Close
CRÍTICAS

Crítica – Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda

Crítica – Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda
  • Publishedagosto 4, 2025

Em 2003, um remake de um filme meio esquecido de 1976, com Jodie Foster e Barbara Harris, filha e mãe que acabavam trocando de corpo, foi responsável por um dos grandes êxitos de bilheteria do início dos anos 2000. No remake intitulado Sexta-Feira Muito Louca, Jamie Lee Curtis e a então estrela Lindsay Lohan, com aqueles conflitos geracionais entre pais e filhos, também acabaram trocando de corpo, gerando inusitadas situações, com cada uma tendo que assumir a vida da outra. O filme, com direção de Mark Waters, custou 26 milhões de dólares e faturou a bagatela de 160 milhões, arrecadando seis vezes mais do que custou. Teve sucesso também no mercado de home vídeo, sendo figurinha cobiçada em DVD nas prateleiras de locadoras, e passados 22 anos, já pode ser considerado um cult movie. Pensando em explorar novamente a temática e utilizando a química entre Curtis e Lohan, a diretora Nisha Ganatra foi responsável de dar vida a continuação da história das Coleman, no Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda (Freakier Friday, 2025), a estreia mais esperada nos cinemas neste início de agosto.

Passados mais de 20 anos, muitas coisas mudaram na família Coleman, mas o relacionamento entre Tess e Anna está cada vez melhor. Tess hoje tem um podcast que faz em casa, está se preparando para lançar mais um livro e curte a sua neta Harper. Anna, mãe solteira de Harper, seguiu carreira na música, mas hoje agencia e produz artistas, entre elas, a cantora de sucesso Ella. Harper tem todos os problemas e conflitos da idade com sua mãe, e para piorar, Anna acaba se apaixonando por Eric, pai de uma colega esnobe de Harper, a arrogante Lilly. Anna e Eric, querem se casar e se mudar para a Inglaterra, para desespero de Harper, mas em uma sexta à noite, algo surreal  acaba acontecendo e dessa vez as quatro acabam trocando de corpo. Tess acaba ficando com o corpo de Lilly e Anna acaba trocando de corpo com sua filha Harper. As quatro então precisam conviver com a nova condição e isso tudo às vésperas do casamento de Anna com Eric.

Às vezes fico com pé atrás quando resolvem mexer com um cult movie, ainda mais em uma era que esses são escassos. Uma Sexta-Feira Muito Louca, de 2003, foi um dos filmes mais simpáticos e divertidos do início do século e mostrou uma sintonia perfeita entre Lohan e Curtis. E talvez pensando nisso, a diretora Nisha Ganatra, com roteiro de Jordan Weiss, aposta mais uma vez, agora 22 anos depois, na química entre as duas atrizes. E Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda tem como mérito explorar a nostalgia e mexer muito pouco na estrutura do filme de 2003. Tess e Anna seguiram suas vidas, criando um laço ainda maior depois do que passaram no primeiro filme, e mesmo o acréscimo das meninas Lilly e Harper para dobrar as confusões numa mega troca de corpos, quem segura a trama são Jamie Lee Curtis e Lindsay Lohan. 

Jamie, nos últimos anos, cada vez mais mostra que está à vontade em qualquer tipo de papel e seu timing para comédia está cada vez melhor. Ela se diverte como nunca como a psicóloga que quer se antenar às novidades do nosso tempo. E Lohan ressurge muito bem como a madura Anna, que mesmo tendo que interromper seus sonhos de popstar, tem que ser mãe tanto da filha, quanto da imatura Ella, estrela da música que agencia. 

O filme segue aquele cartel de piadas previsíveis mas deliciosas, com situações como Tess e Anna nos corpos das adolescentes, ter que voltar para a escola, ou quando Harper, no corpo a mãe Anna, tem que evitar ao máximo se aproximar do noivo Eric, ou quando as duas jovens no corpo de Anna e Tess, tentam de tudo para evitar o casamento, inclusive tentando resgatar um apaixonado antiga de Anna, Jake, interpretado pelo mesmo Chad Michael Murray, do filme de 2003. O filme então se torna uma sequência frenética de situações engraçadas, algumas boas, outras nem tão boas piadas, mas dentro do cômputo geral diverte e muito, além de como falei antes, despertar o ar nostálgico do cultuado Uma Sexta-Feira Muito Louca. Logicamente que estamos falando de uma produção da Disney e a diretora pretende mostrar que time que está ganhando não se mexe, utilizando todas a ferramentas básicas desse tipo de produção, com aqueles finais previsíveis e super alegres dos filmes dos anos 1990 e início dos anos 2000, mas que não comprometem jamais o prazer de assitir o filme. As meninas, mesmo não brilhando tanto quanto Curtis e Lohan, também não fazem feio, Sophia Hammons, como Lilly, se destaca com sua personalidade esnobe cheia de empáfia e Julia Butters, se não brilha, não compromete como Harper, a filha de Anna. Manny Jacinto, como Eric, pouco acrescenta na trama, apenas um coadjuvante com sua cara de tacho no filme e Mark Harmon repete, cada vez mais discreto, o papel de Ryan, marido de Tess e padrasto de Anna.

Uma Sexta-Feira Ainda Mais Louca é uma agradável e bem-vinda surpresa. Num Saara de boas comédias na safra atual do cinema, ele utiliza os elementos essenciais do gênero, misturando doses bem colocadas de nostalgia, piadas que funcionam, muita confusão e situações cômicas (parece chamada de Sessão da Tarde) e uma dupla de atrizes repetindo, 20 anos depois, seus papeis de um maneira magistral. Se Jamie Lee Curtis dispensa apresentações, fico feliz com Lindsay esbanjando talento e humor, mostrando que a química entre as duas continua intacta e até melhor. Procurando mexer pouco no que deu certo no passado, a diretora Nisha Ganatra nos entrega um dos filmes mais alto astral do ano até aqui, um refresco para nossas mentes, onde por duas horas as risadas e a diversão são garantidas.

Written By
Lauro Roth