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CRÍTICAS

Crítica – Zootopia 2

Crítica – Zootopia 2
  • Publishednovembro 26, 2025

E às vezes a empresa do camundongo acerta. Nos últimos 20 anos as animações da Disney estiveram oscilando bastante, algumas de gosto bem duvidoso e outras grandes blockbusters para vender produtos. Mas há nove anos, uma animação sobre uma terra onde os animais viviam “harmoniosamente” e uma coelhinha desafiou a sociedade animal tornando-se uma policial, e com ajuda de uma vigarista raposa, derrubou uma prefeita inescrupulosa. Este filme tornou-se um fenômeno de bilheterias, sendo a quarta maior de uma animação da história, lucrando mais de um bilhão de dólares. O filme em questão era Zootopia – Essa Cidade é o Bicho (Zootopia, 2016), e que agora, quase uma década depois, ganha uma esperada continuação na aguardada estreia da última semana de novembro, Zootopia 2 (idem, 2025), do mesmo Byron Howard, só que agora em codireção com Jared Bush.

Judy Hopps hoje é uma respeitada policial, ainda vivendo os louros da investigação que derrubou a prefeita de Zootopia. Para sua alegria, o sarcástico malandro Nick Wilde também entrou no quadro policial e hoje é seu parceiro no combate ao crime. Em meio a comemorações ao suposto cientista que revolucionou a cidade com placas de controle de tempo, que permitem que todos os animais vivam bem, num clima ameno, um mistério ronda a cabeça da dupla. Escamas, contrabando e algumas pistas levam a tal ilha dos répteis. Há mais de 100 anos os répteis foram obrigados a saírem da cidade, depois de um ataque de uma cobra que foi fatal para uma tartaruga. Mas Hopps e Wilde desconfiam que tem caroço nesse angu e acabam acolhendo uma cobra dissidente, que surge para tentar explicar que seus ancestrais foram vítimas de mentiras e que uma família de linces está por trás dessa perseguição aos répteis. Para isso, a intrépida dupla, além de ter ajuda de Gary, a cobra, ainda conta com a castora Nibbles e o Lince Pawbert, que acredita que sua familia é culpada.

Zootopia, de 2016, além de ter gráficos super caprichados e um roteiro que nos enchia de referências a filmes noir e de duplas que são obrigadas a conviver, mesmo com características diferentes, tinha por trás a questão da harmonia entre diferentes. Como mesmo diz o título do filme, a tal utopia animal era de inclusão, onde todas as espécies eram obrigadas a viver em paz, com respeito às diferenças. É também um filme de motivação e superação, já que a coelhinha Judy parecia condenada a viver como uma simples pequena agricultora no interior, mas desafiou a família, a sociedade e a polícia, sendo uma investigadora de primeira. É através da mensagem que qualquer pessoa, mesmo com um passado de pequenos golpes, no caso a raposa Wilde, poderia entrar no eixo e se regenerar.

E Zootopia 2, além de manter essas mensagens positivas, tem a sorte de que em nove anos a tecnologia de animação melhorou bastante, e se já era bom ver aquele zoológico ambulante em 2016, hoje a perfeição dos detalhes, cores, realismo das fisionomias e silhuetas dos animais encanta mais ainda. E no primeiro filme tínhamos mais uma investigação detetivesca, onde Hopps era uma voz solitária na polícia, atrás das respostas da ferocidade dos predadores, nesse segundo filme temos um exemplo mais definido de buddy cop. A dupla Judy e Nick, por mais diferentes que sejam, são obrigados a assumir a bronca de desmascarar uma história do passado de Zootopia e enfrentar sem ajuda da polícia os mafiosos linces. Com um humor mais ácido e sarcástico que no primeiro filme, o que pode dificultar o timing para a molecada entender as piadas, mas que é compensado com muito frenetismo, perseguições, alta velocidade e animais por todo lado. E acabamos conhecendo a cidade, pois a investigação não se limita a becos e submundos e sim a vários bairros e locais diferentes da Zootopia. 

Outro ponto positivo, que em uma era de tanta preocupação panfletária, até em simples animações – por mais que o filme explore a repulsa com os répteis, renega as cobras ao exílio e a exemplos de perigo constante (errados não estão…), em nenhum momento temos pieguices e discursos baratos. Gentrificação e preconceito com as áreas dos répteis renegadas a pântanos e bairros isolados e tentativa de explorar esse território na figura dos magnatas linces são um reflexo da sociedade atual, em uma robusta alegoria que jamais cai para a crítica caricata. A própria cobra oprimida Gary tem bastante força e confiança em expor a verdade e ser aceita novamente. Discursos necessários, mas nada muito forçado, com uma sutileza e leveza admiráveis, sem maniqueísmos.

Zootopia 2 continua nos brindando com belas referências, um humor refinado, uma fauna de personagens encantadores e uma dupla de policiais que já podem entrar no panteão das mais divertidas e arrojadas do cinema, por mais diferentes que sejam, e precisam até de terapia de grupo para acertar a parceria. Ela em seu excesso de confiança, que a torna chata por vezes, e ele em sua insegurança, que por vezes é maquiada por seu jeito despretensioso. A cobra Gary tenta dar uma amenizada na difícil vida dos ofídios, e mesmo boazinha, nosso asco a elas não consegue ver fofura na sua persona. Mas a ideia principal do filme é isso, inclusão, superação e respeito entre as diferenças, missão difícil tanto na Zootopia quanto na vida real, com a diferença que na animação podemos brindar essa união de gazela com a voz de Shakira transformando tudo em festa com sua animada canção Zoo. Se o primeiro já era bom, o segundo não perde e é diversão de alta qualidade.

Written By
Lauro Roth