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CRÍTICAS

Crítica: Super/Man – A História de Christopher Reeve

Crítica: Super/Man – A História de Christopher Reeve
  • Publicado em: outubro 15, 2024

Como diria o poeta Gonzaguinha: “Há quem fale que a vida da gente é um nada no mundo, uma gota é um tempo que não dá um segundo”. Mas como ele mesmo diz, a vida é sempre desejada, independente da forma como a levamos. No caso do autor dessas frases, a vida foi um sopro que durou 45 anos e que virou saudades num acidente de carro, mas e quando a vida, em um segundo, muda completamente e você, de um ativo homem, pai de familia, atlético e que simplesmente deu vida, cara e sucesso ao Superman muda completamente e te prende a um corpo sem movimentos? Essa é a história de Christopher Reeve, o eterno e imortal Superman que tem essa mudança drástica na sua vida contada num documentário Super/Man – A História de Christopher Reeve (Super/Man – The Christopher Reeve Story, 2024), com direção de Ian Bonhôte e Peter Ettedgui, que estreia essa semana e promete lacrimejar muitos olhos dos espectadores nas sessões de cinema brasileiras.

Em 1995, Christopher Reeve, com 43 anos, já não era a sombra do sucesso que foi entre 1978 e 1987, quando em quatro filmes mudou o mundo dos herois nas telonas imortalizando SuperMan. Pai de três filhos, sendo um de três anos, atuava esporadicamente em filmes menores, e vivia intensamente sua vida esquiando, velejando, correndo, sempre fisicamente ativo e inventando algo novo. Até que um dia, em 1995, numa queda de cavalo, num acidente aparente banal, ficou tetraplégico. A partir daí, com a ajuda da esposa Dana Morosini, Reeve enfrenta sua nova vida e passa a se dedicar à causa das pessoas com deficiência física, sem nunca ter perdido o sonho de voltar a andar e servindo de exemplo cru da fragilidade humana, mostrando que a luta pela vida é algo sobrehumano. Em paralelo, conhecemos a história pregressa de Reeve, um ator clássico e shakespeariano, com físico normal, que acabou se tornando o Super Homem e encantando plateias pelo mundo inteiro.

De uma maneira não cronológica, com uma montagem dinâmica e usando de muitas imagens de arquivos de família (coisa que os estadunidenses tinham de bom antes dos smartphones, era ter uma câmera e filmar de tudo, gerando um rico e único acervo de imagens), os diretores Ian Bonhôte e Peter Ettedgui conseguem, com um roteiro simples mas motivador, prestar uma homenagem fantástica ao ser humano Christopher Reeve. Partindo do acidente e fazendo voltas temporais, acabamos conhecendo tanto o ator que sempre queria provar para o pai seu talento com atuações dramáticas, que o destino transformou num mega star, e também conhecemos o homem Christopher Reeve, paizão de família, de espírito competitivo e inquieto, que mesmo com uma carreira em decadência não diminuiu seu ímpeto de atuar, até chegar ao trágico dia do acidente que tirou os seus movimentos.

Dali em diante vemos todos os passos de um homem que tem sua vida mudada em segundos, como a negação, os porquês de algo assim acontecer com ele, a esperança de voltar a se mexer novamente, a queda mental, onde mesmo com todo o apoio de uma família unida, a pessoa não quer mais viver numa condição dessa, e por fim, mais piegas e receita de bolo que pareça esses passos, conclui com a aceitação, que é a partir dali que Reeve resolve dar uma volta por cima.

Sem capa mas com sua cadeira de rodas, resolveu aproveitar sua fama e mostrar ao mundo que pessoas com deficiência tem  vez, que a luta pelos seus direitos é uma obrigação de todos e que viver, por mais difícil que seja, aceitamos se aquela condição é vida, é um presente único. E o apoio de sua esposa Dana em todos os momentos foi fundamental para que ele tivesse novamente essa vontade de viver. A importância dela na sua vida é imensurável e o filme mostra essa luta diária dos dois como mote dessa causa de dar novamente a Reeve razão de viver. Claro que o ator sempre alimentou seus desejos de voltar a andar, e com sua fama fez lobby com grandes políticos e cientistas na luta por tratamentos com células troncos e pesquisas mais amplas sobre a cura de paralisias.

O filme também conta com depoimentos de amigos famosos, como Susan Sarandon, Glenn Close e Whoopi Goldberg e mostra como a amizade dele com Robin Williams era fraterna, desde quando estudavam teatro em Nova Iorque. A família e seus três filhos e produtores também dão emocionantes depoimentos e imagens de arquivo da Warner encantam os espectadores, com  por trás das câmeras das produções de Superman de 1978. E a cena em que ele aparece publicamente pós acidente, no palco do Oscar de 1996, é algo arrepiante.

Mais um acerto do documentário é também falar que nem tudo eram flores na vida de Reeve. Desde o conturbado primeiro casamento, sua prepotência no auge da fama, os inúmeros fracassos, que nunca tiravam a estigma de que só tinha feito Superman (o que é uma mentira, ao menos para mim, fã de filmes menores do ator) e também críticas de grupos de pessoas com deficiência que viam a ânsia de Reeves de tentar uma cura para sua paralisa, quase que uma obsessão, e que se não fosse por ele (o que é óbvio), não se importariam com as milhares de pessoas com deficiência física do mundo. Quase que um cancelamento em uma era que não se falava nisso.Super/Man – A História de Christopher Reeve é um necessário relato de um homem que teve tudo na vida e numa fração de segundos passou a  enfrentar uma nova realidade, e mesmo sem seu corpo, lutou e enfrentou por nove anos com muita garra, força, afeto familiar e principalmente, um amor ao ato de viver, sendo um super heroi da vida real, e vivendo seu mais importante papel não como super homem, mas com um novo homem. Como ele mesmo dizia em narrações do depoimento: que antes queria fazer tudo, inventar atividades, velejar, praticar esportes, mas na sua atual condição viu que o que vale na vida são as relações do dia a dia, aproveitar as pessoas, ouvir, conversar com quem a gente ama, momentos que não tem preço e que realmente importam na nossa caminhada na Terra. Um filme de mexer com sentimentos, nos fazer rever conceitos e repetir em voz alta, mais uma vez citando Gonzaguinha, que a vida é bonita e é bonita!

Written By
Lauro Roth