Crítica – The Alto Knights – Máfia e Poder

Robert De Niro é hoje um dos atores com mais filmes na carreira, tendo começado no fim dos anos 1960, com quase 60 anos de telonas e mais de 100 filmes, além do seu inigualável talento, já vimos De Niro fazer de tudo. Trabalhou em comédias, dramas, filmes históricos, policiais, de ação, mas é claro que sempre ligamos sua imagem a filmes de máfia. Com inúmeras parcerias com Scorsese, além de ser o Vito Corleone jovem, em O Poderoso Chefão, o ator é quase um fetiche para realizadores que têm o submundo do crime como tema. E Robert está de volta com os italianos numa Nova Iorque dos anos 1950. Só que dessa vez o temos em dobro, fazendo os dois papeis principais do novo filme do veterando diretor Barry Levinson, que estreia essa semana nos cinemas: Alto Knights – Máfia e Poder (Alto Knights, 2025).
Em 1957, o mundo da máfia nova-iorquina se surpreende com um atentado contra Frank Costello, um dos maiores figurões do crime. Costello se safa, mas descobre que quem está por trás do crime é seu amigo de infância e companheiro de infrações Vito Genovese, que está insatisfeito com o poder e negativas do ex-amigo. Esse fato faz com que Costello resolva dar um tempo e largar a bandidagem. Em tom de reminiscências, acabamos conhecendo como foi a ascensão ao crime das duas famílias, os Costello e os Genovese, culminando na ruptura e na fracassada tentativa de homicídio.

Barry Levinson, diretor de filmes como Enigma da Pirâmide (1985), Bom Dia Vietnã (1987) e Rain Man (1988), que lhe deu um Oscar por direção, já tinha flertado com filmes de máfia em 1990 com Bugsy e já tinha dirigido Robert De Niro em Sleepers (1996 ) e Mera Coincidência foi o responsável por colocar nas telonas essa história que desde os anos 1970 não saia do papel. Com o roteiro do consagrado Nicholas Pileggi, Alto Knights é um filme de máfia à moda antiga. O que não é nenhum demérito. O diretor usa e abusa de todos os clichês possíveis e impossíveis, como traições, atentados, vendettas, capangas típicos, policias corruptos e idealistas, imprensa sensacionalista, entre outros. Artifícios para contar a história real de Costello e Genovese, e em duas horas, nos dar um honesto e cinematográfico retrato de como as famílias italianas dominavam o campinho do crime na Grande Maçã. A saga de Costello e Genovese é contada em tom de narração por Costello, e em quase ritmo de documentário, somos apresentados à história da ascensão à base de contravenção, violência e muita corrupção dos dois amigos italianos, que por caminhos diferentes seguiram o mesmo rumo.

Por mais que Levinson se esforce, Alto Nights (nome do bar onde se encontravam os mafiosos) como narrativa, o filme realmente não mostra nada realmente novo e faz uma miscelânea dos melhores filmes do gênero. Homenageia ícones como James Cagney, em uma cena que aparece em Fúria Sangrenta (1949), e com uma câmera tradicional, nos apresenta uma bem contada trama, que se não tem a criatividade como ponto forte, possui a capacidade de, com uma história didática e bem filmada, prender a atenção de quem assiste o filme.
Mas o grande feito do filme é termos dois Robert De Niro na trama. Como falei antes, Bob sempre teve como seus pontos fortes atuar como mafioso, desde pequenos gatunos, capangas de mafiosos até a chefões do crime. E aqui, com a ajuda da tecnologia, interpreta tanto Costello quanto Genovese e os dois, como sempre, de forma exemplar. Se Costello é mais o tipo que De Niro gosta de fazer, o gangster mais reflexivo, sensato mas não menos violento, como Genovese ele por vezes lembra dos tipos que o companheiro Joe Pesci fazia. Mafiosos com muita raiva, despejando palavrões e temperamento explosivo. Papeis que só um gênio como De Niro poderia fazer, mesmo nos alto dos seus 81 anos, ainda esbanja vitalidade e talento. Debra Messing interpreta Bobbie, a esposa de Costello, e Kathrine Narducci, Anna, a temperamental esposa de Genovese.


Alto Knights – Máfia e Poder (eita nomezinho criativo…) cumpre no que promete. Um cenário histórico, de uma era em que os italianos comandam o underground de Nova Iorque, com uma reconstituição primorosa e um ritmo que agrada o espectador. Uma trama contada de forma redondinha sobre dois personagens ao mesmo tempo odiosos, mas extremamente importantes da primeira metade dos séculos 20, com o diretor tarimbado e que conhece os atalhos para contar em imagens uma robusta história. Mas com certeza, o prato principal do filme é saborear Robert De Niro em dois papeis, em personagens que são muito do mundo dele, com uma perfeição técnica que temos quase a certeza que nos momentos em que contracena consigo mesmo, temos dois atores diferentes em cena. Mais uma aula de cinema de um dos melhores atores de todos os tempos e que ainda nos dá o prazer de presenciarmos nas telonas. Só por o termos em dose dupla vale muito o ingresso.
