Crítica: Venom – A Última Rodada
Um dos comentários mais falados dos fãs do gênero herois acerca do terceiro capítulo do simbionte que usa Eddie Brock como hospedeiro é que esse filme é o melhor filme da trilogia do linguarudo do Venom. Seria um mérito positivo se os dois filmes anteriores fossem duas obras primas, não o galhofeiro e exagerado primeiro e o pavoroso e confuso segundo da trilogia. Resumindo, ser melhor que os dois não é grande coisa. Mas o universo de vilões do Homem Aranha da Sony resolveu fechar a trinca de filmes e essa semana temos nas telonas Venom – A Última Rodada (Venom – The Last Dance, 2024), de Kelly Marcel.
Na sua última rodada vemos que Eddie Brock e seu amigão Venom estão fugindo pelo México, tomando todas depois dos eventos do segundo filme. Só que Eddie enche o saco e não aguentando mais tequilas e drinques, quer voltar para os Estados Unidos e a solução é ir a pé, ou na cauda de aviões por aí, na companhia do monstrengo. Em outro mundo, Knull, um ser vingativo que tem o poder de destruição, quer acabar com os simbiontes traidores (criações suas), buscar um código que irá gerar e libertará esse poder destrutivo e manda para Terra alienígenas, também de sua criação, para acabar com os simbiontes e o que vier pela frente. Enquanto isso, exército e cientistas na folclórica Área 51 capturam algumas amostras de seres alienígenas e estão atrás de Eddie, que tem que fugir e encarar junto com Venom tanto da ameaça alienígena quanto dos humanos, que querem a qualquer custo capturar a dupla.
Com direção e roteiro da própria Kelly Marcel, Venom – A Última Rodada (eita título ruim, parece que estão pedindo uma saideira no boteco), na minha ótica, não é o melhor dos três filmes. Claro que perto do segundo é muito mais filme, mas mesmo com todo o capricho dos efeitos, criaturas feitas com esmero no CGI e batalhas mais nítidas e menos frenéticas, Venom 3 perde o que tem na sua carne: o humor mais sarcástico, leia-se, bom humor do primeiro filme. Conta-se nos dedos os momentos que fazem rir no filme, até o monstrengo está mais comedido e Tom Hardy, por mais que se esforce nas piadas sem graça, parece cansado e de saco cheio de carregar o encosto do alienígena nas costas.
O grande momento do filme, apesar das inúmeras batalhas avassaladoras entre os simbiontes e as criaturas de Knull, é quando os dois enfrentam uma máfia mexicana de rinha de cães. Ali o espírito de Brock e Venom dá os seus ares. O resto do filme é uma total falta de história, com um vilão que mais parece um professor contando tudo o que vai fazer para o espectador, humanos idiotas, o próprio Chiwetel Ejiofor, como o soldado Strickland, é mais caricato do que nunca e a dupla de cientistas, Juno Temple, como a doutora traumatizada por raios Teddy Payne, e Clark Backo como a outra pesquisadora amante de Natal e de nome Christimas, não acrescentam em nada pra trama. Mas o mais patético é a inclusão de uma família hippie encabeçada por Rhys Ifans, um cara obcecado por ETs e a Área 51, que dão um ar de sessão da tarde surreal pra trama. Até Andy Serkis, como o vilão Knull, que não aparece quase nunca, lembra aqueles super inimigos do Scooby-Doo ou o Mumm Ra do He-Man, sempre narrando seus planos e próximas ações. E, mesmo com a inclusão de boas músicas, um cavalo simbionte e um Venom pé de valsa em Las Vegas, o filme, fora das cenas de ação, não engrena.
Talvez na questão efeitos especiais é o filme com mais esmero técnico, mas ainda apela muito (apesar de ousar mais em tomadas diárias) as batalhas na penumbra, em que a gente não entende nada o que está acontecendo, numa velocidade de movimento, explosões e alvoroço constante dos entreveros alienígenas. Em suma, é um filme que busca um tal equilíbrio, mas que peca em usar como cenários lugares mais ermos, poupando custos e destruições em locais públicos, que mesmo com um Tom Hardy cansado, ainda carrega bem (literalmente) o personagem, num confuso roteiro que quer tentar abraçar um monte de coisa, mas falha miseravelmente em quase tudo. Um filme que vai agradar os fãs do personagem, mas que ainda ficará longe de conquistar quem não tem mínima intimidade com o falastrão anti-heroi da língua grande.