Crítica – Predador – Terras Selvagens
Confesso que desde que o Predador enfrentou o Alien em 2004, passei a torcer pelo fim definitivo dele. A original criatura que surgiu no excelente filme de 1987 teve diversas continuações, algumas razoáveis, outras péssimas, os tais crossover com o alienígena rival e pra não dizer que não me diverti, a última tentativa, intitulada O Predador – A Caçada (2022), até que dá para o gasto. Com uma crítica positiva e boa resposta do público, o diretor do filme de 2022, Dan Trachtenberg, assumiu mais uma vez a boleia na nova aventura do monstro espacial com o filme Predador – Terras Selvagens (Predator – Badlands, 2025).
Dek é um guerreiro da raça Yautja que treina suas habilidades com seu irmão mais experiente. O pai deles não gosta das fraquezas de ambos, afinal eles são máquinas de matar, e acaba sacrificando o irmão de Dek para provocá-lo. O guerreiro, revoltado, promete ao pai que irá ao terrível planeta Genna para enfrentar a temida criatura Kaliski. Detalhe, a tal criatura dá medo até no seu clã, pois é considerada impossível de ser derrotada, mas Dek vai no peito, na raça e sem tecnologia para lá, onde acaba tendo que compartilhar sua saga com a androide Thia e uma criatura chamada Amiga. A dificuldade de compartilhar sentimentos e pedir ajuda é um obstáculo a mais para Dek, que além de enfrentar o planeta Genna e seus inúmeros perigos, tem que lidar com uma equipe do seu lado.

O roteiro do próprio Dan e de Patrick Aison, pela primeira vez na série, apresenta sentimentos na personalidade da criatura. Se nos filmes anteriores, ele era apenas uma máquina de matar (ainda continua), aqui ao menos vemos através de uma introdução, como se formam os tais predadores e como são as cobranças das hierarquias dos clãs. Vemos que mais que apenas agrupamentos de Yautja, eles têm um núcleo familiar e uma severa disciplina que move os desafios e o futuro da existência deles. Mas também não vamos exagerar, por mais que surpreenda, não vemos uma profunda construção do personagem e Dek é apenas movido pelos seus objetivos, com muita sede de vingança e busca de aprovação do seu clã.

Mas a grande reviravolta na sua vida é que pela primeira vez tem que aceitar a ajuda de estranhos na sua empreitada. E aí entra a presença de Thia, a androide interpretada por Elle Fanning. Mesmo que passe o filme todo meio que pela metade, afinal a robô humanoide sintética perdeu da cintura para baixo do corpo, ela serve como bússola, conselheira e professora da criatura na jornada em busca do seu troféu principal. Um alívio cômico ao filme. Já a adição de uma criatura que eles dão o nome de Amiga é dispensável, quase que uma suavização na história para o padrão Disney de ser, além de a presença de dois aliados e o surgimento de um improvável clã familiar entre eles na jornada pessoal do heroi, ser uma descarada referência à saga Star Wars.
Mas o Predador veio aqui para ser apenas um bonzinho sentimental? Claro que não. O filme tem ação frenética, duelos com quatro minutos de trama, lutas corpo a corpo bem coreografadas, androides e criaturas esquisitas empilhadas mortas uma a uma e ótimos efeitos visuais, desde a selva do planeta Genna até as criaturas pouco amistosas que passam pelo seu caminho. Mas são os efeitos sonoros impactantes com detalhes como a respiração característica do feioso, até as pancadarias barulhentas e intensas que quase acertam em cheio o nosso estômago, graças ao incrível trabalho de edição de som. Ou seja, por mais domesticada que a criatura esteja ficando, ainda tem sede de violência e passa o rodo em tudo que vê pela frente em busca de sua cobiçada caça.

Dan Trachtenberg nos faz virarmos time Predador pela primeira vez na franquia dos filmes. Dek, em sua jornada de heroi, faz a gente vibrar com sua espinhosa saga. E tudo isso sem rodeios, com um roteiro na média, ritmo intenso, explicações convincentes e humor na hora certa. E mesmo dando uma certa humanidade para o alienígena, ele não perde a essência que o transformou em um ícone pop do cinema sci-fi. A sua incrível máquina de combate e de morte continua bem calibrada e serve como combustível suficiente para ressuscitar de vez a franquia.
