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CRÍTICAS

Crítica – Um Filme Minecraft

Crítica – Um Filme Minecraft
  • Publicado em: abril 3, 2025

Por mais que um filme que adapte um game para as telonas tenha a preocupação de agradar aos fanáticos amantes do jogo, quando tal adaptação consegue furar a bolha e agradar até quem não tem conhecimento algum sobre o jogo, é sinal que a missão realmente foi comprida. E isso posso falar com autoridade sobre a nova loucura de Jared Hess, o responsável por pérolas hoje cults como Napoleon Dynamite (2024) e Nacho Libre (2006), está em casa na adaptação de um dos mais famosos e vendidos  jogos eletrônicos da história, o Minecraft. Com o título de Um Filme Minecraft (A Minecraft Movie, 2025), o filme tem sua estreia mundial nesta quinta-feira.

Steven vive na dimensão de Overworld, um mundo em que convive com blocos, pedras preciosas, ferramentas especiais e criaturas como animais quadrados, aldeões passivos, zumbis e esqueletos  noturnos, além de ter que enfrentar os perigos de outro mundo chamado Nether, local onde moram porcos (piglins) violentos e pouco amistosos. Um dia Steven tem a companhia inesperada de quatro visitantes, dois irmãos (Nathalie e Henry) que recentemente perderam a mãe, Dawn, uma faz tudo da cidade, que às vezes se vira como corretora, outras tem um mini zoo, e Garret Garbage Garrison, ex-campeão de videogames, que vive do passado, mas está falido com sua loja de games antigos. Os quatro inesperados forasteiros, além de ter que se adaptar a esse mundo novo, precisam contar com a ajuda de Steven para voltar para casa, mas antes tem que enfrentar os piglins, liderados por uma malévola líder, que querem acabar de vez com o mundo superior e encontrar um artefato mágico que promoveria essa tal destruição.

Quando saiu o primeiro trailer da adaptação do jogo mais vendido de todos os tempos, logicamente que a corneta dos puristas mineradores virtuais tocou forte e a expectativa de uma grande decepção era iminente. Mas Jared Hess, imbuído do potencial criativo ilimitado que o próprio Minecraft nos oferece, acerta em cheio em um filme que simplifica e faz o óbvio. É um filme para todos e não apenas para os não poucos adeptos do jogo. Com um mundo todo a apresentar, ainda faz uma pequena introdução a quem nada sabe sobre o jogo, contando a história de Steven e os mundos do universo do game, e logo de cara somos apresentados a um prazeroso espetáculo visual, numa caprichada direção de arte, com a ênfase ao quadradismo característico do jogo, mas nunca soando estranho quando os atores contracenam no ambiente e suas incríveis criaturas. Mas o que realmente pega de jeito, além de o respeito às diversas referências ao mundo inovador do Minecraft, é o tom de humor no timming certo na trama. 

Com um roteiro de Chris Bowman e Hubbell Pallmann, o filme consegue divertir com piadas certeiras que agradam as crianças e os adultos, ao contrário do humor moderno de produções engraçadinhas da Marvel, sabe utilizar com maestria o momento certo para a galhofa. Um filme com cara de anos 1980 e 1990, com muita aventura, humor, importância do trabalho de equipe, respeitando as qualidades de cada personagem e mesmo com pontuais fanatismos característicos da época, ainda sabe puxar o freio na hora certa. E no meio de tantos animais quadrados, porcos bravos e personagens explosivos, é o time de atores que leva a trama.

Jack Black é ele mesmo mais uma vez e isso não tem problema algum. No papel do icônico Steven, com sua picareta e blusão azul turquesa, ele comanda o filme com uma desenvoltura e humor contagiante. Jason Momoa também está cada vez melhor, dessa vez no ex-campeão de games preso aos anos 1980, com uma deliciosa arrogância, servindo de dupla perfeita na competitividade com Steven para enfrentar os piglins. Danielle Brooks também está ótima como a multifuncional Dawn, que acaba de gaiato no mundo superior e serve de apoio para Sebastian Hansen e Emma Myers como os órfãos Heny e Natalie, que precisam enfrentar a perda recente de suas vidas. Até a coadjuvante Jennifer Coolidge tem um papel hilário, em um caso de amor com um aldeão com cabeça grande do mundo superior que parou na Terra. E, obviamente, em filme de Jack Black tem quer ter música, não é? Fora os números originais como I Feel Alive e Ode to Dennis, com performances do sempre onipresente Jack Black, temos um saudosa nostalgia ao ouvir clássicos do Skid Row, B52 e Depeche Mode, entre outros.

Um Filme Minecraft acerta em cheio no que se propõe, homenageando com carinho a importância de um dos jogos mais queridos do mundo, com belíssimas imagens e inúmeras referências, mas nunca limitando o filme apenas à bolha de fãs do game. Com criatividade, Jared Hess recria o mágico mundo ao seu jeito, com situações hilárias, contando com um afiado e super à vontade elenco, num filme leve, divertido e com uma simplicidade (que às vezes faz falta em filmes atuais), com o público infantil como alvo, mas que vai fazer muitos adultos acharem o filme um barato, com sabor delicioso de Sessão da Tarde.

Written By
Lauro Roth