Dolittle: humor leve e ótimos efeitos para dar “voz” ao mítico

Verdade seja dita, Dolittle (2020) não é um filme com uma trama inédita. Além dos conhecidos filmes com Eddie Murphy, também tivemos um filme no ano de 1967 chamado O Fabuloso Doutor Dolittle que recebeu o Oscar nas categorias de Melhores Efeitos Visuais e Melhor Canção Original. Mas ao olharmos um pouco mais para trás descobriremos que a trama original data do ano de 1920. A história se chamava The Story of Doctor Dolittle, Being the History of His Peculiar Life at Home and Astonishing Adventures in Foreign Parts (mais conhecido em inglês como The Story of Doctor Dolittle e em português A História do Doutor Dolittle), de autoria do escritor Hugh Lofting. 

As histórias literárias do Doutor Dolittle foram publicadas até 1952 (sendo três edições póstumas, visto que Hugh faleceu em 1947). Como é possível ver, há muito material sobre as aventuras do doutor que consegue conversar com os animais.

Dolittle (2020) é a mais nova história que relata a aventura do doutor e de seus amigos animais. Como principal destaque deste longa-metragem está o ator Robert Downey Jr., o Tony Stark da trilogia do Homem de Ferro, dos Vingadores e dos filmes do Homem-Aranha. O óbvio carisma de Downey Jr. já é um ponto positivo para o filme, mas será que ele se sustenta apenas com a interpretação do ator? Continuem aqui após o trailer e vamos ver o que achei da obra.

Uma nova aventura.

A história deste filme mostra uma parte interessante da vida do veterinário que fala com animais. Dolittle (Robert Downey Jr.). A introdução é feita através de uma animação muito bonita e que relata como ele conhece a mulher que se transformaria em seu amor maior, uma companheira que o ama e compreende sua missão, além de mostrar as inúmeras aventuras deles ao redor do mundo, tal como visto nos livros de Hugh Lofting. Entretanto, ele a perde de forma trágica, o que provoca sua reclusão e o fim das consultas aos animais.

Anos se passam após a morte de Lily (Kasia Smutniak). Em um belo dia, um garoto surge na porta da mansão onde Dolittle e seus animais vivem para pedir socorro a um animal ferido. Mas há também uma enviada da Rainha (Jessie Buckley) que convoca o médico para ajudar com a saúde de sua soberana. Esta menina chamada Lady Rose, interpretada pela doce Carmel Laniado, vence a teimosia de Dolittle com um forte argumento e a ajuda dos animais. 

No palácio, o médico descobre que a situação é bem mais complicada do que aparenta. A vida da Rainha está nas mãos dele e de sua equipe, auxiliados pelo nobre garoto Tommy Stubbins (Harry Collett) eles partem na viagem que determinará o futuro da Inglaterra.

Cabe destacar que apesar dos conhecimentos veterinários, Dolittle também aparenta ter conhecimento da medicina normal, algo que fica meio confuso na história.

O ponto alto, contudo, está na presença dos animais que ganham mais personalidade que alguns humanos, além do maior e óbvio destaque.

A busca pela redenção.

Há uma melancolia típica de quem perdeu alguém que amava. É da índole do ser humano se manter distante quando sofre uma grande perda e, claramente, isso também acontece a Dolittle. Mas se essa atitude é algo comum, também é comum (com o passar do tempo) que uma pessoa busque algo para preencher esse vazio, deixando bem claro que preencher jamais será substituir. Essa é a grande lição do longa ao nos mostrar que as dores são transformadas em saudade sem que isso implique em perder o amor por quem partiu.

E é nessa incessante busca da diminuição da dor que – verdade seja dita que houve uma certa pressão externa – Dolittle parte em busca de um fruto que pode salvar não apenas a vida da rainha, como também evitará a perda do santuário onde ele reside ao lado de seus amigos animais.

Mas o que essa nova jornada significa é que finalmente ele terá a chance de se redimir de algumas decisões que considera equivocadas, além de dar oportunidade para que novas pessoas (leia-se seres humanos) entrem em sua vida.

Efeitos Visuais e dublagens.

Por contar com vários animais falantes, através da magia do cinema moderno, Dolittle teve que adicionar ao seu elenco principal alguns talentos vocais para dar vida a esses bichos. Através da computação e das ótimas dublagens (refiro-me à original e à versão brasileira), o longa agrega valor e dá maior credibilidade à essa secular trama.

Diversão para adultos e crianças.

Ao fugir das comédias onde a apelação está presente e o nível das piadas é sempre ofensivo, Dolittle se consagra como um longa-metragem para a família. Há um tom sempre presente de inocência e fábula, onde a maioria das cenas – e a trama em si – foram pensadas para trazer um conteúdo engrandecedor, algo que possa levar o espectador à reflexão. Lembra muito os antigos livros de contos de fadas nos quais havia uma lição a ser aprendida. Não há excessos ou uma trama inovadora, porém certamente há um conteúdo acessível a todos, divertido e fácil de ser assistido, uma verdadeira “Sessão da Tarde” que não é o melhor trabalho de Robert Downey Jr, o que, honestamente, não tira o brilho e o bom conteúdo da história.

 

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