Crítica: Tubarão – Mar de Sangue

Desde que Steven Spielberg, em 1975, apresentou para o mundo seu temível tubarão branco nas telas, as praias nunca mais foram as mesmas. E nem o cinema. Muitos filhotes do filme surgiram, com diversos tipos de animais, assustando e devorando humanos nos seus habitats, além das terríveis continuações do filme original, cada ano surge um novo tubarão no cinema para morder e deixar seu rastro de sangue pelos mares. E, normalmente, em péssimos ou caricatos filmes. Tubarão – Mar de Sangue (Shark Bait, 2022), de James Gunn, que tem estreia marcada para essa quinta-feira nos cinemas, é mais um desses que tem tudo para entrar no rol dos esquecíveis filmes do gênero.

Um grupo de amigos estudantes estadunidenses está tendo uma noite de despedida de férias no México, regada a muita música, bebida e diversão. E para completar, como a curtição não termina nunca, os cinco amigos, duas mulheres e três homens, caindo de bêbados, resolvem pegar emprestado (leia-se roubar) dois jet skis e entram mar adentro. Mas como estão mais duros que ovos para salada, se envolvem num acidente em alto mar, e ficam a deriva apenas com os dois jet skis pifados como suporte para não se afogarem. Para completar, além da ressaca, um amigo gravemente ferido, um sol de rachar a cuca, eles não estão sozinhos, gigantes pouco amiguinhos de barbatanas, dentes afiados e com toneladas de peso, estão com fome e só pensam em devorar os cinco cachaceiros como jantar.

Com direção de James Nunn e roteiro de Nick Saltrese, Tubarão – Mar de Sangue pode ser considerado um dos filmes mais fracos do ano. Ele fracassa como suspense, como terror, tem péssimas atuações, ataques de tubarão extremamente sem graça e para não dizer que não vi algum mérito no filme, ah sim! – ele tem uma fotografia bonita, explorando a escassa ação em alto mar, com belas tomadas aéreas, usando bem o efeito do sol escaldante e a imensidão marítima. Mas, infelizmente, fica por aí. Se esse filme tivesse sido feito em 1982 até teria uma justificativa, tem toda aquela cara de slasher movie da década de 1980, jovens em busca de bebida e farra, insinuações sexuais, um velhote nativo que alerta sobres os perigos, no caso aqui um aviso sobre o Tiburón, totalmente ignorado pela turma, e uma ação arriscada que coloca todos em perigo. E ao invés de um serial killer mascarado, aqui temos um tubarão gigante que persegue um a um os irresponsáveis americanos. Enfim, tudo soa clichê ao extremo e o filme, com algumas raras exceções, principalmente nas cenas em que três sobreviventes tem apenas o jet ski como guarida em um mar calmo, mas inóspito, o que dá uma sensação de impotência contra a grandeza da natureza, o resto é sem graça e previsível demais. Ataques óbvios do animal, efeitos pífios de CGI, mortes pouco explícitas e com realismo quase zero, mesmo sendo um filme de sobrevivência, devido aos personagens terem o carisma de uma lata de ervilha, no final até que bate uma vontade de torcer pelo tubarão. E é daqueles filmes que, mesmo tendo pouco mais de 80 minutos de duração, parecem durar uma eternidade, de tanta monotonia e falta de criatividade.

Das atuações temos pouco a falar, Holly Earl, como a heroína Nat, talvez seja a única que tenha uma atuação que possa ser engolida no filme (perdão pelo trocadilho). O resto, desde os rapazes até a outra menina, passam despercebidos e só servem como isca de tubarão.

Um filme como esse faz um Medo Profundo (2017) ser quase uma obra-prima, já o segundo, de 2019, não posso falar o mesmo. Infelizmente, Tubarão – Mar de Sangue não tem potencial nem para ser aqueles deliciosos filmes que de tão ruins, queremos revê-los com o passar dos tempos e talvez a única lição que possamos aprender com o longa é que se forem beber e encher a cara de tequila nas praias mexicanas, por favor, não pilotem jet skis, porque a ressaca tanto moral, física e do mar pode ser um tanto indigesta, a não ser que você seja um gigante e guloso tubarão.

 

 

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