Crítica: Vigaristas em Hollywood

Fica difícil acreditar que um diretor possa ter no seu cast uma trinca de grandes atores e mesmo assim não conseguir criar um filme empolgante. George Gallo, veterano diretor de filmes menores e acostumado a dirigir bons atores na sua carreira, tanto na boleia da direção quanto na escrita de roteiro, teve o privilégio de ter Morgan Freeman, Robert de Niro e Tommy Lee Jones na sua última empreitada. E mesmo assim, de antemão, ele fracassou. Fazendo uma refilmagem de um obscuro filme de 1982, com a mesma premissa, Gallo estreia o seu Vigaristas em Hollywood (The Comeback Trail, 2020) nas telonas essa semana.

Vigaristas em Hollywood se passa em 1974 e logo somos apresentados a Max Barber e seu sobrinho Walter Creason. Os dois são produtores de filmes B, geralmente de terror, com roteiros do tipo freiras assassinas e a última empreitada da dupla é um fracasso recorde de público. Max se vê atolado em dívidas e como seu último financiador do filme é um mafioso, Reggie Fontaine, além de dever dinheiro, ele corre sério risco de vida. Devido a um bizarro acidente em um set de filmagem, Max tem uma ideia genial: contratar um ator, veterano se possível, realizar um péssimo filme e matar esse ator no set, o que acarretaria o pagamento de um milionário seguro. Basta encontrar esse ator. Ele e seu sobrinho descobrem numa clínica um veterano de filmes de western, Duke Montana, que com coração partido e ideias suicidas parece a perfeita vítima para o plano. Mas o que Max não conta é que Duke é osso duro de roer e não será fácil se livrar dele.

Antes de mais nada, por mais que Vigaristas seja uma ficção nonsense e com humor negro, infelizmente ela foi lançada em uma época marcada por uma tragédia em set de filmagens. Não tem como não lembrar o trágico caso de Alec Baldwin no seu último filme, em que uma bala de verdade matou a diretora de fotografia da película. E ver um filme em que se faz de tudo para um personagem morrer e parecer acidente, realmente não é algo agradável. Enfim, se fosse apenas esse azar de timming de lançamento, mas George Gallo perde completamente a mão num filme com um potencial galáctico que tinha nas mãos. Com roteiro dele e de Josh Posner, baseando no filme The Comeback Trail, de Harry Hurwitz, de 1982, o filme até tenta, mas passa longe de uma comédia divertida. E mesmo querendo ser, está bem distante de um filme decente ou até mesmo irreverente de sátira à indústria cinematográfica. Com um roteiro até que interessante, mas mal executado, o filme abusa de citações a clássicos do cinema e mesmo a interessante metalinguagem apresentada, que nos remete a um set de produção de um filme de western, não emplaca e realmente mesmo com uma duração curta, ele cansa. Com tudo soando caricato demais, piadas forçadas, uma reconstituição de época fraquíssima e os mirabolantes planos de Max com suas armadilhas para matar Duke lembram muito as armadilhas do coiote contra o Papa Léguas, de tão surreais e mal executadas, mas com muito pouca graça.

Robert de Niro é Max Barber, sua caracterização é tão caricata e sua atuação é tão sem graça que fica difícil imaginar um gênio desse quilate participar de um filme tão fraco, ele obviamente é acima de muito pseudo ator por aí, mas realmente não convence. Isso vale para Morgan Freeman como o mafioso Reggie Fontaine, com aqueles clichês de blaxpoitation, passa o filme todo falando citações a filmes antigos e tem uma dupla atrapalhada de capangas. Morgan ao menos parece que estava se divertindo, apenas isso. Talvez Tommy Lee Jones, como o outrora famoso Duke Montana, construa o personagem mais interessante do filme, como um depressivo e com coração partido ex-herói do cinema, lembra um John Wayne arrasado, mas que mesmo com todos seus problemas ainda têm lenha pra queimar. Uma boa atuação. Fora do trio de ouro, destaco Kate Kazman, como a diretora do filme Megan Albert, com uma ótima atuação mostrando segurança como uma improvável diretora de um western que tinha tudo para dar errado, mas acaba dando certo.

Vigaristas em Hollywood desperdiça material humano de primeira com um fraco roteiro e piadas que funcionam muito pouco. Funciona às vezes como uma homenagem aos meandros de Hollywood, às picaretagens dos bastidores e apresenta muito bem como funciona um set de um filme de faroeste (boas cenas com cavalos e búfalos, planos abertos, tiros e uma fotografia bonita), mas mesmo assim é pouco para apresentar um filme que possa agradar. O trio de atores, com exceção de Tommy Lee, está aquém de qualquer expectativa e George Gallo nos apresenta um filme confuso, às vezes monótono (principalmente na primeira metade), sem graça e com grande potencial para ser esquecido rapidamente.

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