal salvação da arte cinematográfica com seu realizador Joseph Kosinski seria, com certeza, o mais correto. Naquele mundo pós-pandemia, quando os cinemas apenas começaram a reabrir com segurança e as bilheterias não engrenaram, a dupla teve a excelência de dar uma razão para as pessoas saírem de casa e assistirem nas telas grandes um cinemão de ação e grande qualidade na brilhante continuação do filme de sucesso de 1986. Três anos depois, com a vida de volta ao velho normal, Kosinski, dessa vez, está do lado de outro galã de outrora e promete entretenimento de qualidade novamente, falo de F1 – O Filme (F1, 2025), em que o diretor, ao lado de Brad Pitt, nos transfere para o circo da velocidade do automobilismo, na super estreia da semana nos cinemas.

Sonny Hayes é um piloto estadunidense com quase 60 anos que vive buscando novos desafios em competições de velocidade, mas longe dos holofotes e do dinheiro, que vive perdendo em sua sede por apostas. Nos anos 1990 era uma promessa da Fórmula 1, até que um acidente o afastou de vez das pistas da maior competição do automobilismo. Certa feita, Ruben, um ex-piloto e amigo dele dos tempos de Fórmula 1, hoje dono de uma escuderia que só dá prejuízos e poucos resultados, a Apex Grand Prix, faz uma proposta para Hayes: voltar à Fórmula 1 para ser uma espécie de mentor de um jovem e promissor piloto, Joshua Pearce. O talentoso piloto precisa de alguém para colocar sua cabeça no lugar, pois é a última esperança de manter tanto a escuderia na ativa, quanto continuar sua carreira. Hayes não titubeia, aceita o desafio e entra como segundo piloto da Apex, com a missão de ajudar o amigo Ruben, dar segurança e experiência para Pearce e acertar as contas com seu passado nas pistas.

Com roteiro de Ehren Kruger, Joseph Kosinski nos premia mais uma vez com uma aula de entretenimento de alto nível. Numa espécie de Top Gun nas pistas, apenas substituindo os caças por velozes carros de corrida, F1 entrega tudo aquilo que prometeu. Muita ação, com imagens fantásticas, cenas incríveis, onde o frenetismo realista praticamente nos transporta para o cockpit dos velozes carros da mobilidade. Imersão total é a palavra certa para definir a experiência cinematográfica de assistir a esse filme, principalmente se você tiver o privilégio e sensibilidade de prestigiar em uma sala IMAX.

Simplesmente somos transportados para dentro das engrenagens da Fórmula 1. Ficamos por dentro da rotina desde o dono da escuderia, os mecânicos, os engenheiros, os familiares, o relacionamento com a imprensa e como a cada duas semanas essa rotina se repete com as equipes viajando pelo mundo para protagonizar essas audaciosas e velozes corridas. Sem falar que viajamos no filme pelos autódromos clássicos, que pra quem acompanha a modalidade, vai ser um deleite. Silverdome, Monza, Suzuka, Yas Marina de Abu Dhabi, entre outros, estão todos lá. O realismo não para aí, os pilotos que disputam as corridas com a dupla de perdedores em busca da glória são nomes que nem foram trocados, como Fernando Alonso, Max Verstappen, Bottas, e é claro, Lewis Hamilton, um dos produtores do filme.

Alguns vão dizer que F1 é aquele clichê clássico da saga do heroi que tem uma segunda chance. E é isso mesmo, mas quando clichês são bem utilizados, temos uma boa história de fundo e atuações precisas, esquecemos tudo isso e vibramos como se fosse o Rocky Balboa nocauteando o Apollo no filme de 1976. E o filme fica muito mais vibrante pois em cada corrida somos premiados com uma narração de primeira, tornando mais emocionante as arrojadas curvas e velozes retas dos autódromos. A excelente trilha sonora original de Hans Zimmer pontua tudo de maneira sublime, o drama com a ação, além de utilizar alguns clássicos do rock e a edição de som que faz qualquer parafuso apertado numa troca de pneus parecer soar como música. E ainda temos tempo para romance, acidentes, brigas de ego, dramas, humor, um pacote perfeito, num filme que sabe dosar o frenetismo da competição com o lado humano de quem vive aquele circo.

Brad Pitt está muito bem como o desiludido Sonny Hayes, que ao ver uma segunda chance fica mais arrojado ainda, tanto na velocidade do seu carro, quanto nas decisões e vida, um acerto e tanto do diretor em reaver nosso eterno galã e mostrar que idade não é tudo para o sucesso no esporte, um chute um tanto fantasioso no etarismo, que é um exemplo de que nunca é tarde para começar tudo de novo. Outro gigante, Javier Bardem é Ruben, o dono da escuderia, em mais uma atuação de primeira, esbanjando emoção e aflorando seu lado latino. O menino Damson Idris também está bem como o promissor Pearce, é um retrato de uma geração nova, mais preocupado com sua imagem e uma arrogância típica de achar que tem que ser o melhor sempre e da sua maneira. Mas é Kerry Condon que brilha muito como a engenheira mecânica Kate, que largou tudo pelo sonho de ser reconhecida num ambiente tão machista, projetando os carros e segurando os egos dos pilotos. O filme trabalha como poucos os coadjuvantes, toda a equipe da APXGP é peça fundamental na engrenagem do motor do filme (eita trocadilho besta) e demonstra que o senso de equipe é fundamental no sucesso do esporte, por mais individual que pareça uma corrida de automóveis.

F1 já pode ser considerado um dos grandes filmes do cinema comercial do ano. Não sei se terá o sucesso comercial absurdo de Top Gun – Maverick, mas mostra que às vezes o cinemão precisa de filmes espetáculos desse naipe, onde tudo funciona muito bem, uma história universal sobre superação que quando sabe aliar qualidade, roteiro, modernidade e entretenimento é um banquete perfeito para ser apreciado, principalmente nas telonas de um bom cinema!

Written By
Lauro Roth