Close
CRÍTICAS

Crítica – Os Roses – Até que a Morte os Separe

Crítica – Os Roses – Até que a Morte os Separe
  • Publishedagosto 26, 2025

Há 36 anos, Danny DeVito fez o casal de amigos Kathleen Turner e Michael Douglas se engalfinharem  numa trágica guerra para se separarem no filme A Guerra do Roses (The War of the Roses, 1989). Na época, muita gente entendia o filme como uma continuação de Tudo por uma Esmeralda e A Joia do Nilo, que os atores protagonizaram na década de 1980, mas esse filme era um projeto à parte de Danny, em que adapta o best-seller The War of the Roses, de Warren Adler, lançado em 1981. Em 2025, o diretor Jay Roach resolveu fazer sua adaptação da tal batalha do casal, levando um casal inglês para a América para começar a sua guerra particular no filme Os Roses – Até que a Morte os Separe (The Roses, 2025), uma das boas estreias dos cinemas desta semana.

O filme conta a história dos britânicos Theo e Ivy Rose. Desde quando os dois, na Inglaterra, se conheceram. Ele, um arquiteto em ascensão, e ela, uma chef de cozinha descompromissada. Um dia, Ivy resolve se mudar para os Estados Unidos, e Theo vai junto, onde se casam e têm filhos. Um projeto audacioso de Theo, literalmente, vai pelos ares e sua carreira começa a naufragar. Ao mesmo tempo, Ivy, que tinha um restaurante litorâneo simples, começa a fazer um sucesso incrível, abrindo franquias, acarretando louros para a chef. Theo não absorve muito bem seu fracasso profissional e a nova realidade de dono de casa, criando certa inveja de Ivy. E os dois então começam com pequenas brigas que descambam para uma violenta e cômica relação, tendo a casa do casal, projeto e xodó de Theo, como cenário para uma verdadeira guerra entre o que foi um dia o feliz casal.

Os Roses – Até que a Morte os Separe cumpre o que promete: uma comédia com muito humor ácido, com sotaque e ironia britânicos. Como os relacionamentos com uma fachada às vezes perfeita são na verdade poços de ressentimento, inveja e longe da perfeição de quem observa. O roteiro adaptado, de Tony McNamara, do livro de Adler, costura de uma forma eficiente todo esse processo do início de um relacionamento, onde tudo são rosas para a panela de pressão pifada pronta para explodir a qualquer momento, que é quando o encanto se acaba e o respeito vai pras cucuias. Levar dois britânicos para os Estados Unidos fez uma diferença e tanto para o tom do humor no filme. Os dois protagonistas com aquele humor característico da Terra do Rei, passam o filme inteiro se provocando de maneira elegante, com uma sutil ironia, que faz o filme se tornar um embate classudo de primeira, quase que em clima teatral. Diálogos certeiros, piadas que soam como uma tapa na cara e discussões acaloradas conforme a corda vai arrebentando, do nível que um vai suportando o outro, são costurados sutilmente até o clímax final. 

No fundo, o diretor Jay Roach consegue conduzir tão bem a trama, não passando pano para nenhum dos dois personagens, que acabamos não torcendo para nenhum lado, eu por exemplo, fiquei do lado da casa, alvo da cobiça dos dois, quanto o cenário das loucuras e insanidades do casal.

Mas o que realmente leva o filme e nos faz cativar é o casal de protagonistas. Olivia Colman prova que é uma da mais brilhantes atrizes atuais e como a chef de cozinha Ivy, ao mesmo tempo uma simpática e bem humorada mulher, que levava de boa viver na sombra do marido, mas que a guinada na sua vida profissional provoca uma mudança na sua cabeça, se tornando cada vez mais poderosa e arrogante. Já Benedict Cumberbatch, com mais uma ótima atuação, vai de um arrogante arquiteto sempre na crista, que mesmo depois da sua tragédia profissional não sai do pedestal, aumentando cada vez mais a tensão nos embates entre Ivy e ele. Dos coadjuvantes, quem se destaca nesse duelo de titãs dos dois protagonistas é Kate McKinnon, como Amy, a sonhadora e metida à sedutora, amiga americana, que mesmo repetitiva nas piadas, diverte quando surge em cena. Talvez o que fez falta em comparação ao filme de 1989 seria um um advogado do nível de Danny DeVito, no caso aqui, o advogado é o marido paspalho de Amy, interpretado por Andy Samberg, que por mais que tente, não chega aos pés do carisma de Danny.

Sou daqueles que não sou tão fã do filme de 1989, inclusive da parceria dos três, Douglas, Turner e DeVitto, considero A Guerra dos Roses o mais fraco. Mas a batalha campal do casal do livro de Adler é muito boa e a nova adaptação para o cinema traz um frescor mais atual à história. Com um embate genial entre dois atores, um roteiro caprichado e com doses eficientes de humor inteligente, tudo isso com aquele sotaque inglês dos dois, que dá um charme à parte à guerra de Ivy e Theo, não perdendo o humor característico e o nonsense delicioso da trama. Uma comédia das boas em um escasso cenário de produções do gênero, já que fazer rir hoje em dia não parece ser pauta das produções atuais.

Written By
Lauro Roth